novembro 24, 2021

CIRCULAÇÃO ANTI-HORÁRIA - Pedro Juk




O Respeitável Irmão Jeronimo J. F. Lucena, Mestre Instalado, Loja Tríade de Santos, GOP (COMAB), Oriente de Santos, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte dúvida: 

Iniciado em 1989 no Rito Adonhiramita e desde 2001 no REAA, algumas curiosidades me intrigam, por exemplo: gostaria de saber do amado Irmão se existe alguma explicação mística para circulação anti-horária praticada na segunda viagem na iniciação do grau de Companheiro Maçom no Rito Moderno.

*CONSIDERAÇÕES:*

Rito Moderno, ou Francês - um Rito surgido no Século XVIII na França baseado na prática dos ditos “Modernos” de 1.717 na Inglaterra, tem na sua história um arcabouço doutrinário embasado na “razão” dando ao Homem e a sua consciência a interpretação devida da sua crença particular.

À época do nascimento do Rito, havia na França o mercantilismo dos ditos “altos graus”, imposto por aqueles que queriam aristocratizar a Maçonaria, torna-la como uma espécie de braço templário, cavalaria, etc. 

Nessa bagunça generalizada, o Rito adequou-se em não compactuar com os excessos dos graus superiores, a tal ponto que por uma comissão de exegetas a sua espinha dorsal ficaria composta pelos três graus simbólicos e mais quatro com uma espécie de aperfeiçoamento. 

Essa composição lhe daria então o conhecido título do Rito dos Sete Graus. Infelizmente, devido a certas bazófias humanas, já desfiguraram o belo Rito, incluindo nele mais graus acima dos seus sete originais, e isso sem contar que já o desfiguraram no próprio título, pois do seu original “Moderno, ou Frances” alguns “entendidos” o denominam apenas de Rito Francês e alguns ainda somente de Moderno. 

Ora, isso é mero desconhecimento da História da Maçonaria e do Rito em particular. O título de “Moderno, ou Frances” é parte integrante da sua história, pois o mesmo fora assim adquirido justamente para alicerçar o Rito que se associava na oportunidade com a vertente moderna surgida na Inglaterra por ocasião da fundação da Primeira Grande Loja em Londres. Omitir esses fatos e alterar uma tradição eu diria que é qualquer coisa de irresponsável.

Quanto à questão da “circulação” ela é tomada no Rito Moderno, ou Frances tradicionalmente com o deslocamento sempre no sentido horário quando houver a necessidade de se passar de uma para outra Coluna, pois é racional o deslocamento horário (dos ponteiros do relógio) relacionado à manhã, tarde e a noite (marcha diária do Sol). Esses deslocamentos quando relacionados às viagens partem do eixo imaginário que é o Equador. Sinceramente eu não sei o que pensam certos ritualistas que não observam o óbvio e ululante. 

Nessa questão colocada pelo Irmão eu já vi rituais que inclusive cometem esse disparate até na Iniciação.

Falando em Iniciação e para que não haja falsa interpretação, a Terceira Viagem é feita pelo Iniciando dando três passos sobre o eixo em direção ao Oriente. Posteriormente ele se volta para o Norte e Ocidente retornando ao seu lugar entre Colunas. Isso não quer dizer que ele circulou o contrário, pois sem cruzar o eixo (Equador) para o outro hemisfério (Sul) não existe circulação.

Agora, se deslocar para o Sul sem primeiro ter se passado pelo Norte é atitude imensamente equivocada.

Em relação às viagens do Grau de Companheiro (Elevação) todas elas definitivamente deveriam começar a partir do eixo pelo Norte. Infelizmente ainda existem rituais que vão intercalando o início – uma pelo Sul e outra pelo Norte sucessivamente. Sem dúvida, isso é uma verdadeira aberração ritualística. 

Entendo que essas anomalias geralmente foram impostas pela raiz do Rito possuir elo com os Modernos da Inglaterra, esquecendo-se, porém estes, de que nos Trabalhos Ingleses (lá não se fala em rito), não existe circulação, nem eixo do Templo, nem Colunas do Norte e do Sul, dentre outros. 

Penso que talvez pela lei do menor esforço e se achando que tudo é igual em Maçonaria, além de bonito para alguns, as coisas acabaram chegando onde estão. 

Bem, já observei até ritual chamando o Equador de “meridiano” – durma-se com um barulho destes.

Obviamente, essa modalidade de enxerto e achismo na Maçonaria não são privativas do belo Rito Moderno, ou Frances, porém de muitos Ritos espalhados pelos rincões terrestres. O grave erro que se comente no campo da ritualística do Rito, é que alguns “fazedores de rituais” não atentam, ou mesmo não sabem, a sua mensagem doutrinária. Daí para o passo seguinte é o caminho mais curto para as contradições.

Por assim ser, seria difícil uma explicação coerente entre o horário e anti-horário do Rito em questão.

Em se falando de Maçonaria Inglesa e Francesa, fica aqui a sugestão do estudo no sentido de se identificar a diferença existente entre essas duas vertentes, bem como as influências possíveis que possam acontecer de uma sobre a outra.

Finalizando e para se evitar que os críticos de plantão não se arvorem contra meus apontamentos como se tivesse eu desrespeitando alguns rituais aprovados e em vigência, deixo aqui o seguinte esclarecimento: “Meu ponto de vista é o da autenticidade e não o da instigação e desrespeito contra textos legalmente aprovados. 

Todavia, sendo eu membro da Sublime Instituição, também tenho o direito de discordar de opiniões, salvo quando se apresentem provas em contrário. Penso que devo pelo menos sugerir o caminho judicioso que objetiva uma melhor aprumada e nivelamento da Obra”.

Um comentário:

  1. Resposta embasada do "enciclopédico " irmão Pedro Juk sobre ritualística , que conhece como poucos. Grato Erudito irmão

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