Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais destacados intelectuais maçônicos do pais.
Num universo tão rico e profundo como o das Letras, algo que
vem chamando a atenção, seja no âmbito gramatical, semântico ou comportamental,
é a intitulada "Linguagem Neutra".
Esse mecanismo, que alguns nichos sociais estão tentando
adotar, como forma de reconhecimento, sem terem que se associar nem ao gênero
masculino, nem ao feminino, propõe para Língua Portuguesa a utilização das
chamadas vogais temáticas.
Essa busca por uma "terceira via" por exemplo,
destituiria o a para o gênero feminino e o o
para o gênero masculino, e a utilização da letra e seria talvez a
maneira mais democrática para o reconhecimento entre as pessoas.
Essa propositura, em principio, fere a norma culta do
idioma, traduz-se mais como um elemento ideológico, do que propriamente
gramatical.
Politizar a gramática, sinaliza-se como duvidoso argumento
para descaracterizar a dinâmica de uma língua, cujas origens encontram raízes
históricas e culturais, tal qual bens imateriais que merecem respeito e acima
de tudo que obedeçam as fronteiras do bom senso, para o povo que tem na sua
Língua um sinônimo de sua Pátria.
A Linguística, no estudo das línguas, constitui-se na área
em que se reconhece o lado "vivo" de qualquer idioma.
Contudo, ela subsiste em razão da Gramática, que é o
elemento conservador da Língua, que sustenta sua base estrutural e via de
regra, bem menos suscetível a mudanças.
O Português é uma língua de raízes latinas e como
característica própria e histórica, herdou a "flexão de vogais" para distinguir palavras masculinas de
palavras femininas.
Diferentemente das Línguas Anglo Germânicas que possuem
pronomes neutros, dadas as suas peculiaridades culturais e estruturais, nenhuma ingerência parece justificável para
que a nossa língua portuguesa sofra mutilações ou grotescas transformações em
nome de gênero ou de sexualidade.
É claro que Gênero e Sexualidade, são tão díspares quanto
Língua e Matemática.
Entretanto, essa necessidade que alguns grupos sociais
entendam que seja prioritária, soa um tanto
estranha, para um povo cuja imensa maioria, mal consegue conjulgar um
verbo ou mesmo compreender o que seja um substantivo, um adjetivo ou um reles
pronome na sua própria língua.
A Linguagem Neutra, é um pretexto para explicar o que não
encontra respaldo intelectual.
Soa como uma falácia a afirmação de que haja uma conotação
machista em nossa Língua Portuguesa.
A língua apenas expressa o comportamento e as atitudes
manifestadas por pessoas que carregam o preconceito dentro de si.
A mentalidade das pessoas não se modifica em função da
língua que ela fala.
O agente transformador é o investimento na Educação, no
resgate da cultura, como fato gerador de comportamentos dignos do ser humano.
Não é substituindo vogais, instituindo formas estranhas ao
idioma, que o respeito entre as pessoas será observado.
A Linguagem Neutra de gêneros gramaticais é uma segmentação
das recentes exigências, apoiada por alguns setores da mídia, da comunicação e
até mesmo de algumas entidades políticas, como uma suposta tentativa de prover
maior igualdade entre homens e mulheres.
Contudo é inocultável a crítica ao pensamento sexista
contido nessa empreitada.
Cabe lembrar que "Moral" é uma palavra de "gênero
vacilante" ou seja; uma palavra que que apresentando oscilação de gênero
gramatical, é usada tanto no feminino
quanto no masculino.
Nem por isso o personagem ou a personagem dessa breve
crônica deixará de ser objeto de futuras
considerações.
A liberdade de pensamento é o exercício legítimo para a
elaboração de nossa consciência.
Sou linguista, tenho 62 anos e há 42 me dedico ao ensino da Língua Portuguesa e concordo inteiramente com você, abraços.
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