maio 16, 2021

TRADIÇÃO QUE NÃO SE ROMPE - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais respeitados estudiosos da maçonaria no Brasil.

De maneira absolutamente direta, simples e concisa podemos aferir que a Tradição significa: comunicação oral de fatos, lendas, ritos, usos e costumes, dentre outros exemplos, que se sucedem e se mantém  de geração em geração.

Ou seja; trata-se daquilo que se torna norma por si só, pela sua própria essência e pelo significado histórico que nela se encerra.

A Tradição não implica em que o seu exercício esteja registrado, escrito ou inscrito em qualquer lugar.

Tradição é a reprodução de tudo o que se vive de maneira contínua e habitual e que se consubstancia na medida do tempo e nas mais variadas formas de expressão.  

Seja pela linguagem, sejam pelos exemplos, seja pelo compartilhamento ou pelas próprias reflexões e experiências.

A Maçonaria, tanto no âmbito operativo quanto especulativo, apoia-se na Tradição como ancoradouro de sua perenidade até os nossos dias.

Os Landmarks que consistem no arcabouço dis princípios da Sublime Ordem independentemente de Ritos, são imutáveis.  

Símbolos, Alegorias, Marchas, Toques e Palavras, bem como a elaboração de uma Ata, que consiste na transcrição do ocorrido durante uma Sessão Maçônica, ou seja, na própria História da Loja que envolve inclusive todos os seus "Augustos Mistérios"  simbolicamente falando  devem ser proferidos, transmitidos e compartilhados "exclusivamente no ambiente maçônico", isto é, durante o transcurso de uma Sessão Maçônica com a leitura por parte do Secretário e sob a orientação do Venerável Mestre, e lá deve permanecer.

Maçonaria não é local de modismos e invencionices. 

Maçonaria não reconhece cursos online, ritualística virtual,  processo de hierarquia maçônica inspirada através de computadores.  

Maçonaria é algo muito mais sério e profundo.  Não fosse assim, e ela não obedeceria a um processo Iniciático, para que seja legitimamente reconhecida.

Relevante lembrar que ser contemporâneo, estar antenado e acompanhar a evolução e as mudanças dos tempos é algo legítimo e salutar.  A dinâmica é parte indissociável da alma humana.

Contudo, a manutenção de valores consagrados por uma instituição Iniciática de natureza imemorial,  que se pauta pelo seu caráter sigiloso, solene e litúrgico do ponto de vista filosófico, não pode se permitir a quebra de tradições, em nome de um pseudo avanço tecnológico e midiático.

A título de ilustração cabe lembrar que W. Kirk MacNulty, autor de : "A Journey through Ritual and Symbol" reporta em sua obra que as primeiras Lojas Maçônicas reuniam-se em tavernas e conduziam seus trabalhos durante o Jantar, sendo que a principal forma de instrução era uma espécie de Catecismo, que incorporava elementos de Metafísica Ocidental representada pelos Símbolos Maçônicos e lá eram mantidos em segredo.

Por volta de 1730 muitas Lojas na Inglaterra, França, Escócia, Irlanda e Suécia conduziam rituais mais elaborados com Três Graus de forma geral, que perduram até os nossos dias. Tal prática tornou-se quase universal.

A Tradição encontra sustentação naquilo que chamamos de Direito Consuetudinário, isto é; o direito que advém dos costumes de uma determinada  sociedade, não passando por um processo formal de leis.

Assim ocorre com a Ordem Maçônica, que guarda e garante grande parte de seu acervo cultural, filosófico, antropológico e espiritual calcado nas experiências acumuladas, na transmissão oral e, sobretudo nos usos e costumes que se sedimentam ao longo da História.

Para bom entendedor, meia palavra basta

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