outubro 04, 2021

AS ORIGENS DA MAÇONARIA (parte 1) - Suami Paula de Azevedo


Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021

As nossas origens

Nesses tantos anos de Ordem, não temos como não atentar para os simbolismos que praticamos, nem para a constante de expressões hebraicas. E nos interrogarmos sobre onde iniciamos? Como evoluímos? O que nos foi formando?

Não há como ignorar que temos dois aspectos na nossa Formação, aquilo que acabamos denominando de Maçonaria Operativa, que nos dá a base da nossa denominação, “Maçom”, expressão francesa que se refere ao operário “Pedreiro”. Estes profissionais, lá longe, distante no tempo, na Antiguidade, na Idade Média, estavam ligados aos “construtores de templos”, um destaque na elevação de prédios, de edificações, que se reuniam nas suas Associações, as “Guildas”. Até que passam a receber entre eles, nas suas associações, as contribuições de “não-pedreiros” profissionais, depois, na Idade Média. A partir daí a Maçonaria, associação de construtores, já passa a ser também Especulativa. Até que esse aspecto, no século XVIII, a partir de 1717, torna-se exclusivo.

Vamos refletir sobre como, e porquê, passamos de uma para outra.

E nos tornamos uma Ordem. E escrever sobre a nossa Ordem não é trabalho simples. Actuamos sobre realidades factuais, como sobre mitos e metáforas. Voamos tanto sobre rituais, com menos de cem anos, como sobre bases da mais profunda Antiguidade. Passam por nós visões simbólicas a que dificilmente alcançamos uma representação interpretativa na atualidade.

Como toda a nossa formação foi sendo acumulada pouco a pouco e, sendo extremamente reservada, com uma plenitude de segredos, as nossas condutas foram sendo praticadas, mas sem ter abertura de origens e condições. E isto, só o tempo nos vai permitindo chegar aos significados. Os nossos simbolismos erguem-se sem que saibamos completamente os seus pontos, as suas origens de formação. E estes dados não são acessíveis de modo amplo, bem ao contrário. Temos de praticar, sem questionar.

Ainda assim, temos de estudar.

Todos os princípios norteadores mantém uma constante permanente, sempre a mesma busca, por “Verdade, Justiça e União”. Princípios que chamam a nossa atenção porque reúnem ideias de uma racionalização, uma chamado ao equilíbrio e ao respeito ao outro.  Seria apenas uma coincidência, uma constância de coincidências? Claro, podemos ir percebendo isso, além de outros tantos pontos, nessas mesmas linhas, que a História nos foi trazendo no correr dos tempos. Seria então, que tudo isto, a somatória de conhecimentos, pode levar-nos a desejar, a propor condições para nos autoformarmos melhor? E assim, para formarmos uma mundo melhor? Com rectidão e lógica chegarmos ao melhor de nós? Poderíamos, podemos, iniciar pelo lógica mais simples e precisa dos antigos construtores.

Poderíamos iniciar descrevendo também interpretações dadas pelas sete Ciências, as Artes Liberais: a Trivium (Lógica, Gramática, Retórica) e o Quadrivium  (Aritmética, Música, Geometria, Astronomia),  que passaram da Antiguidade a Idade Média. Mas nelas encontraríamos pontos de leituras do Universo que hoje nos são complexos, como é o caso da Astrologia, por exemplo, sem nos referirmos à Cabala, outra poderosa fundamentação. Ainda assim, muito há nas bases do Conhecimento que nos são oferecidos dentro da nossa Ordem. Contudo, cada passo que damos na busca pela identificação das nossas origens, alguns pontos se vão reafirmando, deixando de serem apenas coincidências para se tornarem sustentações efectivas.

Operativos

As escolhas podem ser muitas para o nosso início. Contudo, indo às nossas origens formais, percebemos que o primeiro ponto a destacarmos é o mais evidente, até pela nossa denominação, pois viemos das “associações de pedreiros”, seja como for.

Lá na distância dos tempos, sabemos que eles já tinham “formas iniciáticas” de se introduzirem ao ofício, “graus de evolução e aperfeiçoamento” que também mantínham os seus próprios “segredos” assumidos pelos seus próprios membros. Conservamos essas condições de origens, concretamente.

Temos sinais destas associações de tempos muito antes de Jesus Cristo. Tradicionalmente vamos pousar sobre os alicerces da construção do Templo de Salomão, em que a base hebraica sustenta umas tantas tradições que seguiram pela história do ofício de pedreiro, fundamentalmente dos “construtores de templos”, em especial, mas eles também construíram casas, depósitos, portos e castelos.

Porém, apesar de mantermos a mesma denominação, “pedreiros”, aqueles que dão forma às pedras, que trabalham com as pedras, não seguimos o mesmo ofício materialmente. Seguimos uma forma simbólica de enfrentarmos as “pedras humanas”. Passamos do “ofício operativo para o ofício especulativo”. E estes sinais de novos enfrentamentos já passaram a ser vistos nas associações de pedreiros desde o século XIII, como comprovam alguns documentos encontrados por amplas áreas da Europa e, sem esquecermos, no Oriente Médio. Mas não podemos relegar que mantemos ainda muitos sinais Operativos nas nossas práticas, como, por exemplo, “a corda dos 81 nós”, que se repetem em muitos dos nossos símbolos. Atentemos a isto.

Com a evolução vamos constatando a redução, até o desaparecimento das associações de “ofício operativo de pedreiros”, na sua forma original. E, ao contrário, fomos constatando a evolução ampla das associações agora no “ofício de pedreiros especulativos”, aqueles que se reuniam para reflectir em como “construir um mundo melhor, em como melhorar o próprio homem, em como melhorar a si mesmo”.

Haveria uma base religiosa nessa nova postura? Observa-se que já havia uma constante com a “assunção da Religião Cristã” que vai sendo assumida pelos romanos, e repassada por toda a Europa, desde lá na sua base hebraica, de Cristo, mas sob a própria leitura dos romanos que criarão a “Igreja Romana”. E justamente, é com uma significativa evolução dessa linha, que, muitos séculos após, se iniciam as Cruzadas, que visam exatamente o domínio da origem da base cristã, em Jerusalém, no Oriente Médio.

E após a Primeira Cruzada, no século XII, temos a criação do grupo de monges guerreiros, que se instalam exatamente onde teria sido erguido o Templo de Herodes, no mesmo plano em que muito antes teria estado o Templo de Salomão. Monges guerreiros esses, que, por isso, foram sendo conhecidos exatamente por “Cavaleiros Templários”, que ali se estabelecem e evoluem na história por cerca de duzentos anos com respeito, admiração e riqueza, em locais que vão da Europa ao Oriente Médio.

Eles construíram inúmeros castelos, fortalezas e templos por todas as partes onde passaram. Sempre no seu próprio estilo de construção, o gótico, que se alongou por toda parte. Eles também pregaram a “obediência, o respeito, a pobreza e o bem”. Só o Papa lhes podia dar ordens, nem um rei tinha esse alcance. Claro, isto provocou algumas invejas reais. Os Templários criaram sistemas financeiros que darão base aos actuais sistemas bancários. E muitos nobres e mesmo reis passaram a se endividar com eles.

E em 1307 passam a ser perseguidos pelo rei da França, Felipe, o Belo, que também tinha muitas dívidas com os Templários, por alegadas falsas heresias e, inicialmente, contou com a condenação também do Papa Clemente V, muito ligado a esse Rei. Muitos dos Templários que estavam na França, são presos na sexta-feira, 13 de Outubro, tornando essa ocasião, sexta-feira 13, o grande “Dia do Azar”. Foi preso, inclusive, o Grão-Mestre da ordem, DeMolay, que em 1314, depois de sofrer tortura, é executado numa fogueira, na Ilha, pouco adiante da Catedral de Notre Dame, de Paris. Recentemente descobriu-se que esse mesmo Papa, Clemente V, ordenou uma investigação sobre as acusações aos Templários, de 17 a 20 de Agosto de 1308, portanto bem antes da execução do Grão-Mestre, que resulta no seu perdão, como registra o “Pergaminho de Chinon”, que permaneceu escondido no Arquivo do Vaticano por 700 anos (Barbara Frale).

Desde então, do século XIV, os Templários passam a ser muito perseguidos. Todos os Cavaleiros que puderam saíram da França. Muitos se instalaram por toda a Europa, especialmente na Alemanha, na Suíça, na Espanha, em Portugal, países onde assumiram outras denominações, e, em especial na Escócia, onde passam a fazer parte da nobreza e parceiros dos reis. Mas, com certeza, reconheça-se também, alguns reis ignoraram, ou fingiram desconhecer as perseguições aos Templários.

Estas perseguições obrigaram a que se tornassem secretos, ou extremamente discretos. E como eles eram “muito ligados aos seus arquitetos e pedreiros”, seus rigorosos construtores de Templos, deles tiveram a colaboração.

Especulativos

O destaque que vemos é o apoio encontrado pelos Templários na Escócia. Contribuíram fortemente na conquista da Independência desse País, derrotando o Rei da Inglaterra em batalha, Bunnockburn (em 23/24 de Junho de 1314, dia de São João, Solstício), sob o estandarte do Príncipe Robert Bruce, da Escócia, coisa não reconhecida totalmente por alguns historiadores. Alguns registros existem, mas também restam lendas, a respeito, como é a manifestação de pessoas daquele tempo, destacando a presença nas batalhas de “guerreiros valentes e de pele muito queimada de sol e com barbas longas”, coisa muito diversa dos bem brancos escoceses, com certeza. O que poderia indicar gente que tivesse passado pelo Oriente Médio, efectivamente, dado muito próximo dos guerreiros Templários (Knight e Lomas).


Na Escócia ainda, historicamente demonstrado, teremos, resultante de tanto disso, a fundação da Ordem Real da Escócia (Ordem Real do Heredom e dos Cavaleiros da Rosa Cruz, em Kilwinning) que mais tarde se juntou a Ordem de Santo André de Chardon, fundada em 1540 por Jacques II, rei da Escócia, extinta entre 1687 e 1703. Ordens essas que atenderam todos os Templários naquele País. E, o que não se pode negar, portanto, é a proteção real aos Templários foragidos através das Guildas de Maçons e dos construtores escoceses, especialmente nas cidades de Bath, Bristol e York.

Aqui está mesmo a base da montagem da Franco-Maçonaria Escocesa, ou seja, da Maçonaria Moderna. Os reis da Escócia de então tornaram-se os Grão-Mestres da Franco-Maçonaria do País (Élize de Montagnac).

Em seguida, com tudo isto, o que vemos é fortemente as associações de pedreiros receberem mais e mais nobres, intelectuais, cientistas, militares e outros. Passa-se a estudar as maneiras mais positivas de transformarem o mundo em melhores espaços, em melhores condições de se viver. Constata-se a “redução efectiva” dos “pedreiros operativos” para a instalação de “pedreiros especulativos”, que estudam, que pesquisam. É o que veremos mais adiante.

Sabemos todos que a palavra “Pedreiro”, em português, significa “Maçom”, em francês, e “Mason”, em inglês. Assim, seguindo a postura da “Ordem dos Templários” vemos instalar-se no seguir daqueles tempos de então, século XIV, a nossa “Ordem Maçónica”.

Com toda certeza, não podemos negar, que a evolução da Ordem Maçónica, por todo o mundo foi-se fazendo com adequações e adaptações aos tempos e as gentes que a vivenciavam.

Tivemos alterações em graus, como a criação do Terceiro Grau, de Mestre Maçom, no século XVIII, no nosso Simbolismo. Até então, os Maçons Operativos tinham, reservadamente, o Grau de Aprendiz e o Grau de Companheiro, que exigia muito segredo. As funções de Supervisor, isto é, Vigilante, bem como de Presidente da Loja, ou seja, ser Mestre, eram exercidas por aqueles escolhidos entre os Companheiros. Nos séculos seguintes, conclusivamente no século XIX, tivemos a finalização dos 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. Este Rito e outros sofrem interferências seguidas com o tempo. E aqui, justamente, serão fortemente dispostos nos Graus Superiores, Filosóficos e Administrativos, alguns modelos fundados nos Cavaleiros Templários.

Templários e Maçons

Observe-se que, ainda que muito lentamente, descobre-se dados que sustentam a “proximidade original entre a Ordem dos Templários e a Ordem Maçónica”. Em 1610 foi descoberto em Paris, por Aubert-le-Mire, cientista e historiador, decano de Anvers, um Código de Regras composto por 72 artigos, determinado por São Bernardo, definindo como os Templários se deviam portar em relação à hierarquia, à disciplina e ao cerimonial.

Três outros códigos manuscritos foram também encontrados, em 1794, na Biblioteca do Príncipe Corsini, pelo cientista dinamarquês Münster; outro na Biblioteca Real por M. Guérard, conservador e restaurador; nos Arquivos Gerais de Dijon por M. Millard de Cambure, mantenedor dos Arquivos de Borgúndia, de 1840. E, observe-se que historiadores identificaram neste terceiro Código as maneiras de iniciação dos “irmãos cavaleiros”, chamando muito a atenção o tanto de “coincidências” com os rituais maçónicos.

Apenas para chamar a atenção, estava disposto que o capelão, depois que o irmão recebia o seu manto, o seguia entoando, destacadamente o Salmo 133.

Os Templários trouxeram à Europa muitos símbolos e cultos não apenas das tradições antigas hebraicas, mas também das associações maçónicas. A reserva dessas práticas, ao serem visualizadas implicaram, também, em gravíssimas acusações.

Na Escócia, vão ocorrer, hoje sabemos, misturas em práticas Templárias com algumas tradições locais, tais como os antigos ritos celtas de Heredom. Hoje podemos identificar alguns desses pontos no que muito mais adiante se vai fazer o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Alguns estudiosos ressaltam o desenvolvimento do culto de um “gnosticismo ecléctico que admite e harmoniza os princípios de várias religiões, conciliando o politeísmo na sua essência com os mistérios mais profundos do cristianismo”.

E, veja-se, foram ligados, de um lado, a antiga concepção de Deus com, de outro lado, os conceitos de “Sabedoria, Força e Beleza”, que se estabelecem na Maçonaria. E ainda vamos identificar nos Altos Graus, uns conceitos além, como “Sabedoria, Estabilidade e Poder”, pontos provindos do Santo Graal, referindo-se a “Justiça dos Governos, Sabedoria das Leis e Pureza dos Costumes”. É nesta que se fundava a “arte de governar os povos”.

Tratando-se ainda de documentos encontrados, sabe-se que desde Napoleão Bonaparte, na invasão a Roma, em 1809, tem-se o registro de testemunho de um Templário (Jean de Châlons) que se refere a “três carroças enormes puxadas por cinquenta cavalos que tinham saído, na quinta-feira, 12 de Outubro de 1307 (véspera da prisão dos Templários), do Templo de Paris, conduzidas por Hughes de Châlons, Gérard de Villers e cinquenta outros cavaleiros, transportando “totum thesaurum Hugonis Peraldi”. Diz ainda que teriam seguido para La Rochelle onde embarcaram em 18 navios para local não informado. Observe-se que Bonaparte sempre se tentou tornar um Cavaleiro Templário e Maçom, sem nenhum sucesso.

Não pode ser esquecida a presença destacada de membros da Família nobre da Escócia, os St. Clair (Saint Clare), hoje denominados de Sinclair, que com a construção da Capela de Rosslyn, no século XV, destacam-se como figuras centrais da Maçonaria Templaria.

Aliás, este templo guarda muitos sinais e símbolos templários e maçónicos, nem todos ainda explicitados. Há pontos da Capela que as autoridades escocesas não autorizaram ainda a adentrar, quando é sabido que os St. Clair tinham ancestrais que lutaram como Templários no Oriente Médio e de lá, como da França, trouxeram para a Escócia muito material, tanto Templário como hebreu, até hoje ainda não plenamente exposto, mesmo que uns tantos sejam revelados em publicações de estudiosos dessa mesma Família.

Aliás, além disso, alguns outros sinais, como “espiga de milho”, trazidas da América (em viagem de 1398, muito antes de Colombo), com barcos templários, estão claras na decoração da Capela. O historiador Andrew Sinclair o relata (como citado por Gardner). Assim, são muitos e demasiado fortes os demonstrativos das ligações, por múltiplos referenciais, do Templarismo com a Maçonaria.

De fato, não podemos deixar também de considerar o demonstrativo histórico de um documento, ainda hoje conservado na Sala do Conselho do Mark Mason´s Hall, registrando a sequência de Gãos-Mestres Templários, após DeMolay, que teria transferido a Johannes Marcus Larmenicus a sua sucessão, desde 1313. Quando esse ficou muito idoso, redigiu uma carta de transmissão de poderes a outro Templário, Theobaldus, que os sucessores foram repassando aos demais até o último registrado ali, Bernard Raymond, em 1804. Estes sucessores templários vivenciaram muitos problemas, quebraram modelos antigos rígidos, com Cavaleiros, contestando o que o Grão-Mestre definia, como está documentado.

Porém, como definiram que DeMolay renunciou ao Grão-Mestrado? Onde e quando foi feito o documento que isso estabelecesse, se ele estava isolado, sem acesso? E quem eram esses “cavaleiros templários” desconhecidos de todos? E, que definiram na renúncia desse Larmenius (1324), que os Templários que saíram da França para a Escócia, no século XIV, não passavam de desertores, como de traidores a serem excomungados. O facto é que esses “templários”, reais ou irreais se exterminaram em 1848, como podemos ler nas suas atas e decretos. Nada os fundamentou (Montagnac).

A História da França oficial, quando se refere a fundação da Abadia de St. George, registra alguns dados que devemos considerar. Diz que o Grão-Mestre de Auverne, Pierre D’Aumont, fugiu para a Escócia em 1307, junto com dois Comandantes e cinco Marechais de Campo, desembarcando na Ilha de Mull. E ali, “disfarçados de maçons” (operativos), denominavam-se “maçons-livres”, ou “pedreiros-livres”. Esta expressão estaria ligada, a partir de 1314, a ideia de não estarem mais subordinados a nenhuma ordem militar ou religiosa. Afirma-se que eles “adaptaram os seus rituais templários para fazer uso simbólico das ferramentas do ofício de Maçom” (Montagnac).

Entenda-se também, que o Discurso de Ransay, impresso em 1738, não deve ser omitido, ou esquecido aqui, contudo, ele apenas afirma a ligação da nossa Ordem com a Cavalaria Medieval. No entanto, não sustenta essa afirmação.

Há afirmações de que é desta origem a instalação do Rito da Estrita Observância, na Alemanha e na Escandinávia (que é a denominação dada no continente europeu ao Sistema de Ramsay, desenvolvido pelo Barão de Hund). Esse Rito, mais tarde, ainda daria origem ao Rito Escocês Rectificado e às Ordens Martinistas.

Seguramente, o mesmo deve ter ocorrido noutras partes da Europa.

O que se constata são pontos não plenamente explicitados entre, por exemplo, Rosslyn, no século XV, e Londres, no século XVIII, em 1717.

Ainda, considerando os primórdios, na Escócia, não podemos negar os demonstrativos de muitos pesquisadores de que temos, destacadamente, numerosos sinais, desde o século XIV, em túmulos como em construções, com identificações não apenas de Templários, como de Maçons, além dos seus modelos de construção.

Racionalismos

Insistentemente temos demonstrativos históricos de que passavam a fazer parte das associações de pedreiros as “pessoas mais distintas da sociedade escocesa”, incluindo-se príncipes e reis. Todos especialmente a partir daquele século, mas seguindo em frente até a actualidade.

Isto faz-nos identificar esta nova faceta dos maçons, dos pedreiros, extremamente ligada àqueles antigos cavaleiros, monges-guerreiros. Sejam nos aspectos de visões religiosas, sejam nos aspectos de ritualísticas. Sinais inegáveis. E todos “vinculados a uma leitura do início do cristianismo, na sua formação hebraica”. E isto não apenas em relação a expressões linguísticas, mas também nos significados mais antigos daquela cultura nas nossas tradições.

E tais absorções foram-se seguindo não apenas nos Graus Simbólicos, mas especialmente nos Graus Filosóficos, em que são possibilitados conhecimentos muito mais amplos da formação histórica do Homem Ocidental e suas referências explícitas aos Cavaleiros Templários.

Fica patente que após os romanos terem assumido o Cristianismo, modularam a sua leitura. Diferenciaram-se das tradições hebraicas, certamente, ainda que com as três alternativas de apreensão com “Jesus: Deus-Homem-Filho-de-Deus”, ainda que fosse judeu. E algumas dessas diferenças foram-se tornando demasiado fortes, na interpretação dos Cavaleiros Templários.

Observa-se, inegavelmente, alguma ligação de “interpretação racionalista” dos Templários para os documentos dos primórdios do Cristianismo. Algo que, sem dúvida, se achega ao Gnosticismo. Não se tem condições ainda hoje de afirmar com segurança essa vinculação. Mas o tempo nos há de permitir alcançar mais dados, sejam contra ou a favor dessa postura. Não há como negar que a Maçonaria sempre se posicionou em postura bastante racionalista. Mas, ante às inúmeras intervenções nesses séculos, não apenas sobre os rituais, como sobre a simbologia, temos de aprofundar os estudos para alcançarmos mais clareza.

E deixemos aqui também mais uma dúvida. Há informações insistentes de que os Templários seguiram o “Santo Graal”, a lenda do casamento e sucessão de Jesus. Que também afirmam que Jesus não foi crucificado, sendo o seu corpo lavado após. E aí, neste último ponto, temos um contraditório. Hoje sabemos que o Santo Sudário foi mantido pelos Templários, além de já o termos reconhecido como real, sendo as marcas nele existentes iguais às descritas na Bíblia sobre os ferimentos de Jesus (Frale).

Estamos aqui referindo-nos aos Templários baseados na Escócia. Em Portugal (Cavaleiros de Cristo) e Espanha (Cavaleiros de Montesa) submetiam-se à Igreja Católica Romana.

Com certeza temos muito a descobrir, a aprender. Precisaremos de mais tempo e vontade.

A Ordem Maçónica Hoje

Somente a partir do século XVIII, em 1717, com a declaração expressa da Ordem Maçónica, que só se reconhece totalmente Especulativa, é que os seus membros puderam passar a ser apenas discretos. Ainda assim, em muitos países e épocas posteriores, nesses últimos trezentos anos, perseguições ocorreram.

Apenas nos dias de hoje, mesmo no Brasil, a Ordem Maçónica não é oficialmente insegura. Porém, as mentiras inquisitoriais persistem, contra a Maçonaria, como o foi contra os Templários. A Igreja Católica persiste mantendo sob o jugo Inquisitorial quem apoia a Maçonaria. Esta área da Igreja recebeu outro nome em 1904 e em 1965 passa a denominar-se “Congregação para a Doutrina da Fé”. Ainda que tenhamos exemplos demonstrativos de razoabilidade, até no Brasil, conforme texto de D. Eugênio de Araújo Sales (2001).

Ainda, neste momento não podemos afirmar, por falta de documentação histórica a ser exposta, que foi por decisão da Ordem dos Cavaleiros Templários que se criou a Ordem Maçónica actual em que temos seguidores por todo o mundo. Isto se faz apenas evidente se nós fundamentarmos a nossa nova origem na Escócia.

Ainda assim, fica absolutamente evidente que “somos os seus continuadores”, queiram alguns ou não.

Particularmente, não entendemos que o tanto que seguimos dos ritos templários tem apenas semelhanças copiadas, como forma de metáfora. E nem porque devamos seguir esses ritos por representarem mitos modelares “interessantes”. Parece-nos, sim, que precisamos buscar, em estudos mais aprofundados, identificarmos os modelos exemplares instruídos pelos Templários e que seguimos, ainda sem interpretá-los plenamente.

“Na Ordem Maçónica temos posturas militares, temos posturas religiosas, temos posturas de reflexão, temos posturas físicas. Todas rígidas. Todas fundadas em formas de Conhecimento na busca de interpretação, entendimento do Universo”. Rituais as exigem.

A nossa finalidade, enquanto Fraternidade, enquanto Ordem, é tornar o mundo em que vivemos mais acessível, para torná-lo mais em condições de se adequar as nossas necessidades de uma vida melhor para todos na actualidade e no futuro.

Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021


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