SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural
Parte 1
O intuito deste ensaio é abordar as relações entre duas das mais poderosas manifestações que abordam o gênero humano: o sexo e o misticismo.
O sexo é uma das manifestações de energia criadora. Sem esta força vital não existiriam formas organizadas de vida. Por esta razão as grandes correntes religiosas e filosóficas da antiguidade trataram deste assunto com grande ênfase.
No hebraísmo estudou-se a sexualidade com minúcias, existindo mesmo um aspecto de "erotismo sagrado" na Cabala, que abordaremos a seguir. A tradição hindu, bem como a chinesa, são riquíssimas neste aspecto.
Diversas estatísticas levantadas em foros judiciais em todo o país mostram que uma expressiva parcela das ações de separação diz respeito, direta ou indiretamente a incompatibilidade sexual. O sexo é o "leit motiv" dos problemas interpessoais.
É certo que os condutores de homens, os líderes de todas as épocas sempre souberam disso e por essa razão os códigos de comportamento ético ou moral de todos os povos se preocuparam em conter a sexualidade dentro de estreitos limites.
Segundo um renomado sociólogo americano, Dr. A Willy, o comportamento do ser humano com relação a sexualidade depende de três fatores: os instintos, a sociedade e a razão.
Os instintos, comuns a todos os animais, o que inclui naturalmente o "homo sapiens", formam uma base constante de comportamento sexual, quer o agente seja uma macaco antropóide, quer seja um ser humano.
A sociedade, com suas leis e regras, exerce sobre o comportamento sexual do homem uma influência maior do que a dos primitivos instintos. No entanto, quer a leis sejam naturais, quer sejam consuetudinárias, variam em função do local e da época.
O terceiro fator que rege o comportamento sexual do homem é a razão. A razão é, com sua força equilibradora, o que leva o indivíduo a aceitar exteriormente as prescrições da sociedade e a agir interiormento de acordo com o seu foro íntimo, que chamamos de moral ou de consciência.
A razão, por conseguinte, equilibra o antagonismo existente entre as prescrições da sociedade e os apelos do instinto. Quando tal não se dá, o erotismo gratuito se desencadeia e a decadência dos costumes e da sociedade processa-se num ritmo acelerado, cujo exemplo mais dramático foi o Império Romano.
Sexo entre os hebreus
Uma tradição judaica dis que, quando um homem e uma mulher se encontram e se amam, os anjos se rejubilam, e que é do encontro desses amantes que se inspiram os cânticos celestiais.
Independentemente de suas finalidades específicas a natureza fez do sexo uma função muito agradável. Qualquer tensão que se acumule no organismo, como sono, fome ou sede causa angústia e o relaxamento desta tensão mediante sua satisfação é sentido como prazer. Isso é muito mais verdadeiro ainda no caso da tensão sexual, cuja satisfação constitui uma das mais prazenteiras atividades do ser humano.
No Velho Testamento, o Cântico dos Cânticos, atribuído ao Rei Salomão, celebra esse prazer através do amor mútuo em que um amado e uma amada se unem, se perdem, se buscam e se encontram. Este livro, sem nenhum plano definido, é uma coleção de poemas unidos pelo mesmo tema, o amor carnal, considerado com um sadio realismo. O Cântico não fala de Deus, emprega a imagem de uma amor apaixonado e segundo alguns estudiosos foi baseado nos cultos de Ishtar e Tammuz, copiados pelos cananeus e praticado nos primórdios do culto de Iaweh.
Embora seja discutível, alguns exegetas pretendem que o Cântico teria sido o ritual expurgado e revisado dos ritos da hierogamia, ou casamento divino, praticado desde o antigo Egito, e cuja cultura teve ponderável influência na formação das tradições judaicas.
Vejamos, para conhecer o estilo e o espírito, alguns trechos do Livro:
Como és bela, minha amada, com és bela
Teus peitos são dois filhotes, filhos gêmeos da gazela,
pastando entre açucenas...
Antes que sopre a brisa e as sombras se debandem
vou ao monte de mirra, à colina do incenso...
Tua boca é um vinho delicioso, que se derrama na minha
molhando-me os lábios e os dentes.
Eu sou do meu amado, seu desejo o traz a mim.
O mesmo amor humano é eventualmente tema de outros livros do Antigo Testamento: assim, em relatos do Gênesis, na história de Davi, nos Provérbios e no Eclesiastes, onde ele é tratado de forma e com expressões semelhantes às do Cântico.
A Cabala, como também as demais tradições do Oriente tem um aspecto de erotismo sagrado, em que Adão é simbolizado pelo IUD, letra hebraica de formato semelhante a um apóstrofo, ou a um espermatozóide, e representa o aspecto masculino. Se se acrescentar a essa letra o nome ternário de EVA, obtemos IEVE, o Nome Sagrado. Isso eignifica que desse encontro, dessa relação entre o homem e a mulher nasce o Nome Sagrado de Deus. Abrem-se dessa forma, novas perspectivas de entendimento sobre o amor e o sexo.
Também traz nova visão sobre o antagonismo natural do 1 e 2 e sobre a atração dos contrários.
Assim: ALEF é masculino, homem; BEIT é feminino, mulher.
A é ativo e B é passivo. Na tradição hindu representam o LINGAM e a YONI. Na chinesa o YIN e o YANG.
O princípio ativo busca o princípio passivo. Qual é a natureza do princípio ativo? É propagar. E qual a natureza do princípio passivo? É fecundar. A unidade se exprime pelo binário.
Uma das interpretações da Estrela de David, o "maguen David", é a de que os dois triângulos sobrepostos que formam a figura, um para cima, e outro para baixo, representam o encontro entre o homem é a mulher, a relação fecunda que glorifica o amor e cria a vida.
............................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário