Minhas experiências aéreas – parte 3
Em 1969 mudei-me para Petrópolis, a linda Cidade Imperial, para cursar a Faculdade de Direito da Universidade Católica de Petrópolis e em 1970 fui trabalhar na filial da IBM no Rio de Janeiro, na OPD, que significa Office Products Division, que era a área de materiais para escritório, as máquinas
de escrever de esfera e outras, equipamentos de ditado e de impressão, o que havia de mais moderno e avançado na época e que atualmente decoram prateleiras de museus. Ainda hoje, 50 anos decorridos, temos um grupo de Whatsapp de ex-funcionários da IBM que ocupam diversas e relevantes funções na iniciativa privada e no governo, mas é opinião unânime entre nós que a IBM foi a melhor empresa do mundo para se trabalhar por muitas razões, os treinamentos, os planos de saúde, as premiações, os reconhecimentos etc. A guisa de exemplo, em 1972 fui considerado um dos melhores vendedores do Brasil e ganhei como prêmio uma viagem com a minha esposa, com todas as despesas pagas, para uma semana no Hotel Hilton Hawaiann Village no Havaí. Mas antes disso ela recebeu um enorme buquê de flores do presidente da empresa, José Bonifácio de Abreu Amorim, com um bilhete que em que ele agradecia a dedicação, estímulo e compreensão dela que proporcionaram ao marido atingir àquele objetivo. Nunca ouvi falar de uma empresa que tratasse seus funcionários desta maneira.
Mas voltando ao tema dos aviões foi a minha primeira viagem aérea internacional. O primeiro voo foi do Rio até Los Angeles com escala em Caracas e na capital do cinema ficamos hospedados no emblemático Hotel Roosevelt, em Hollywood, que aparece em 80% dos filmes que retratam aquela metrópole. Tínhamos um dia de folga e fomos passear pela calçada da fama, pelo Teatro Chines, os estúdios da Universal e outros locais turísticos e no dia seguinte voo para Oahu, uma das ilhas do arquipélago havaiano, onde ficamos no hotel que aparece com um enorme arco íris na fachada na série Havaí 5.0.
No retorno, a van da empresa aérea United que deveria nos buscar no hotel atrasou por algum motivo e quando chegamos ao aeroporto nosso voo já tinha partido. A companhia nos colocou no voo seguinte com um ‘up grade’ para a primeira classe. Foi quando verifiquei como é bom ser rico. O luxo e o conforto da primeira classe, a largura e maciez da poltrona, o extraordinário menu, a gentileza das aeromoças, tudo parece coisa de filme. Nunca mais tornei a voar de primeira classe, mas também nunca mais esqueci aquele voo. E estou falando de quase meio século atrás, nem tenho ideia de como seria hoje em dia.
Voltamos a Los Angeles e como tínhamos um tempo de férias fomos curtir Disneylandia. De lá outro voo para Nova York onde ficamos alguns dias. Depois um air suttle (uma espécie de ônibus aéreo) para Washington e finalmente outro curto voo para Miami. Gastamos o nosso tempo de férias conhecendo atrações pelos Estados Unidos e o interessante é não acresceu um centavo sequer no bilhete aéreo. Todas estas conexões estavam incluídas no preço do bilhete original pago pela IBM.
Eu ainda não tinha a nacionalidade brasileira, (sou israelense de nascimento) e não tinha passaporte de minha terra natal. Viajava com um passaporte amarelo que depois fiquei sabendo era fornecido para expatriados e nem imagino como é que a IBM conseguiu um para mim. No retorno, depois de uma gélida escala de uma noite inteira em Caracas, morto de sono, cansado e com fome, aterrissamos no antigo e acanhado aeroporto do Galeão. Ao passar pela alfandega o inspetor que pegou meu passaporte amarelo gritou para alguém lá dentro – “fulano, tem um passaporte amarelo aqui, o que é que eu faço? – e a resposta foi gritada também – “prende ele”. Depois de alguns minutos de intenso pavor fiquei sabendo que era para prender o passaporte, válido para uma única viagem, e não o passageiro. Abençoado Rio de Janeiro.
Algumas lembranças forçam a porta para entrar neste depoimento e uma delas é de quando a IBM promoveu um Congresso Internacional no Rio e fui destacado para ser o “aid” do presidente da IBM da França, não me recordo seu nome, mas ele tinha por volta de 50 anos, simpático e elegantíssimo e eu tinha apenas 23 anos de idade. Minha função era acompanhá-lo, atender suas necessidades e servir de intérprete. Ele estava hospedado no Copacabana Palace e foi absolutamente encantador. Quando lhe expliquei que eu morava em Petrópolis, a quase duas horas de viagem dali, ele fez questão de reservar um apartamento no Copa para mim também, para que estivesse à sua disposição. Seu único pedido foi que, à noite eu o levasse em um show de mulatas. Reservei uma mesa no “Sambão e Sinhá” do Sargentelli que estava na moda, mas o show começava às 23h00 e antes disso rodamos em um monte de bares onde ele tomava litros de vodka e eu Coca-Cola. Finalmente chegamos ao destino e ele enlouqueceu com as mulatas, a melhor criação de Deus. Perguntou se era possível sair com alguma delas. Eu fui perguntar ao gerente do local e ele disse que dali elas não saíam de modo algum, mas se alguma delas, depois do show, quisesse fazer um programa ele não tinha nada a ver com isso e que ele iria consultar se alguma iria ao Copa. Parece que alguma foi. Voltamos ao hotel por volta das 2h00.
No dia seguinte, às 8h00, enquanto eu aparecia para o trabalho como se tivesse sido atropelado por uma motoniveladora ele chegou elegante, perfumado, lépido e faceiro me agradecendo por uma das melhores noites que teve na vida. Verdade, morri de inveja.
SEGUE
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