Embora na então Palestina (de Philistia, dos Filisteus) ainda sob o Mandato Britânico, já existissem inúmeras colônias judaicas, desde o século 19, em terrenos adquiridos e pagos por mecenas europeus como os Rothschild e o Barão Hirsch, após a Declaração da Independência de Israel, em 1948, o país se tornou uma colcha de retalhos de imigrantes judeus de todas as partes do mundo.
Era uma multidão procurando um lar definitivo para
se estabelecer, a Terra Ancestral dada pelo Senhor a Moisés. Pessoas de todas
as idades, de todas as formações, com ou sem qualificações, com idiomas e
dietas diversos, algo impossível de dar certo. O país não oferecia nada, nem
terra fértil, nem indústrias, nem agricultura extensiva, nem sequer um governo
que se entendia entre si. Mas todos unidos no ideal expresso por uma
tradicional oração dos judeus, ‘’O ano que vem em Jerusalém”.
Papai foi um destes imigrantes. Apesar de sua
formação militar e em matemática, estabeleceu-se em um pequeno aldeamento,
‘kiriat” em hebraico, nos arredores de Hadera, onde nasci, palavra que
significa pântano em hebraico, o que descreve bem o local. Lá sustentava a
família com uma charrete entregando barras de gelo de casa em casa no país que
em seu início tinha pouca energia elétrica e quase nenhuma refrigeração, mas a
escassa comida precisava ser conservada. Cuidava ainda de uma pequena roça e
muitas noites, com seus vizinhos, fazia a ronda para proteger a aldeia dos
constantes ataques dos terroristas árabes, os ‘fedayin”. Aliás, meu pai andou
armado a vida inteira e a não ser na guerra, nunca feriu nem matou ninguém, o
que mais uma vez prova que o perigo não está no instrumento, mas em quem puxa o
gatilho.
Curiosidade. Nasci no Hospital Militar Inglês. Na
minha última viagem a Israel fui rever a minha cidade natal, atualmente uma
grande cidade que tem inclusive uma usina nuclear, e o local onde vim ao mundo
era agora um Hospital de Doenças Mentais. Foi o meu alfa. Que não seja o meu
ômega.
Seu maior tesouro era o cavalo, o mais cobiçado
troféu de furto dos ‘fedayin’ e na casinha de madeira ele dormia com a janela
aberta, com a corda que amarrava o cavalo presa no braço e o revolver na mão,
mas nunca houve problemas. Sua reputação de bom atirador não justificava o
risco para os larápios. E o país ia sendo construído passo a passo pela força e
pela fé de quem retornava à sua Pátria ancestral, apesar da absurda escassez de
recursos.
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