outubro 01, 2021

A CHATICE NOSSA DE CADA DIA - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

Na década de 60, Guilherme Figueiredo lançou sua obra intitulada "Tratado Geral dos Chatos", uma verdadeira crítica comportamental que dava conta à respeito da maneira de agir de pessoas que não se apercebiam de quão inconvenientes eram.

Muito provavelmente o referido autor jamais poderia imaginar, o valor contemporâneo e significativo que o conteúdo e a essência de sua obra se tornariam.

Tomando-se por base que cada um de nós,  traz consigo uma certa dose de chatice - aliás ninguém está imune a isso - há contudo, milhões de pessoas que carregam na dose a insuportável capacidade de serem chatas.

Os exemplos são infinitos.  

Alguns na maneira de falar, outros no modo de interagir, há os que são metidos a engraçados, outros com a mania de interromper seus interlocutores, há os que não cansam de falar, falam pelos cotovelos e não conseguem ouvir dentre tantos tipos.

Contudo, nessa época de Internet, de mídias sociais, e de relações virtuais,

alguns tipos de chatos tornaram-se figurinhas carimbadas, e transformaram o exercício democrático da Internet e da interação on-line num verdadeiro inferno.

São mensagens, áudios, vídeos  e uma parafernália, que entopem o cérebro e a paciência de quem se arrisca a navegar pelas ondas sociais.

Internautas transformaram-se em arautos de fake news, emissores de opiniões mesmo que desconheçam um assunto.

O mais angustiante disso tudo é quando passam a se intitular  "formadores de opinião",  geralmente travestidos pela ignóbil expressão em Inglês de "digital influencers"  para dar mais status à sua irrefutável condição de "chato".

A figura do chato desconhece medidas, não se toca quando é demais e mal se apercebe de sua condição de "persona non grata"; seja em que cenário for.

O chato contemporâneo, tal qual o de antigamente, não perde a chance de se exibir.

Conjuga os verbos sempre na 1a. pessoa e jamais se esquiva de dar a sua opinião, mesmo quando não lhe é perguntado.

Como em todas as camadas da sociedade, o chato marca sua presença de maneira nada sutil.

É aquela pessoa desagradável, e que consegue impregnar um ambiente quando abre a boca.

Sem fugir da raia, a própria Maçonaria está infestada de "chatos irremediáveis" , cuja característica mais marcante é o de se julgar o senhor da razão, e o dono da verdade.

O chato consegue encontrar respostas pra tudo, não importa como. 

O chato é arroz de festa, não perde uma boquinha, é fanático, entende quase tudo pelo avesso, mas faz questão de deixar sua marca indelével, por mais insignificante e obtusa que seja.

O Tratado Geral dos Chatos merece um compêndio mais atualizado, uma vez que o exercício da chatice é algo inerente ao ser humano, cuja extensão desconhece fronteiras...



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