novembro 10, 2021

DO PONTO HARA - Heitor Rodrigues Freire

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Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis, advogado, past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. Contribui regularmente com este blog

O estudo permanente para o autoconhecimento enriquece naturalmente a nossa vida, pois o aprendizado abre novos caminhos, consolida outros e cria novas perspectivas. 

Assim, percebemos que o corpo humano é uma prova inconteste da existência de Deus. Composto por tantos órgãos, células, moléculas, átomos, neurônios e centros de energia distribuídos ao longo da cabeça, tronco e membros, o nosso corpo configura uma miniatura do universo, cujo funcionamento independe da vontade de cada um. Todos os componentes têm vida própria, obedecendo a um ordenamento lógico e natural, que emana de uma fonte primordial: Deus.

Essa energia que permeia o universo, chamada de Deus, envolve o ser humano e se distribui por todo o seu corpo, de forma inteligente e ativa. Cada órgão tem sua individualidade e função, e todos estão irmanados no corpo de cada ser.

Dentro desse universo, o papel do umbigo vai além da psiquê e da biologia. Ele é, também, um ponto cármico, um nó de energias para inúmeras tradições religiosas e culturais. É nessa região da barriga que se concentra a energia vital – o ki dos japoneses, o chi dos chineses e o prana dos indianos. 

O nome do ponto abaixo do umbigo, em japonês, é chamado Tanden, em chinês é considerado o baixo dantian e no yoga chama-se swadhisthana ou chakra esplénico. Este centro energético é o grande reservatório de ki, chi e prana, que são os nomes dados à energia pelos japoneses, chineses e indianos.

No Japão, o hara, ou o centro do corpo, está relacionado ao senso de honra e dignidade. Antigamente, quando se sentiam desonrados, os japoneses cometiam um suicídio ritual, o harakiri, cravando o punhal na região do hara. Assim encerravam a vida no lugar onde ela havia nascido. 

Um hara forte significa poder espiritual. Nas gravuras japonesas e chinesas, os homens santos costumam ser representados com um círculo de luz localizado no baixo ventre. É por isso que um Buda, um iluminado, é visto nas imagens com a barriga proeminente.

O umbigo, essa marca central em nosso corpo sobre o qual já falei num artigo anterior, suscitou em mim uma curiosidade crescente que me levou a pesquisar mais sobre esse tema misterioso.

O umbigo tem um grande significado. É o centro do ser humano. Tem uma grande função, embora invisível. É o local da criação da coragem e da raça. O umbigo é como se fosse a nossa impressão cósmica de uma relação transcendente. É  a nossa marca individual, espiritual, com a nossa matriz, a mãe que nos nutriu e manteve durante todo o período da gestação, e cuja relação nos uniu de forma definitiva em nossa encarnação. É um registro indelével de que primordialmente estivemos conectados a outra pessoa e totalmente dependente dela.

Descobrir e estudar o umbigo está se constituindo para mim num processo enriquecedor para o meu autoconhecimento. O mistério que envolve o umbigo o torna um enigma a ser decifrado. É como se fosse a minha esfinge pessoal. É o meu nó górdio que foi cortado, mas tenho que desatar cosmicamente. 

Karfiled Graf Durckheim (1896-1988), um ex-diplomata alemão a serviço do nazismo, psicoterapeuta da Universidade de Kiel, e mais tarde prisioneiro de guerra no Japão, tornou-se um mestre zen que trabalhou com o conceito do hara como terapia esotérica. Ele escreveu:

“O hara liberta o homem da imagem de uma persona, isto é, de todas as posturas internamente não-verdadeiras pertinentes ao papel que alguém exerce no mundo ou que gostaria de representar. O hara possibilita a Gestalt (um conceito psicoterápico focado na responsabilidade do indivíduo, na experiência baseada no “aqui e agora”), que expressa a essência de um homem com singeleza, além de concretizá-la progressivamente. Assim, o homem está livre da obrigação de querer parecer, ou de ser mais do que é.  A timidez, o constrangimento e a falsa submissão desparecem. O homem que se torna consciente de suas raízes no hara posiciona-se com naturalidade e liberdade, como ele simplesmente é, nem mais nem menos, conquistando por isso sua beleza interna específica.”

Na internet encontramos muita informação sobre o hara e também exercícios que permitem a utilização do seu poder e da sua energia em benefício de quem os pratica.

Vale a pena. Estou conhecendo, utilizando e me beneficiando desse conhecimento.

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