novembro 24, 2021

A ABÓBADA DO TEMPLO - UMA VISÃO SINÓTICA - Norioval Alves Santos



O tema é por demais interessante, para não dizer necessário, pelo menos para os estudantes da matéria, assim como eu. Desse modo, é oportuno afirmar que não se pode precisar, exatamente, desde quando os Templos destinados às iniciações vieram a ser construídos, sob a inspiração da imagem do Universo. Todavia, sabe-se que, desde intrínsecas eras, a decoração de seus interiores, sempre demonstrou essa tendência, sobejamente.

No HIndustão, na Índia, na Pérsia, no Tibete, na Grécia e em muitos outros locais, enfim, em todos os outros países, cuja história noticiou a existência desses Templos, vem prevalecendo, na mente de seus idealizadores, a idéia de se imprimir nos Templos, uma reprodução mais ou menos semelhante ao sistema cósmico. Assim sendo, com o fito de se perpetuar a imagem dos Céus, é que os tetos desses Templos eram e, ainda hoje são, o esboço da construção, na forma mais original de uma abóbada celeste.

A suntuosa decoração, aposta àquelas coberturas dos Templos Maçônicos, respeitava, invariavelmente, a reprodução cuidadosa do firmamento, intercalado de nuvens de todos os feitios, coalhados de estrelas e inúmeros astros planetários, formando um conjunto harmonioso e representativo do cosmos.

A abóboda dos Templos antigos, "ad argumentandum", fixava um ponto para contemplação e, interessante, deixava no espírito do iniciado, uma impressão maravilhosa e indescritível, acerca do misticismo presente no seu traçado por demais peculiar, fundamentado nos corpos celestes que rodeiam a terra, majestosos e colossais, nas suas trajetórias e representações simbólicas, naquele ambiente de estudos e aprendizado singulares, um suntuoso painel representativo do espaço ocupado pelo gênero humano.

Inobstante o progresso experimentado, haurindo essa tradição secular, os seus propósitos de fidelidade às origens, a Maçonaria manteve o mesmo pensamento e passou a construir seus Templos, em todas as partes do mundo, com iguais características. Então, nesse desiderato de convergir as preocupações de seus filiados para a aspiração mais objetiva de um verdadeiro engrandecimento espiritual, determinou que nos tetos de suas Lojas fossem aplicada a cor azul e se destacassem nuvens, estrelas e alguns planetas.

A abóbada azúlea de uma Loja Maçônica representa, destarte, em primeiro plano, o sentido de universalidade da Instituição. A cor azul predominante alí, passou a simbolizar a magnanimidade e lealdade provadas como virtudes que elevam a alma humana. O emprego dessa cor, na abóbada do Templo, sequencialmente, justifica a representação simbólica de todas as emulações dirigidas pelo bem e pelo amor fraternal divinizados.

Durante a intercorrência de suas reuniões templárias, acrescente-se, todos os membros dessa sublime Ordem - os maçons ativos - deverão ter sempre presente em suas cogitações, o significativo valor simbólico, decorrente da abóbada celeste, em sua imponente representação.

Nesse mesmo sentir, a distribuição das estrelas, nesse revestimento que encima o recinto, obedece à seguinte ordem:

Localizada mais ou menos no centro da abóbada, a constelação de Orion que, no viveiro celeste, fora do zodíaco, dá idéia de um gigante desenhado com oito estrelas da constelação dos Plêiades, que fazem forcejar os ombros imagináveis do touro, como inspira a sua disposição, motivo pelo qual precisa ser estudada e entendida, sobretudo.

As cinco Hiades, que lembram as Ninfas, filhas de Atlas, que tomaram por encargo a criação de Apolo, desde crianças, tem rico significado místico, merecendo a atenção de quantos estudam os assuntos ligados a Ordem, ou que convivem com os seus mistérios iniciático e seculares.

A conhecida Aldebarã, da constelação de touro, é a única de cor meio avermelhada, assinalando o olho direito da figura, em cujos ombros cintilam as Plêiades. Do outro lado, a meio caminho da constelação de Orion, mais par o nordeste, vê-se Régulo, da constelação de Leão; ao norte, o grupo da Ursa Maior, com sete estrelas, que é a constelação mais antiga, nos registros da Astronomia. Já foi chamada de "sete bois da lavoura", perdidos nas vastas pastagens dos Céus, dando origem à palavra Setentrião; a nordeste, vê-se Arcturo, uma magnífica estrela de cor amarelo-dourado, que assinala o joelho esquerdo do "Boieiro", guarda dos "sete bois da lavoura" que forma a Ursa Maior; ao leste, a Spica, da constelação de virgem, que quer dizer "espiga", sempre à sombra da constelação de Leão; a oeste, Antares, uma soberba estrela vermelha, de brilho médio, da constelação de Escorpião, assinalando o lugar do coração; e, ao sul, a chamada Formalhaut, que é assinalada na mão direita da inofensiva figura de virgem.

Na parte situada sobre o Oriente da Oficina, o planeta Júpiter, o maior dos mundos de nosso sistema planetário, sete satélites escoltam sua grandeza, pois é sete vezes mais largo que a terra. Os nossos antepassados o qualificaram como o soberano dos deuses mitológicos, devido à nobre lentidão com que ele procura o zodíaco; ao ocidente, Vênus, cuja localização no espaço é entre a terra e Mercúrio, o mais próximo do Sol. É conhecida, também, como a estrela Pastor, a mais radiosa e mais brilhante do Céu. Os poetas gregos lhe deram, por essa razão, o nome de Deusa da Beleza, também chamada de Vésper ou estrela da tarde e Dalva ou estrela da manhã; próximo de Orion, está Saturno, com seus satélites, parte do mesmo sistema planetário a que pertencemos, irmão da terra, porque gira em torno dela, em função de seu equador à pouca distância de seu solo, há um vasto anel achatado e delgado, formando um imenso círculo em forma de cinto, seguido de um anel, protegido por um terceiro, como um arco gigantesco lançado por cima do planeta, com a posse de dez luas.

Assim, as estrelas falam do passado e contam velhas lendas, ilustradas por caprichosas imagens de quadros mitológicos, sem valor para a ciência, mas sobremaneira atraentes para os espíritos sonhadores. Muitos desses quadros, revivem as lembranças dos heróis, cantados por Homero, Hesíodo, Ovídio e, posteriormente, pelos egípcios e hindus, contempladores do espaço sidéreo.

Sem que se prejudique a visibilidade das estrelas, são intercalados os diversos fingimentos de nuvens, na abóbada. Na parte que corresponde ao Oriente, não é admitido esse gênero de decoração.

Nesse sentir, o aspecto que devem assumir as nuvens do Ocidente, é o assemelhado dos "ninhos" ou "cúmulos", bem pardacentas, com nuances mais carregadas para o lado sul. Na proporção que se vai aproximando do Meio-Dia (centro da Oficina, onde está a constelação de Orion), as nuvens deverão ir desaparecendo em nuances amenizadas, em forma de "stratos" e "cirros". Na altura das balaustradas, cessa a presença de nuvens, na abóbada do Templo.

Nesse mesmo sentir, ainda, a variação de tonalidade das nuvens, verifica-se à medida que se aproxima da parte correspondente ao Oriente. Este particular, simboliza a progressão dos conhecimentos adquiridos pelos iniciados. Desse modo, todas as tempestades e nebulosidades que pudessem afligí-los, ou abafar suas finalidades, as melhores da vida, vão desaparecendo, do mesmo modo, à medida que caminham para a frente. Na área alternada com o Oriente, não existe nuvem alguma e deve apresentar um panorama de perfeita tranquilidade. O maçom para chegar a merecer a localização no Oriente, faz-se naquele que completou o ciclo de toda aprendizagem, portanto apto para exercer a plenitude maçônica.


No verdadeiro Templo de Salomão, a parte que hoje corresponde ao Oriente das Lojas, lugar onde a Luz Eterna permanecia para irradiar, em todas as direções, era denominado de "Sanctun Sanctorun". Por esse motivo, todos a aceitavam como a área mais santa do Templo, cujo acesso era proibido aos profanos, só admitido o ingresso de Sacerdotes, assim mesmo àqueles que se sentissem embalados pela serenidade que os fizessem esquecer todas as inseguranças e imperfeições da vida comum.


O Venerável Mestre, como Chefe da Oficina e mestre intelecto de cada obreiro, fica colocado abaixo desse trecho da abóbada, oferecendo aos maçons membros, o ensinamento litúrgico de que a luz penetra, serena e inexoravelmente, onde se cultivam os dotes da inteligência e do saber, para sublimação do espírito sobre a matéria.


Acrescente-se, por oportuno, que fixando o olhar na abóbada do Templo, despersonalizado de sua vida tumultuada, afastado das preocupações profanas do dia-a-dia, todo maçom estudioso sentir-se-á colocado acima de todas as castas de sofrimentos morais e físicos. Contemplando-se na sua magnitude, à margem das ilusões terrenas, o maçom convencer-se-á, finalmente, da verdade inquestionável de que o Mestre dos Metres - o Grande Arquiteto do Universo - somente galardoará àqueles que saibam cumprir bem os seus deveres, como cidadão e como Obreiro da Arte Real.


As constelações estrelares, disseminadas pelo teto azulino do Templo dedicado à virtude, simbolizam os laços importantes que prendem todas as obras da criação, umas às outras, assim como a criatura ao seu Criador.

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