Em peças anteriores, procurei chegar às definições de deísmo e teísmo, resultando, por contraste, também a de ateísmo. Hoje, pretendo relacionar estes conceitos.
Recordemos primeiro as definições que se utilizarão, para que se saiba sempre do que se está a falar:
Deísmo – posição filosófica que pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a “revelação divina”, os dogmas e a tradição.
Teísmo – posição que resulta da crença na existência de Deus através da fé, designadamente por via da crença na Revelação em textos sagrados e ou nas profecias de portadores de mensagens tidas como oriundas da Divindade.
Ateísmo – posição que postula a inexistência de Deus.
Em termos de oposição polarizada, ateísmo opõe-se a teísmo e deísmo. Quem postula a inexistência de Deus insanavelmente se opõe a quem postula a sua existência, seja pela fé, seja pela razão.
Entre teísmo e deísmo não existe uma relação de género – espécie, segundo o qual aquele contém este e este é uma das modalidades daquele.
Partilhando um elemento fundamental – a crença em Deus – teísmo e deísmo não são opostos entre si. Também não se relacionam em termos de um conter o outro. São, no entanto, conceitos manifestamente diferentes. Como se relacionam então entre si? E algumas destas posições partilha algo com o ateísmo? O quê?
Na minha opinião, existe uma relação de derivação, de acrescento, de evolução. A questão coloca-se entre crença (fé) e razão. Entre acreditar para além de ou sem evidência e acreditar em resultado de evidência. Entre instinto e raciocínio.
Quer em termos de Humanidade, quer em termos individuais, o instinto é um elemento básico de sobrevivência. Há muitas coisas que fazemos porque estamos geneticamente programados para o fazer. Não se pensa nisso.
No entanto, este mistério primordial sempre preocupou e estimulou a curiosidade da Humanidade. Que, não podendo saber, inventou e acreditou, mas também especulou, analisou e racionalmente concluiu. Uns que não existia Divindade, porque nenhuma prova da sua existência descortinam. Outros concluindo que o próprio problema é a prova da existência de algo superior, de uma Força Criadora, em suma, de Deus.
Deísmo e ateísmo partilham entre si a Razão. Só que, pela Razão, chegam a conclusões opostas…
Deísmo e teísmo partilham entre si a Crença. Só que o teísmo prescinde da Razão para obter a Crença e aquele obtém esta em resultado daquela.
Deístas e ateus utilizam o mesmo meio de se transportarem, mas chegam a destinos diferentes.
Deístas e teístas usam diferentes meios para viajarem, mas chegam ao mesmo destino.
O teísta crê e, porque crê, racionaliza essa crença.
O deísta usa a razão e chega à crença.
Historicamente, ouso dizê-lo, primeiro a Humanidade, as sociedades, os indivíduos foram teístas. Depois, alguns dos indivíduos, partes das sociedades e da Humanidade, evoluíram para o deísmo, não se conformando em só acreditar, procurando e obtendo fundamento racional para a crença.
Embora em termos lógicos, para o deísta a razão preceda a fé, em termos cronológicos, a fé precedeu a razão.
Daí a minha afirmação de que o deísmo é uma evolução do teísmo. Daí que, na minha maneira de ver, não exista uma oposição entre teísmo e deísmo, mas uma evolução de teísmo para deísmo.
No teísmo existe fé. No deísmo existe fé e razão. Aquela criando a necessidade da intervenção desta. Esta fundamentando a existência daquela.
É com base nestas considerações que, finalmente, poderei chegar onde, desde o princípio queria chegar: procurar definir e relacionar entre si Maçonaria Deísta e Maçonaria Teísta, sem esquecer que existem também aqueles que se reclamam de integrarem uma Maçonaria que não será nem deísta, nem teísta, nem ateia, antes a reclamam de ser universal (ou liberal). Mas isso ficará para um próximo escrito.
Rui Bandeira - publicado no Blog “A partir pedra” em 30 de Outubro de 2008.
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