abril 02, 2021

O CAMINHO DA FELICIDADE (A CABALÁ DA FELICIDADE)

                 



           PUBLICADO NA REVISTA COM  SHALOM EM FEVEREIRO DE 2005

Érica Alvim

Pode parecer pretensão, mas a intenção de Michael Winetzki é realmente nos fazer entender que podemos ser felizes. No entanto, se estranhamos essa proposta, não é porque estamos duvidando da capacidade do autor, mas porque já não acreditamos na nossa capacidade de sermos felizes. Mesmo assim, ler O caminho da felicidade não faria mal nem a mais cética das criaturas porque não encontraremos nele uma defesa formal e declarada de seus objetivos ou de suas idéias. Não é um texto corrido, repleto de argumentos insistentes e repetitivos. É um texto, que defende uma idéia, sim, mas de forma muito peculiar.

Histórias que se encontram
De uma forma que não é nem um pouco cansativa, o autor parte de duas diferentes histórias. A primeira, um tanto autobiográfica, sua história em busca de desenvolver a espiritualidade; a segunda, a história de Nathan Lebenglick e sua descendência, uma família que, como tantas outras, mudou-se da Europa para a América do Sul no começo do século XX, cheia de expectativas e esperança de um futuro melhor.
As duas histórias nos são apresentadas aos poucos, em capítulos que se intercalam e, conforme vamos nos envolvendo tanto com uma história quanto com outra, vamos aprendendo os preceitos da cabala que nos ensinam a ser feliz. Vamos aprendendo como um caminho leva a outro até o ponto em que as duas histórias se misturam e descobrimos seus pontos em comum, descobrimos que, quando nos preparamos bem para algo, é inevitável que nosso caminho siga este rumo, seja para o bem, seja para o mal.

Herança judaica
É um livro que nos aponta a cabala como um meio para atingirmos a felicidade em nossas vidas e a cabala é um tema com o qual nos deparamos por diversas vezes quando o assunto é judaísmo, pois ela é a manifestação de uma postura mais espiritualista no que diz respeito a cultura hebraica.


No entanto, o que este livro tem de peculiar é a forma como se constrói, de uma maneira tão simples e ao mesmo tempo tão inteligente e instigante, que nos leva a um inevitável envolvimento tanto com as histórias que lemos quanto com o conteúdo cabalístico contido nelas. E o que é melhor, a cabala dessa vez é adaptada ao português e ao povo brasileiro, o que não é muito fácil de se encontrar por aí. O caminho da felicidade é uma obra que está por dentro de nossa cultura e de nossa realidade e que, em muitos aspectos (até mesmo no literal), fala a nossa língua.


Brincando, temos acesso não só a uma verdadeira aula sobre cabala, como também conhecemos um pouco da história dos judeus no século XX. Isso sem falar na breve explanação que o amigo de Michael, Max Kaufmann, faz no Prólogo, dando um brevíssimo panorama da história dos judeus através dos tempos, terminando com uma reflexão sobre no que consiste ser judeu hoje em dia. "É uma pesada herança ser judeu, Michael. Não há como abrir mão dela. Você pode mudar de partido político, de time de futebol, até mesmo de religião, mas a condição de judeu é inalienável. Trabalhei para os Rothschild na França e a despeito de ser um dos homens mais ricos e influentes do mundo, meu patrão se mantinha estritamente judeu, dizendo: Max, minha família está há 400 anos neste país, e eu não sou um banqueiro francês, sou um banqueiro judeu. Não sou apenas um homem rico, sou um judeu rico, e não importa o que eu e a nossa família façamos pela França ou pelo mundo, em mecenato ou caridade estou sempre sendo avaliado como judeu e não como colecionador de arte ou fabricante de vinhos. Depois de anos de pesquisa e investimento fiz o melhor vinho que já existiu e ouço no meu clube: - Como é que aquele judeu consegue fazer um vinho tão bom, e a minha família é pelo menos 250 anos mais antiga na França, do que a do homem que fez o comentário. Então se é para ser julgado como judeu, permaneço judeu".

Difícil de definir
Autobiografia, ficção, defesa de uma filosofia de vida - não podemos saber ao certo do que se trata esse livro porque ele tem de tudo um pouco. Se achamos que tudo é ficcional, nos enganamos. Se achamos que tudo é autobiográfico, também. Tudo parece ser escrito com o propósito de defender um ideal, mas também não podemos menosprezar o valor de uma boa história por si própria, excluindo dela qualquer significado ideológico. Ou seja, se tentamos dar rótulos e classificar a narrativa, saímos perdendo, porque com cada um de seus aspectos temos muito a ganhar. Portanto, é melhor deixar a história nos conduzir, sem tentar reduzi-la.


Michael Winetzki é dotado de um currículo que, além de conter numerosas experiências, é também muito variado, sendo empresário, jornalista e consultor de marketing e programas de motivação e Qualidade Total, dando, inclusive, muitas palestras. Além disso, é presidente e fundador da Associação Centro de Arte e Cultura de Brasília, oferece consultorias e é editor da revista mensal BOAS NOTÍCIAS de Brasília (DF) desde 2001. Isso tudo sem esquecer de mencionar sua sólida formação profissional e sua dedicação aos serviços comunitários.


O livro foi publicado por conta própria, o que lhe impede uma grande divulgação ou distribuição. Por isso, para obtê-lo é preciso acessar a internet e aguardar sua entrega pelo correio. O mais interessante é que parte da renda obtida com a venda do livro é remetida a atividades beneficentes na cidade de Brasília, onde o autor reside e trabalha.
Certamente, é uma boa leitura. Agradável, interessante, instigante e que tem uma bela mensagem para nos passar. É mais uma ferramenta para que cada um de nós encontre e trilhe seu próprio caminho, que assim como o livro, rende e renderá muitos outros caminhos, muitas outras histórias. Esperamos plantar boas sementes para que estes caminhos sejam frutíferos. E mais ainda: esperamos ser conduzidos pel'O caminho da felicidade.


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