dezembro 06, 2025

A EMPATIA DO MAÇOM - Newton João dos Santos Sobral Jr.



A Maçonaria nos convida a enxergar um mundo ideal — não aquele que construímos de forma egoísta, centrado apenas nas nossas necessidades individuais, mas um mundo onde todos os seres convivem em harmonia, em irmandade e em respeito mútuo. Nesse mundo, não estamos sós. Ninguém caminha verdadeiramente sozinho, ninguém é totalmente autossuficiente, ninguém possui todas as virtudes ou habilidades necessárias para a jornada. Precisamos uns dos outros.

Cada um de nós carrega fragilidades e carências, da mesma forma que possui talentos e virtudes que faltam em outros. É justamente nessa troca silenciosa, nesse completar-se mútuo, que a verdadeira essência da Ordem se manifesta. Contudo, muitos ainda não compreendem essa verdade simples e profunda. Há irmãos que, tomados pela vaidade ou por uma percepção equivocada de si mesmos, acreditam que nada lhes falta, que tudo podem, que bastam somente a si mesmos.

Mas a empatia — esse atributo essencial do Maçom — lembra-nos que o outro também importa. Afinal, se eu não me preocupo com meu irmão, por que ele deveria se preocupar comigo? Sou eu, por acaso, mais merecedor que ele? Minha presença mais antiga na Loja, meu cargo ou meu grau me tornam superior ou mais digno de atenção? Jamais. Essa é a ilusão do maçom imaturo: acreditar que merece tudo porque aparece demais, porque fala demais, porque se exibe demais.

O verdadeiro caminho é outro. É olhar para dentro, reconhecer nossas imperfeições, compreender nossas limitações e, a partir disso, estender a mão ao irmão que segue ao nosso lado. Devemos ser mais atentos a nós enquanto irmandade, mais comprometidos enquanto família, mais conscientes enquanto filhos de uma tradição acolhedora, que nos guia pacientemente na senda da luz, pedindo apenas respeito à sua história e à sua missão.

Sejamos, portanto, mais maçons e menos profanos — na atitude, no coração, no espírito. Sejamos mais virtuosos e menos escravos de prazeres efêmeros. Que a vaidade não obscureça nossa visão, nem a arrogância roube de nós a capacidade de sentir.

Porque, no fim, a Maçonaria nada exige de extraordinário. Ela apenas pede que sejamos, a cada dia, mais dignos aos olhos dos homens de bem. Mais fraternos. Mais justos. Mais humanos. Mais empáticos.

E que assim, construindo uns aos outros, possamos juntos construir um mundo melhor.



A BUSCA DO DIVINO E A MAÇONARIA - Walter Teixeira




Somos concebidos, nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. 

Para onde vamos?

Talvez esta seja a pergunta que tanto nos angustia e onde estejam incutidas todas as nossas dúvidas e medos.

Consequentemente, acabamos tendo uma imperiosa necessidade de acreditarmos que há uma razão especial para estarmos vivos e que em algum momento, teremos que prestar contas dos nossos actos. 

Haveria então, uma “necessidade” de Deus? 

Seria esta “necessidade” transmitida geneticamente ou apenas cultivada culturalmente?

A Filosofia permite que cada um de nós tenha o seu entendimento do mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens.

No entanto, a verdade é que vivemos sim, desde cedo, sob uma ameaça latente em determinadas concepções. 

Tudo o que fizermos, para o bem ou para o mal, dar-nos-á recompensas ou castigos. 

Estaríamos assim, à mercê de um ser superior, omnipresente, omnipotente e omnisciente, julgador, nem sempre muito paciente, nem muito compreensivo; por vezes, mesmo, mal-humorado para com as nossas falhas, enviando-nos pragas e castigos quando o seu julgamento não nos favoreça. 

Poderíamos ser destinados a vagar por toda a eternidade num local mais quente do que o suportável, sob os olhares prazerosos de criaturas nada agradáveis que, ademais, ainda nos castigariam com os seus tridentes pontiagudos.

Por que, frente a tão terríveis presságios, o ser humano que é dotado de diferenciais importantes na escala zoológica, ainda se comporta de forma a causar inveja a qualquer outro animal-fera existente na face da terra?

Será que os seres humanos descobriram como diz o personagem de Nietzsche em “Assim Falava Zaratustra”, que Deus, este Ser superior, morreu?

Acontecimentos não faltam para mostrar que, na ausência de comando efectivo em convencimento, as feras internas se soltam na certeza da impunidad

Mas, teria Deus morrido? 

Para quem Ele morreu afinal? 

Pois, cada vez mais se faz em seu nome sequestros, guerras, atrocidades, negócios e muitas outras ações não muito ligadas à ética, ao amor, à solidariedade, às orações.

Onde estaria Deus no meio de tantas injustiças que nos atinge a todos, independente das nossas concepções, no dia a dia da nossa curta existência?

Podemos por outro lado, apenas acreditar que como ensina o Budismo, o sofrimento é omnipresente em toda a natureza e vida humana. 

Existir já significa que nos vamos encontrar com o sofrimento. 

O nascimento é doloroso, assim como a morte. 

As doenças e a velhice são dolorosas. 

Ao longo da vida, todas as coisas vivas encontram sofrimento.

Não teríamos, pois, o direito à alegria, à felicidade?

Alongando-me neste conceito budista, aqui não se encaixa um Deus personalista. 

Em geral, os budistas são panteístas na sua perspectiva de Deus.

Panteísmo diz respeito a uma doutrina filosófica caracterizada por uma extrema aproximação ou identificação total entre Deus e o universo, concebidos como realidades diretamente conexas ou como uma única realidade integrada. 

É um antagonismo ao tradicional postulado teológico segundo o qual a divindade transcende absolutamente a realidade material e a condição humana.

Que poderíamos dizer e pensar acerca das inúmeras interpretações que se tem nas diferentes formas de sentir e crer em Deus? 

E os conceitos de Deus no Judaísmo, no Islamismo, no Hinduísmo? 

E as contraposições filosóficas entre deísmo e teísmo?

Conceito, dizem os dicionários, é uma faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; é mente, espírito, pensamento, compreensão que alguém tem de uma palavra, de uma acção; é noção, concepção, ideia, opinião, ponto de vista, convicção. 

É a noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma classe de seres, objetos ou entidades abstratas

Conceituar, pois, Deus na Maçonaria, seria no meu entender, cair em mais uma cilada.

Deus não é um conceito. 

Deus é busca, sentimento, caminho, propósito, escopo, finalidade, alvo. 

Nós, maçons, apenas o denominamos de forma diferente, como o “Grande Arquiteto do Universo”.

Quando Philibert Delorme, falando de Deus no seu tratado de arquitetura, usou em 1567, possivelmente de forma pioneira, a expressão *“esse grande Arquiteto do Universo, Deus Todo-Poderoso”*, estava incutindo um conceito: o de Deus como um grande ordenador e planeador do Universo. 

Ou seja, nada fugiria dos seus desígnios, da sua vontade, da sua determinação.

Arrisco-me a dizer que este não é um conceito próprio do que quer nos ensinar a Maçonaria.

Deus é razão, e como tal ilumina os nossos caminhos concedendo-nos a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar. 

Concede-nos a inteligência, ou seja, a faculdade intelectual e linguística que nos distingue, para modificarmos a natureza e fazermos as nossas escolhas.

Se Ele nos distingue com tamanhos privilégios, temos a obrigação, o compromisso, o dever de saber bem usá-los.

Usá-los na busca do aperfeiçoamento individual e coltivo; no sentimento de amor e compreensão que devemos ter para com todos os demais seres vivos; na visão de um caminho de sofrimentos, porém, também de alegrias. 

No propósito de honrarmos, respeitarmos e aceitarmos todos os conceitos humanos que Dele se possa ter, com a finalidade de obtermos não a sua graça, mas, o seu respeito, e mesmo, por que não, a sua admiração; enfim, como um alvo, tentando nos aproximarmos da sua grandeza.

Na verdade, Ele nunca se definiu. 

Nós é que temos esta necessidade incompreensível de tentar defini-lo.

É mister que entendamos que para a Maçonaria, Deus não é castigo e apesar da denominação “Grande Arquiteto”, não planeia as coisas impedindo as nossas escolhas. 

Dá-nos sim, o livre arbítrio.

As nossas escolhas não serão julgadas, elogiadas ou castigadas com o céu ou o inferno. 

As nossas escolhas representarão dualidades contrastantes do piso mosaico  como enobrecimento ou embrutecimento das nossas almas. 

O bem ou o mal para os nossos semelhantes e demais criaturas vivas; o conhecimento ou a ignorância, a luz ou a escuridão, alegria ou infelicidade.

Todo o ensinamento maçónico está envolvido nestes conceitos: *mente e razão*.

*Mente* como conceito de processos cognitivos e atividades psicológicas, inteligentes e sensíveis do ser humano. 

*Razão*, como pensamento moral, na sua função orientadora da conduta humana, prevendo as consequências e avaliando, com absoluta autonomia, o significado das nossas acções, com base na nossa capacidade lógica de discernir entre o verdadeiro e o falso, o bem e o mal.

Na minha visão, conseguir visualizar, idealizar, conceber, estar convicto e partilhar destes conceitos, independentemente de crenças e práticas pessoais, representa orar a melhor das orações: a da bondade, da virtude, da honra, da dignidade, do compartilhamento, da solidariedade, do sentimento humanitário, da honestidade e do amor.

É, enfim, seguir em busca da mais sublime concepção de DEUS!



dezembro 05, 2025

JONAS SALK, O HOMEM QUE DEU O SOL À HUMANIDADE




O verão de 1952 foi o verão em que os pais desaprenderam a respirar.

Naquele ano, cerca de 57 mil crianças americanas contraíram poliomielite.

Os parques silenciaram.

As piscinas esvaziaram.

Os cinemas apagaram suas luzes por falta de público.

Dentro de casa, janelas fechadas, mães e pais tentavam erguer muralhas invisíveis contra um inimigo que chegava sem avisar — e que podia transformar um corpo infantil em um campo de batalha contra si mesmo.

Nos hospitais, fileiras de pulmões de aço compunham uma música mecânica e assombrosa.

Cilindros metálicos respiravam por crianças que já não conseguiam fazê-lo por conta própria.

Algumas sairiam dali.

Outras jamais deixariam aquela cápsula.

E enquanto o país inteiro prendia o fôlego, em um laboratório subterrâneo em Pittsburgh, Jonas Salk corria contra o tempo — e contra a morte.

Filho de imigrantes judeus russos, criado em um bairro modesto do Bronx, Salk cresceu ouvindo da mãe uma frase que moldaria sua vida:

“Você deve parecer que pertence, mesmo quando disserem que não.”

Ele foi o primeiro da família a entrar na universidade. Escolheu a ciência em vez da clínica.

“Por quê?”, perguntou a mãe.

“Porque não quero ajudar um paciente de cada vez”, respondeu.

“Quero ajudar milhões.”

Em 1952, Salk ousou propor o impossível: uma vacina feita com o vírus morto.

Colegas desconfiavam. Alguns o chamavam de imprudente.

Mas Salk havia percebido um detalhe decisivo:

as crianças que sobreviveram à pólio jamais adoeciam de novo.

O corpo se lembrava do inimigo.

Se pudesse ensinar essa memória ao sistema imunológico — sem o risco da doença — talvez pudesse mudar o mundo.

A teoria precisava de coragem.

E coragem, às vezes, veste o rosto da loucura.

Em 2 de julho de 1953, Salk tomou uma decisão que hoje seria impensável:

injetou a si mesmo com sua vacina experimental.

Depois, à esposa, Donna.

Depois, aos filhos — Peter, de 9 anos; Darrell, de 6; Jonathan, de 3.

Colegas murmuravam pelos corredores:

“Louco.”

“Gênio.”

“Ou os dois.”

Por semanas, ele observou seus filhos com o coração apertado.

Nenhuma febre. Nenhum sinal.

Apenas anticorpos.

Funcionara.

Mas três crianças eram uma gota num oceano.

Era preciso testar milhares.

E assim, em 26 de abril de 1954, na Escola Franklin Sherman, Virgínia, o pequeno Randy Kerr, 6 anos, arregaçou a manga e se tornou o primeiro voluntário do maior estudo médico da história.

Depois dele, vieram 1,8 milhão de crianças — os “Polio Pioneers”, orgulhosos de seus distintivos.

Os pais assinavam formulários com mãos trêmulas. Igrejas faziam vigílias.

Um país inteiro esperava.

Salk, exausto, emagrecido, dormindo pouco, vivia atormentado:

E se tivesse cometido um erro irreparável?

Cada febre em qualquer criança do estudo parecia um golpe na sua consciência.

Então, 12 de abril de 1955 — exatamente dez anos após a morte de Franklin D. Roosevelt — os resultados foram anunciados:

“Seguro. Eficaz. Potente.”

O auditório explodiu.

Sinos tocaram em várias cidades.

Lojas fecharam espontaneamente.

Pais choraram abraçados aos filhos.

Horas depois, perguntaram a Salk quem detinha a patente.

Ele respondeu:

“O povo, eu diria. Sem patente. Como se pode patentear o sol?”

E com essa frase, ele abriu mão de uma fortuna incalculável — e entregou ao mundo sua arma contra o terror.

O efeito foi imediato:

– Em 1961, os casos caíram mais de 90%.

– Em 1979, a poliomielite foi eliminada nos EUA.

– Em 2023, persistia apenas em dois países.

– Cerca de 18 milhões de pessoas que teriam ficado paralisadas podem caminhar hoje.

– Centenas de milhares de vidas foram salvas.

Salk nunca recebeu o Prêmio Nobel.

Mas recebeu algo que poucos ganham:

a visão de crianças correndo por parques onde antes só havia medo.

Quando perguntado o que queria escrito em sua lápide, respondeu:

“Preferia que ela ficasse em um parque. Onde brincam as crianças que não pegaram poliomielite. Isso é suficiente.”

E assim, em um depósito em Atlanta, repousa hoje um dos últimos pulmões de aço — relíquia de um inimigo vencido.

Vencido porque um homem decidiu arriscar tudo — até a própria família — para proteger milhões de outras.

Ele poderia ter sido o cientista mais rico da história.

Preferiu ser algo infinitamente mais raro:

indispensável.

Da próxima vez que alguém disser que uma única pessoa não muda o mundo, conte sobre o verão de 1952, quando o medo encheu o ar…

e sobre Jonas Salk, o homem que decidiu dar o sol à humanidade.


---Fonte: Facebook 

E “A GENTE?” - Heitor Rodrigues Freire

 


Navegando ainda no campo da gramática, recebi uma sugestão do professor Renato Brito sobre um tema que tem merecido minha atenção, tendo em vista a maneira como vem sendo praticado: o uso corrente da expressão “a gente”.

É o termo que mais se ouve em qualquer discurso moderno. É a gente pra cá, a gente pra lá, a gente faz, etc. 

O professor escreveu: “Creio ser pertinente lembrarmos do termo: ‘a gente’, que, de origem latina, ‘gens’, ‘gentis’ – povo, raça, grupo, um substantivo muito utilizado na idade média em Portugal –, começa a partir dos séculos XVII e XVIII aqui em terras brasileiras a deixar de ser um termo substantivado para ousar status de pronome pessoal, funcionando como primeira pessoa do plural, através do fenômeno linguístico da gramaticalização, o mesmo fenômeno que abraçou o vocábulo ‘você’.

Qual é o ponto? Reforçar o sentido do seu texto que trata entre outras coisas, da relação de poder, hierarquia e submissão na sociedade e o reflexo disso no idioma português. Se de um lado temos ‘você’ a denotar respeito, formalidade e superioridade, por outro lado temos ‘a gente’, ou seja, toda gente, todos os que são inferiores e subalternos ao comando e, talvez, caprichos e vaidades mundanas de ‘você’, que está hierarquicamente acima.

De fato, a língua reflete a cultura social posta, afinal, a ‘última flor do Lácio’ em tempos pretéritos em Roma mostrava a diferença brutal do latim falado por Ovídio e Virgílio e o latim chamado ‘vulgar’, precariamente falado pela plebe nas ruas da ‘URBS AETERNA’”

Isso posto, penso que respeito é fundamental, e para isso não devemos levar nada para o lado pessoal, mantendo o bom nível. 

Falando em primeira pessoa – hoje o que mais se verifica é a expressão “a gente”, levando tudo para o impessoal –, da individualidade, passou-se, sem nenhum critério, para a coletividade, despersonalizando totalmente a fala. 

Apesar de sua impropriedade, é importante destacar que "a gente" é uma locução pronominal, composta pelo artigo definido singular "a" e o substantivo "gente". Apesar de se referir à primeira pessoa do plural (nós), a concordância verbal deve ser feita na terceira pessoa do singular. Por exemplo, o correto é "a gente vai", não "a gente vamos".

A proliferação desse termo no português brasileiro é um fenômeno sociolinguístico que reflete uma mudança na língua falada, na qual a locução pronominal tornou-se o substituto mais comum e informal do pronome pessoal "nós". 

Parece que o que se pretende é criar informalidade e coloquialidade: "a gente" é predominante em contextos informais e na fala cotidiana, enquanto "nós" é geralmente reservado para situações mais formais ou para a norma culta escrita. O seu uso indiscriminado reflete a identidade cultural e a diversidade linguística do Brasil, onde as variações da língua são comuns e influenciadas por fatores geográficos, sociais e temporais.

Penso que esse processo faz parte de uma tendência de simplificação ou mudança natural da língua ao longo do tempo. Pesquisas mostram que a forma "a gente" tem, cada vez mais, ocupado o lugar do pronome "nós" entre os falantes brasileiros.

A análise filosófica do uso crescente de "a gente" pode ser abordada através de várias lentes: filósofos como Ludwig Joseph Johann Wittgenstein, (1889-1951, pensador austríaco naturalizado britânico e um dos principais autores da virada linguística na filosofia do século XX) argumentavam que os problemas filosóficos muitas vezes surgem de mal-entendidos sobre como as palavras são usadas na vida cotidiana. A exemplo desse pensamento, a mudança de "nós" para "a gente" na linguagem ordinária sinaliza uma transformação no uso da língua que merece atenção filosófica, pois o uso da linguagem molda nossa percepção sobre o mundo. A análise focaria em como essa nova forma é usada para transmitir significado em contextos não filosóficos.

O uso de "a gente" pode indicar uma mudança na percepção da identidade coletiva. Enquanto "nós" denota um grupo específico e muitas vezes exige uma concordância mais direta e pessoal; "a gente" pode sugerir uma forma mais genérica, menos definida ou mais fluida de pertencimento a um grupo. Isso levanta questões sobre a natureza da comunidade moderna: estamos nos tornando mais homogêneos, ou a linguagem reflete uma nova forma de solidariedade menos formal?

Em suma, a proliferação de "a gente" é mais do que uma simples mudança gramatical; é um fenômeno linguístico que convida à reflexão filosófica sobre a relação entre o eu e o outro, a natureza da vida em sociedade e a forma como a linguagem captura (ou distorce) a realidade da experiência humana na contemporaneidade, e também é um exemplo claro  de como a língua evolui e se adapta ao uso cotidiano de seus falantes, com a linguagem informal ganhando espaço significativo na comunicação oral no Brasil. 

Apesar de toda essa argumentação a favor, entendo que o uso indiscriminado desse termo contribui para o empobrecimento da língua. Não se trata de purismo, mas de constatação verdadeira, porque a substituição do pronome “nós” enseja à forma como as pessoas vivem a maior parte de suas vidas em um estado de impessoalidade e conformidade, fazendo o que "se faz", pensando o que "se pensa". A popularização do termo "a gente" pode ser vista como uma manifestação linguística dessa existência inautêntica e massificada, onde a responsabilidade individual se dilui na coletividade anônima.

Enfim, assim caminha a humanidade. Sigamos.


dezembro 04, 2025

AOS MAÇONS MALEMOLENTES - Roberto Ribeiro Reis

 


 

Quero trazer à baila, entrementes,

Dos Maçons uma triste condição,

Que embora isolada, é má ação,

Quando esses são malemolentes.

 

A moleza e ausência de disposição

São mazelas e assolam excedentes;

Há irmãos que, dos trabalhos carentes,

Prejudicam a boa fama da Instituição.

 

Maçonaria é labor, incansável ação,

Sem espaço algum aos incoerentes;

Não usam ferramentas e, descrentes,

Parecem viver no mundo da lassidão.

 

Essa apatia já lhes virou escravidão,

Têm maus hábitos, e são indolentes;

Do desinteresse eles são recorrentes,

Sua fadiga lhes promove a solidão.

 

Que a Força da Ordem possa então

Dar ânimo e vontade a tais Obreiros;

Que eles se tornem bons Oficineiros,

Deixando o vil ócio rumo ao clarão!

 

 

A MARCA DO MAÇOM - Alfério di Giaimo Neto




Hoje, se fizermos uma viagem à Escócia, Inglaterra, Irlanda, alguns países da Europa e visitarmos suas belíssimas e imponentes catedrais, abadias e monastérios, citando como exemplos a Salisbury Cathedral, York Minster, Westminster Abbey, a Capela Roslyn e Melrose Abbey, podemos verificar que as pedras que as compõem, tem marcas esculpidas em forma de riscos e pontos, e nós a chamamos de “Marcas do Maçom” (Mason´s Marks) 

Estas antigas Marcas do Masom ajuda-nos a traçar a história da Maçonaria dos seus tempos de Operativa até o presente momento, quando são usadas num sentido simbólico no primeiro Grau Capitular do Rito de York

Pondo de lado as lendas das Antigas Constituições Góticas perpetuadas alguns hoje em dia, os quais pretendem dar sentido ao fato da Maçonaria se originar na construção do Templo do Rei Salomão, ou após o dilúvio do tempo de Noé, sabemos atualmente que  nossa moderna Maçonaria é fruto daqueles Maçons Operativos da idade média, os reais construtores daqueles ornados e belos exemplos da escola gótica de arquitetura, insuperáveis na arte de construir.

Pequena atenção foi dada para esses entalhes até 1841, quando um pesquisador britânico de arqueologia, publicou um artigo em seus estudos. Estudiosos maçônicos tiveram um interesse no tema, e perceberam a conexão formada entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa.

É surpreendente como tanto tempo uma coisa permanece desconhecida até seu primeiro descobrimento. Quando essas de marcas de Maçons foram mostradas para um velho padre, ele retrucou “eu tenho andado através desta igreja quatro vezes ao dia, vinte vezes por semana e nunca reparei em nenhuma delas. Agora eu não posso olhar para qualquer lugar, que elas flutuam nos meus olhos”.

A marca do Maçom Operativo foi usada com propósito puramente pratico. Durante o período quando muitas catedrais, abadias e monastérios foram construídos, eram poucos os que sabiam ler ou escrever. Quando se tornava um Companheiro ou Oficial, cada Aprendiz Maçom selecionava sua marca ou desenho, a qual era para toda a sua vida, e não era nunca mudada. A marca servia, então, como uma assinatura. Ele a marcava em cada pedra preparada, de tal modo que poderia receber crédito e salário pelo seu trabalho, e ele se mantinha responsável pela qualidade e pela adequada execução de seu serviço. A marca do Maçom tinha um objetivo similar a um negócio onde se tinha a assinatura pela qualidade do serviço.

Sabemos que durante a idade média, a Igreja Católica Romana dominou todas as demais religiões na Europa e nas Ilhas Britânicas, e que a maioria dos trabalhos feitos pelos Maçons Operativos daqueles dias foi a construção de catedrais, abadias e monastérios para tal Igreja. Entretanto, com a vinda do Protestantismo, na revolução religiosa em 1517, a Igreja Católica Romana perdeu muito de seu poder temporal e influencia e os trabalhos nas construções religiosas, caíram acentuadamente. Os Maçons Operativos acharam-se frente a um desemprego crescente. Poucos Aprendizes eram aceitos para aprender a Arte Real, e o trabalho para os Maçons remanescentes era largamente limitado à construções militares e trabalhos de reparo que requeriam menores habilidades.

Esse período de declínio operativo era o começo de uma gradual mudança de uma agremiação de construtores, para uma fraternidade moral e filosófica, a qual hoje nos chamamos de “Maçonaria Especulativa”.

Retornando nossa atenção para as marcas do Maçom, foi achado, alguns anos atrás, uma referencia num livro alemão, de 1462, e nele estava anotado que, quando um Aprendiz se tornava um “oficial” (equivalente ao Companheiro), o Maçom “tomava a sua marca numa festa solene de admissão”. Mais tarde na Escócia, em 1598, o então chamado “Schaw Statutes” foi colocado em efeito. Era uma série de regras governando o negocio dos Maçons Operativos e foi emitido por William Schaw, Mestre de Trabalho (artífice) do rei James VI da Escócia. Citam, de modo sumário que “... quando se tornavam Companheiros ou Mestres, seus nomes e marcas deviam ser devidamente registrados no livro adequado para tal fim...”  O Companheiro era um oficial (artesão, artífice), totalmente qualificado para fazer trabalhos de pedreiro, e o Mestre era o contratante (empreiteiro) de Companheiros, e que podia trazer Aprendizes para treinamento.

Em 1634 aconteceu um evento que afetou profundamente o futuro da Ordem. A Ata da Loja Escocesa de Edinburgh (Mary´s Chapel), em 01 de Julho de 1634, registra que Lord Alexander; Sir Anthony Alexander e Sir  Strachan foram admitidos como membros da Loja e não eram Maçons Operativos.. Este é o mais antigo registro de admissão de não operativos em uma Loja da Escócia ou Inglaterra, e transformou-se na cunha de abertura na transição da Maçonaria Operativa em Especulativa.

Atas mais antigas dessa Loja, de julho de 1599, e mostram a marca do Maçom usada em conjunção com a assinatura de um dos membros presentes. No ano seguinte, muitas marcas aparecem nas Atas, muitas vezes desacompanhadas da assinatura. Atas de outras Lojas Escocesas também mostram o uso da marca, incontestavelmente de acordo com o requerido nos Estatutos Schaw.

Depois da admissão dos três Maçons não-operativos mencionados acima, tal pratica se espalhou rapidamente. No período de declínio dos operativos, mais e mais não-operativos vinham a ser aceitos como membros na maioria das Lojas, e a característica da Maçonaria sofreu uma mudança crescente e rápida. Em 1670, por exemplo, a Loja de Aberdeen mostra Atas assinadas por 49 membros, dos quais três quartos eram não-operativos. Notável era o fato de que entre esses últimos, dois tinham marcas, indicando que a pratica da escolha de marca não era restrito somente aos operativos.

Durante este período quando atividades eram bem documentadas na Escócia, registros ingleses eram mais ou menos raros, relativos aceitação de não-operativos, e não fazem nenhuma referencia deles no uso da marca de Maçom. Essa escassez de registros dificulta fazer mais do que uma leve suposição na cadeia de eventos, os quais precederam o mais importante de todos, que foi a formação da primeira Grande Loja por quatro Lojas em 1717, geralmente aceita como a linha histórica divisória entre a Maçonaria Operativa e Especulativa. Isso estabeleceu a base do padrão organizacional da Maçonaria regular, em todo o mundo. A Irlanda seguiu o exemplo, formando sua própria Grande Loja em 1725, e a Escócia, igualmente em 1736.

A parte ritualística desempenhava função relativamente pequena na Maçonaria Operativa, mas com a transição para Especulativa, se desenvolveu e expandiu, e logo se tornou importante. Entretanto, a primeira indicação sobre a marca do Maçom em uma cerimônia foi em 01 de setembro de 1769, nas Atas do Phoenix Royal Arch Chapter of Plymouth, Inglaterra, onde se relata que seis membros foram feitos “Maçons da Marca e Mestre Maçom da Marca” e cada um “escolheu sua marca”. 

O desenvolvimento do Grau Mestre Maçom da Marca até o a condição atual é uma historia interessante. Por várias vezes ele foi conferido em Lojas Simbólicas, no Rito Escocês, ou nos Capítulos do Real Arco, ou nas Lojas Independentes da Marca. Na América o Grau foi gradualmente absorvido pelo Real Arco antes do século XIX.

Apesar do ritual variar um pouco em diferentes locais, eles são basicamente semelhantes. Com o desenvolvimento do Ritual do Grau do Maçom da Marca, houve uma conversão para a lenda da função da Pedra da Abóbada (Pedra Fundamental) e para o tema da construção do Templo do Rei Salomão.

O grau da Marca é agora um requisito para candidatos para o Grau do Real Arco nos Estados Unidos, Irlanda e Escócia. A Grande Loja Unida da Inglaterra, no começo, reconheceu o Grau de Marca como uma “digna adição para o Grau de Companheiro”, mas logo reverteu sua decisão, o que permitiu, em 1856, a formação da “Grande Loja de Mestre Maçons da Marca da Inglaterra, Wales e Domínios e Dependências da Coroa Britânica” a qual tem hoje em torno de 1200 Lojas de Marca sob sua jurisdição.

Nosso Ritual para o terceiro grau na Loja Simbólica é claramente baseada nas praticas dos Maçons Operativos, com simbolismo baseado nas ferramentas de trabalho, pedras de cantaria esquadrejada, lições de arquitetura e muitas outras. Por que a marca do Maçom, uma pratica operativa de tempos imemoriais é omitida em favor de outras coisas como a Ancora, a Arca de Noé, a Colméia, etc, é difícil de entender.

Nossa marca de Maçom é o equivalente Maçônico de nossa assinatura. Ela representa nosso nome, nosso caráter, nossa integridade e nossas habilidades. Quando nós assinamos nosso nome ou aplicamos nossa Marca em um documento, numa carta, num quadro, ou numa pedra para a construção de uma catedral nós nos levantamos para sermos considerados. Por ela nos podemos efetivamente dizer “esta é a minha posição, este é o meu trabalho, eu garanto sua qualidade, e estou orgulhoso da obra que ela mostra”.

Parece ser da natureza humana, querer deixar algum tipo de registro para as gerações futuras saberem o que se passou em nossos dias. Nós algumas vezes ouvimos dizer de uma pessoa que “ele deixou sua marca”, significando que ela deixou uma impressão favorável em algum campo da sociedade, tornando-se notável. Nem todos podem se tornar expressões máximas da sociedade, mas podemos contribuir na construção de um mundo melhor. Os antigos Maçons Operativos deixando sua marca nas pedras das grandes catedrais revelam que “ tomei parte na construção dessa belíssima casa de Deus”.

Se formos os melhores cidadãos, melhores maridos, melhores pais, nós podemos deixar nossa marca na sociedade, melhorando-a, melhorando nossos amigos e vizinhos e melhorando a nós mesmos. Vamos deixar nossa marca, fazendo o melhor que pudermos em nosso trabalho, em nossa família, e, principalmente na Fraternidade Maçônica.


Bibliografia: The Masonic Service Associations of United States

Wallace M. Gage, PM  -  The Maine Lodge of Research

VOCÊ OU SENHOR - Sidnei Godinho




Minha neta, Sofia, já tem 8 anos e entrou na fase das respostas impensadas e dos questionamentos.

Além, é óbvio, das birras constantes.

Faz parte..

Mas o que me chama a atenção nesta pré-adolescência é a literal reticência ao ser admoestada nas causas conceituais do trato com os mais velhos.

A todo momento ela se refere aos avós por "Você" e eu imediatamente interrompo e pergunto sua idade e a minha.

Ela responde 8 anos e "Muitos" anos. 😀

Então reforço que qualquer adulto com muitos anos deve ser chamado de Senhor ou Senhora.

Contudo é perceptível a reatividade que se expressa em desvio de olhar, por vezes silêncio e por vezes mudar o assunto.

Só que o vovô insiste até que refaça a fala com o tratamento adequado.

Interessante é questionar de onde vem essa naturalidade no uso do pronome e, principalmente, qual seria o valor incutido que se deseja transmitir. 🤔

Meus avós me cobravam a "Bênça" não que quisessem demonstrar poder, mas simplesmente porquê desejavam "Abençoar" os netos ao responder : DEUS TE ABENÇOE!

Meus pais me ensinaram que qualquer pessoa mais vivida é um Senhor (a) e é respeitoso reconhecê-lo como tal.

Lembro que, militar que sou, certa feita chamei um Sub-Oficial de senhor, ao que me respondeu que não deveria fazê-lo porquê eu era capitão.

Respondi que se meu pai me ouvisse tratá-lo por você, iria me repreender na hora, não importando se eu fosse o Presidente da República. 😁

A hierarquia é do quartel, mas a educação é de casa. 

Penso que não se trata apenas de uma questão de pronome e sim de princípios.

Ninguém é menosprezado por ser VOCÊ, mas todos são Respeitados por serem SENHOR (es).

A geração atual considera que não é nada demais, que não afeta a relação.

Então por quê mudar?

A Sofia certamente é influenciada pela mídia e por esta dita revolução pedagógica onde tratar o professor por Você traz intimidade, no contraponto da afinidade do título Senhor. 

Um Docente e um Discente são afim e não íntimos. 

Mas enquanto o vovô tiver voz ativa, vai chamar sua atenção até que tenha consciência própria para definir seus pronomes de tratamento e então decidir pela influência midiática ou pela educação familiar.

A Escola ensina.

A Família Educa!





dezembro 03, 2025

RECOMEÇO - Newton Agrella


 

Perceba que a vida só faz sentido quando aprendemos a recomeçar todos os dias como se fosse o primeiro.

Isso se traduz como a importância da determinação, da resiliência e da capacidade de reabilitação diária.

A renovação é essencial para encontrar significado à vida. 

Isso se aplica na nossa própria disposição para aprender, ensinar e sobretudo "compartilhar" nossas experiências acumuladas.

A Maçonaria neste sentido, é um legítimo território cultural, filosófico e humanístico que possibilita ao seus membros, desenvolverem suas capacidades no plano cognitivo, moral, intelectual e espiritual, através de um processo de âmbito especulativo, que impõe inovação na forma de pensar e ponderar.

Para tanto, é imprescindível que o maçom se predisponha a ler, a estudar, e a pesquisar sobre os valores de sua existência e principalmente a se questionar.

Esse mindset ou configuração mental está particularmente associado a saber aproveitar cada novo dia com energia e vontade de se reinventar, mesmo diante dos inevitáveis percalços e desafios que a vida produz..

É desse modo que construímos nossa história. Com vitórias e com derrotas. Com sucessos e com fracassos. 

Essa dinâmica se faz nitidamente presente na filosofia maçônica ao adentrarmos ao Templo ou Sala de Loja,  através de símbolos como o Pavimento Mosaico (preto e branco), que representa a dualidade natural do homem, e a crença em princípios opostos que devem estar em equilíbrio, como a liberdade e a ordem, ou a matéria e o espírito. Esta visão dualista se manifesta em sua busca pelo aprimoramento moral e intelectual, onde se confrontam o bem e o mal, a ignorância e o conhecimento. 

É por estas e tantas outras razões que a nossa existência só se explica e se justifica quando nos predispomos a sair da mesmice e da nossa zona de conforto.

Recomecemos então, todos os dias de nossas vidas como se fosse o primeiro.



A IMPORTÂNCIA DA ETIQUETA MAÇÓNICA NA ERA MODERNA E DIGITAL - David Wynn


O objetivo e o valor da etiqueta maçónica

A etiqueta maçónica é mais do que um conjunto de formalidades, é a base do respeito, unidade e ordem dentro da fraternidade. 

Ao aderir aos costumes estabelecidos, os maçons demonstram reverência pela sua Loja, pelos seus oficiais e pelos princípios da Maçonaria. 

A etiqueta correta promove a harmonia, assegura uma atmosfera digna e defende os valores da fraternidade.

Um dos aspectos mais fundamentais da etiqueta maçónica é a utilização de títulos adequados. 

O título Irmão não é um termo casual, mas uma designação oficial, tal como Venerável, Distinto (Right) Venerável ou Muito Venerável significam graus Específicos. 

Quando em Loja, os membros não atuam como indivíduos privados mas como representantes da Ordem. 

Assim, dirigir-se uns aos outros formalmente, quer seja numa Sessão formal, num banquete ou numa assembleia pública, reforça a integridade da fraternidade.

Etiqueta Maçónica e Percepção Pública

Os maçons são frequentemente observados pelo público, particularmente durante cerimónias, reuniões oficiais e eventos de caridade. 

O decoro adequado é crucial nestes contextos para manter a reputação da fraternidade. 

Quando não-maçons ou senhoras estão presentes, a necessidade de respeito, dignidade e cortesia torna-se ainda mais significativa. 

A forma como os maçons se comportam reflexões não só no indivíduo, mas em toda a fraternidade.

Para preservar a harmonia, devem ser evitadas discussões sobre temas polémicos como política, religião ou questões sectárias. 

A Loja é um santuário dos conflitos do mundo exterior, onde a unidade é primordial. 

Qualquer violação deste princípio pode levar à discórdia, minando o próprio objectivo da fraternidade.

Igualmente importante é a necessidade de decoro moral no discurso. 

Piadas inapropriadas ou comentários de mau gosto são inaceitáveis, pois não só ofendem os presentes como também mostram desrespeito pela Loja, pela Grande Loja e pela liderança maçónica. 

A Maçonaria defende elevados padrões morais e é essencial manter uma conduta adequada em todos os momentos.

A necessidade de etiqueta na era digital

À medida que o mundo transita para um cenário cada vez mais digital, a etiqueta maçónica deve estender-se a reuniões virtuais, assembleias online e comunicações digitais. 

Muitas Lojas realizam agora reuniões através de videoconferência, o que torna essencial manter o decoro tradicional nestes ambientes.

Reuniões virtuais e conduta maçónica

Quando se dirige a um Irmão num ambiente virtual, aplicam-se as mesmas regras de etiqueta. 

Os membros devem referir-se uns aos outros pelos seus títulos maçónicos apropriados, tal como fariam numa Loja física.

Tal como os maçons se vestem adequadamente para uma reunião da Loja, os participantes virtuais devem manter uma aparência respeitável. 

Incentiva-se a utilização de vestuário formal ou de negócios para reflectir a solenidade da ocasião.

Os membros devem observar as mesmas regras de respeito que numa Loja física. 

Falar fora da vez, interromper ou não silenciar o microfone quando não estiver a falar pode perturbar os procedimentos e diminuir a dignidade da reunião.

Tal como as reuniões da Loja são protegidas por um sistema de segurança para proteger a privacidade das discussões maçónicas, as reuniões virtuais devem ser salvaguardadas. 

Plataformas seguras, protecção por palavra-passe e discrição na comunicação são vitais para manter a confidencialidade.

Os mesmos princípios contra discursos políticos, sectários ou inadequados aplicam-se a fóruns online, discussões por e-mail e grupos maçónicos nas redes sociais. 

Os membros devem comportar-se com o mesmo respeito e dignidade que teriam pessoalmente.

Conclusão

A etiqueta maçónica é um elemento essencial da Ordem, garantindo o respeito, a unidade e a ordem. 

Quer seja numa Loja tradicional ou numa assembleia digital, os princípios de tratamento adequado, conduta moral e decoro devem ser sempre respeitados. 

Ao observar estas tradições, os maçons reforçam os valores da Maçonaria e asseguram que a fraternidade continua a ser um farol de honra, respeito e fraternidade, tanto em espaços físicos como virtuais.


(tradução Google Translate e ajustes Sidnei Godinho)

dezembro 02, 2025

O ILUMINISMO NA MACONARIA - A.C.T






Que fique claro que não existe mais em tempos atuais a iluminati, cai em golpe na internet quem não se informa.

Sendo assim A MAÇONARIA não tem nada há ver com iluminati.

Diz a história que as dificuldades que Maçonaria Operativa passava, em meados do Século XVII, em especial na Inglaterra, estavam a levar a Ordem à decadência.

Como medida de sobrevivência, os maçons operativos começaram a recrutar membros da intelectualidade, nobreza e de posses económicas.

Consolidou-se, assim, no Século XVIII (1717-1724), a Franco-Maçonaria composta por cérebros que não faziam parte da Maçonaria Operativa, porém eram dotados de requisitos morais, intelectuais e económicos, sendo aceites pelos Irmãos Operativos que simbolizavam o passado maçónico.

Estes novos Irmãos foram chamados de “aceites”. Estava, pois, implantado o departamento especulativo ao lado do outro operativo. Mas a unidade da Ordem foi preservada em todos os sentidos.

E com o ingresso destes irmãos “aceites”, oriundos em grande parte do Iluminismo, a influência era mesmo de se esperar na Instituição, especialmente no âmbito especulativo, geomântico ou ainda teórico.

Não demorou muito e nasceram os Altos Graus, de 4 a 33, os Graus Filosóficos, sendo que para alguns especialistas o Grau 3 (Mestre-Maçonaria Azul ) foi criado em 1725, pouco depois da Constituição do Bispo Anglicano James Anderson de 17 de Janeiro de 1723 que consolidou a Maçonaria Especulativa.

Os Landmarks, por sua vez, foram estudados, classificados e ordenados por diversos estudiosos maçónicos, até que em meados do Século XIX, Albert Galletin Mackey – 1807-1881, compilou-os, formando uma “Super- Constituição Maçónica Universal”. É, sem dúvida, a codificação mais aceita pelas diversas Obediências com os 25 princípios imutáveis e inalteráveis.

A influência do Iluminismo na Maçonaria é evidente, principalmente, quando examinamos as matérias que versam sobre as prerrogativas do Grão-Mestrado.

Trata-se da Administração da Entidade que, em caso excepcional, pode o Grão-Mestrado autorizar a proposta e recepção de um candidato. Esta prerrogativa emana da experiência dos políticos de Iluminismo que entraram na Ordem, objectivando, em tempos conturbados, que a direcção tenha instrumentos eficazes para debelar, ou pelo menos, minimizar as dificuldades momentâneas.

O princípio da Separação dos Poderes na Instituição Maçónica é cópia do modelo de Montesquieu, renomado iluminista. Criou este sistema de Poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e Judiciário, dentre outros diplomas das várias Potências, cada um com atribuições previstas em lei.

Mas de todas as influências iluministas na Ordem Maçónica, a que mais se destaca é o seu Departamento Especulativo. Introduziu-se o estudo profundo filosófico, simbólico, esotérico, metafísico, espiritual e histórico, além de outros ramos do conhecimento humano.

Principais iluministas maçons.

Voltaire (Paris, 21 de Novembro de 1694 — Paris, 30 de Maio de 1778), foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês, conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis e livre comércio. Ele defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica a intolerância religiosa.

Marquês de Pombal, (Lisboa, 13 de Maio de 1699 — Pombal, 8 de Maio de 1782) foi um nobre e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa. Iniciou várias reformas administrativas, económicas e sociais em Portugal, afim de aproximar o país a realidade económica dos países europeus.

Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, actualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. Ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário.

Diderot (Langres, 5 de Outubro de 1713 — Paris, 31 de Julho de 1784) foi um filósofo e escritor francês. Junto com Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783), organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da época.

Benjamin Franklin (Boston, 17 de Janeiro de 1706 — Filadélfia, 17 de Abril de 1790) foi um jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, funcionário público, cientista, diplomata, inventor e enxadrista americano. Foi um dos lideres da Revolução Americana.

Thomas Jefferson (Shadwell, 13 de Abril de 1743 – Monticello, 4 de Julho de 1826) foi o terceiro presidente dos Estados Unidos (1801-1809), e o principal autor da declaração de independência (1776). Participou também activamente dos primeiros acontecimentos da Revolução Francesa e teve forte influência na Inconfidência Mineira e na Independência do Brasil.

Cláudio Manuel da Costa (Vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais, 5 de Junho de 1729 — Ouro Preto, Vila Rica, 4 de Julho de 1789) foi um jurista e poeta do Brasil Colónia. Participou da Inconfidência Mineira.

Tomás António Gonzaga (Miragaia, Porto, 11 de Agosto de 1744 — Ilha de Moçambique, 1810), foi um jurista, poeta e activista político luso-brasileiro. Participou da Inconfidência Mineira.

Sir Isaac Newton (Woolsthorpe-by-Colsterworth, 4 de Janeiro de 1643 — Londres, 31 de Março de 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático, embora tenha sido também astrónomo, alquimista, filósofo natural e teólogo.

Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidacta suíço. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo. Ele defendia a ideia de um estado democrático que garanta igualdade para todos.

Edward Gibbon (Putney, 27 de Abril de 1737 — Londres, 16 de Janeiro de 1794) foi um historiador inglês que se expressou no espírito do iluminismo, autor de A História do Declínio e Queda do Império Romano.

Os Iluministas filiaram-se nas Lojas Maçónicas como um lugar seguro e intelectualmente livre e neutro, apropriado para a discussão das suas ideias, principalmente no século XVIII quando os ideais libertários ainda sofriam sérias restrições por parte dos governos absolutistas na Europa continental e por isso certamente a Maçonaria teria contribuído para a difusão do Iluminismo e que este por sua vez também possa ter contribuído para a difusão das lojas maçónicas.

O lema, ou o símbolo, “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” constitui-se como um grupo de palavras que exprime as aspirações da Maçonaria e que, se atingidas, levariam a um alto grau de aperfeiçoamento.

Podemos concluir que O Iluminismo foi de suma importância para a evolução da Maçonaria e continua sendo. Que possamos aproveitar estas luzes e que cada um de nós, Maçons, possamos continuar sendo Iluministas, defendendo os nossos ideais, para fazer deste mundo, um mundo melhor para todos.

Penso, logo existo.

(René Descartes)



dezembro 01, 2025

SER E TER, DIÓGENES E ALEXANDRE - Rui Bandeira


O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. 

Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. 

Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. 

Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. 

Disse-lhe:

Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. 

Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. 

Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. 

Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!

Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. 

Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens.

Diógenes nada tinha de seu, excepto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. 

Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. 

Não pelo que tinha. 

Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. 

E ele nada mais queria do que isso. 

Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. 

Para ele, os outros – todos, até o rico e poderoso Alexandre – valiam pelo que efectivamente eram, não pelo que tinham. 

No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. 

Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. 

E continuamos preocupados em TER. 

Ter isto, comprar aquilo, obter aquele outro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfamos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. 

Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. 

Ser, simplesmente ser, objectivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. 

Preocupemo-nos em SER. 

Ser feliz. 

Ser amado. 

Ser… HUMANO!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É, é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. 

Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente – um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. 

O TER é passageiro – e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. 

Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!

..."Venha para a loja para *SER* um irmão e não para *TER* um cargo."...




JURAMENTO E COMPROMISSO MAÇÔNICOS - Nuno Raimundo



Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérico-iniciática, tal como a Maçonaria se define, é habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz iniciático, no qual se assume um determinado compromisso. 

E somente após a realização desse juramento é que o neófito é recebido e integrado no seio da respetiva Ordem.

No caso que irei abordar e que será sobre a Maçonaria, é natural quando se fala em compromisso maçônico também se abordar simbióticamente o juramento maçónico. 

Tanto um como o outro são indissociáveis, porque um obriga ao outro e o mesmo, reciprocamente.

Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçônica, no seu “ponto alto”, o neófito concorda em submeter-se a um juramento onde assume como compromisso de honra, aceitar e respeitar as Regras, Usos e Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis do país onde se encontra sediada a Obediência Maçónica e a respetiva Loja da qual irá fazer parte. 

Nomeadamente e de entre os vários princípios maçónicos que se aceitam cumprir, os mais conhecidos pelo mundo profano são a FRATERNIDADE entre todos os Irmãos, a prossecução do espírito da  LIBERDADE na Sociedade Civil e o sentimento de IGUALDADE entre todos.

Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem Maçônica é assumir-se um compromisso pela Ordem e a bem da Ordem. 

Isto é que é o tão  propalado estar à Ordem.

E estar-se é mais do que o ser-se! 

E digo isto porque qualquer um pode “o ser”, mas “estar” apenas se encontra ao alcance de poucos…

Estar implica sacrifício, comprometimento, trabalho, prática e estudo, e isto de forma incansável e perene.

Por isto é que assumir um compromisso deste género e com a relevância que este tem, nunca deverá ser feito de forma leviana. 

O mesmo se passa com os outros compromissos que se assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser assumidos se não estivermos capacitados para os cumprir.

-Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer-.

Por isso é que o compromisso maçônico é feito com a nossa Palavra e sobre a nossa Honra. 

Desvirtuar estas duas qualidades, é desvirtuar a própria Maçonaria.

Da mesma forma que, se não respeitarmos a nossa palavra e não mantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não somos dignos de nela estarmos integrados e sofreremos as consequências ou punições que forem legitimadas pelas leis do país.

De certa maneira, a Maçonaria atua e se assemelha com a sociedade profana, com as suas leis e os seus costumes, competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e observar o seu cumprimento. 

É mais que um dever ou obrigação tal. 

É a assunção que assim o deve ser e nada mais!

Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o deverá continuar a ser noutros tantos…

Aliás, ainda na Maçonaria contemporânea se encontra algo que dificilmente se encontra na profanidade atualmente, ou seja, o valor da palavra sobre a escrita. 

O que não deixa de ser curioso dados os tempos que correm.

Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma tem um valor tal, que se poderá assumir que não necessitará de ser escrito para que o seja considerado; basta se dizer, que assim o será.

O tal “contrato verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. 

E somente pessoas de bons costumes o usam fazer, pois a sua honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores avalistas.

Não obstante, o compromisso maçónico ao ser albergado por um juramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma permanente. 

Não se jura somente aquilo que gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito cumprir.

Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra associação ou organização qualquer, existem regras e deveres para cumprir; pelo que o cooptado compromete-se em respeitar integralmente todas as regras e deveres que existem na sua Obediência. 

E quem age assim, fá-lo porque decidiu livremente que o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.

E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade própria, aborrece-me bastante (para não ser mais agudo ainda…) assistir ou ter conhecimento de casos em que este juramento foi atraiçoado e em que os compromissos assumidos perante todos, foram deliberadamente e conscientemente esquecidos.

Será que quem age desta forma, poderá ser  reconhecido como um verdadeiro maçom?

Ou será apenas gente que simplesmente enverga um avental e um par de luvas brancas nas sessões da sua Loja?

Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram na Maçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não entrou neles…

Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque quem vem para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o que é a Maçonaria e o que ela representa. 

“Vem ao escuro” por assim dizer, e caberá a quem apadrinha uma candidatura maçónica, informar ou retirar algumas dúvidas que se ponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão. 

Em última instância, devem os responsáveis pelas sindicâncias que decorrem no âmbito de um processo de candidatura maçónica, no momento das entrevistas aos candidatos, terem a sensibilidade para se aperceberem do desconhecimento do entrevistado sobre os princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem da qual este manifesta a vontade de vir a fazer parte. 

E nesse caso, serem os próprios sindicantes nessas alturas em concreto, a efetuar o trabalho que deveria ter sido feito anteriormente pelo proponente da referida candidatura, no que toca a esclarecer o profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessárias para que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos, nem que esta admissão venha a causar problemas (previsíveis!) no futuro, seja para a respetiva Loja ou até mesmo para a Obediência que porventura o vier a acolher.

Todavia, normalmente no momento do juramento maçónico, o neófito fá-lo sem saber/compreender o que estará a jurar e para o que estará a jurar, pois o véu que o cobre  na sua Iniciação é de tal densidade que  muitas vezes somente passado algum tempo é possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso que se tomou. 

E que por vezes pode ser diferente daquilo que são as crenças pessoais e respetiva forma de estar de cada um ou até mesmo porque se acreditava que se “vinha para uma coisa e afinal se encontrou outra”…

E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o seu afilhado durante a formação deste tanto como a responsabilidade que assumiu perante o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidatura dele, serão fundamentais neste tipo de situação concreta. 

O padrinho (pelo dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da loja acompanhar e tentar integrar corretamente os Irmãos nos valores maçónicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se “distancia” da Maçonaria. 

E apenas ulteriormente, se for caso disso, devem aconselhar a um possível adormecimento desse irmão por não ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não se identifique mais.

E como se costuma dizer, “o mal corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas devem evitar-se”…

E quem entra na Maçonaria deve ter a noção que as suas atitudes já não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os integrantes desta Augusta Ordem. 

A conduta de um maçom estará sempre sob um fino crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de todos, seja de fora ou internamente. – Porque um, pode sempre e a qualquer momento, “por em xeque” os demais -. E ter esta noção e assumir esta responsabilidade é algo que deve ser intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçónicos.

Já não é o Nuno, o X ou o Y  que fazem isto ou aquilo, serão os maçons Nuno, X ou Y que o fazem… 

Logo é a Maçonaria na sua generalidade que será atentada com a má conduta que os seus membros possam ter, para além da Ordem poder vir a ser acusada de cumplicidade pelos atos efetuados pelos seus membros.

Assumir que a nossa forma de estar e agir condiciona e se reflete na Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar. 

Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria em geral, deve permanentemente se encontrar  na mente de todos os maçons.

Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se maçom, mas fundamentalmente ser-se reconhecido maçom pelos nossos iguais,  implica que sejamos maçons a “tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-feiras de manhã ou à noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre!

Sermos maçons, não é quando visitamos a loja e usamos os respetivos paramentos. 

Não basta usarmos um avental, calçar umas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos”, é muito mais que isso! 

É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem.

E se não estivermos prontos para tal, de nada valerão os juramentos que fizermos, porque nunca nos iremos comprometer com nada na realidade e em último caso, nem sequer  reconhecidos como tal seremos.

E a palavra persistirá perdida…