O Ir. Vagner Vezeziani Costa, recentemente falecido, era escritor e foi o fundador e editor da Editora Madras.
Pode-se pegar um atalho conceitual e afirmar que morte é ausência de vida.
Mas o que é vida?
Existe vida após o nascimento?
Realmente se vive, somente pelo fato de termos nascido?
Afinal, o que é que nasce e o que é que a morte faz cessar?
Desde que o “cérebro se tornou capaz de investigar o cérebro”, uma pergunta é repetida e respondida pelo homem: existe alguma forma de consciência após a morte do corpo físico?
A neurociência não consegue, ainda, responder a essa questão.
Não há nenhuma evidência que sim, nem que não.
É comum ouvirmos a expressão “a morte é a única certeza que temos na vida”.
Ocorre que a civilização ocidental materialista se amoldou à idéia de que tudo acaba com a morte.
Dessa forma, ela é tratada por muitos como um tabu, algo que não se deve comentar ou investigar.
O maior desejo do ser humano é a imortalidade, e esse desejo está intimamente relacionado ao medo da morte.
Mas, de onde vem esse medo?
Pode ser que venha do medo que se tem do desconhecido, do instinto de auto-preservação que estimula o medo da própria extinção.
Ou será que viria de uma experiência antiga, guardada na memória, já vivida e não mais desejada?
Se desejarmos viver indefinidamente, por que insistirmos em acreditar que morrer é o fim?
Provavelmente, se o contrário estivesse acontecendo, se o homem tivesse certeza de sua imortalidade, ele procuraria a própria extinção.
Será que o inconsciente coletivo do homem já tem essa certeza da imortalidade?
Será que os atos humanos destrutivos, contra a natureza e contra si mesmos, não são formas veladas (e doentias!) de se buscar atingir esse estado?
Mesmo assim, a morte assusta, talvez pelo apego que temos às coisas materiais, as quais perderemos definitivamente quando morrermos, e pelo apego que temos à própria vida.
Talvez um apego à nossa persona, nossa “individualidade” que irá se desfazer, voltar ao “pó” (Eclesiastes 12:7).
Na realidade, o nosso medo vem de uma fonte mais profunda: *não sabemos quem realmente somos.*
Somente após a morte do corpo é que se pode experimentar a possibilidade de uma outra vida, caso ela exista.
Por outro lado, não se pode comprovar a possibilidade contrária (a inexistência de uma outra vida), afinal, não se terá consciência dela.
Para os materialistas, o dia da morte de uma pessoa deveria ser uma data inerte; afinal, tudo acaba com esse fenômeno e não há razão para homenagear quem não existe mais.
Ocorre, porém, que a maioria das pessoas homenageia a memória de seus entes queridos, até mesmo os ateus; mas, no fundo, estão apenas dando vazão à dor da própria ferida não curada, gerada pela falta que sentem dos seus entes queridos: saudades.
Quem de nós nunca sentiu saudades?
Aquele que já a vivenciou sabe o quanto ela dói, causa um estado profundo de melancolia, faz chorar, provoca um desejo imenso de querer ter de volta aquilo ou alguém que um dia nós “possuímos”; pode, enfim, levar uma pessoa à “loucura”.
E no momento em que qualquer ser humano perde um ente querido, seja ele espiritualista ou ateu, a saudade daquele que partiu mexe com os mais profundos sentimentos.
Assim sendo, pergunto a um ateu se a morte seria mesmo o fim da vida.
Por que, então, ele sente saudades de quem se foi, se a morte acaba com tudo?
Qual a razão de homenageá-los?
Já ouvi muitos espiritualistas dizerem que, apesar de acreditarem na eternidade da vida, não se conformam quando a morte chega a sua família; então sofrem e choram a perda de seu ente querido.
A dor da perda é a visita da morte à vida, e sem dor não há vida, porque nos apegamos demais a tudo o que possuímos, ou seja, pensamos que possuímos; na verdade, apenas nos foi emprestado, inclusive a carne, e, como tal, um dia teremos que devolvê-la ao Universo.
Historicamente, o culto aos antepassados é tão antigo quanto a história do Antigo Egito.
Seu povo, longe do conhecimento de sua avançada espiritualidade, restringia o seu culto à veneração de imagens dos antepassados, ou de alguma divindade menor, por meio de diversas superstições, incluindo o uso de amuletos.
Na Índia védica, os filhos do Sol buscavam a ciência pura do fogo sagrado, a adoração ao Deus Supremo e a honra aos antepassados por meio de orações.
Ao milenar povo chinês, afastado dos ensinamentos elevados acerca do Tao, restava um culto mágico aos antepassados e uma adoração aos espíritos.
Para o Xintoísmo, a alma dos que morrem permanece poluída, conservando sua personalidade de quando estava em vida, necessitando, assim, de rituais de purificação para que assuma um aspecto benevolente e pacífico.
Dessa forma, ela atingirá o grau de guardiã, ou deidade (kami), protetora da família.
Assim, enquanto religião, a divinização das energias cósmicas foi acompanhada da divinização dos espíritos dos antepassados (considerados deuses tutelares da família), dos sábios ancestrais, dos imperadores, de alguns animais e de forças elementares da natureza.
A Psicologia Transpessoal fala da existência de outros pacotes de inconsciente, além do Inconsciente Coletivo descrito por Jung.
Um deles seria o inconsciente familiar, responsável pela repetição de padrões de comportamento presentes no seio familiar.
Alguns pesquisadores defendem que essas memórias estariam impressas em nosso DNA e, dessa forma, acessíveis à nossa mente inconsciente.
Essa tese explicaria também a ocorrência de memórias novas, em transplantados, de fatos ocorridos na vida do doador do órgão.
O culto aos antepassados, de forma que se libere essas energias de sua influência sobre nós, seria uma forma de se trabalhar no inconsciente familiar.
Para os celtas, o ano era dividido em quatro períodos de três meses e, no início de cada um, havia um grande festival.
No primeiro dia do ano celta, celebrado em 1º de novembro, era comemorada a mais importante das quatro festas: o Samhain, conhecido como “Noite dos Ancestrais” ou “Festa dos Mortos”, pois os celtas acreditavam que nesse dia o véu entre os mundos estaria bem fino.
Hoje, essa festa está associada com o Hallows Day e é celebrada na noite anterior ao Halloween.
O mundo cristão assimilou essa festa pagã e passou a comemorá-la em dois de novembro (Dia de Finados).
Concluindo nosso pensamento, podemos dizer que a crença generalizada na existência da morte, como aniquilação individual, fez sumir a visão de longo prazo e afetou o planeta inteiro.
Não se prepara mais o futuro, apenas se vive em busca de prazeres e desejos pessoais do ego, teoria de vida pregada pelo capitalismo, que é uma forma geradora de desejos.
O homem está destruindo o planeta e a si mesmo.
Definitivamente, não há morte como a concebemos.
A morte existe apenas porque não se sabe o que a vida é, porque ainda estamos inconscientes da Vida, da sua ausência de morte.
Assim, os que perguntam o que acontece após a morte o fazem por não lhes ter acontecido nada durante a vida.
É necessário um nascimento espiritual para que a Vida nos permeie em sua abundância.
Quando se conhece a Vida, conhece-se a morte.
A morte é apenas uma transição de um estado de consciência para outro, e a única coisa que morre é a morte.
A morte é apenas uma PASSAGEM, e essa passagem deve ser o triunfo de uma existência, seu mais glorioso momento.
Preparar-se para morte, sem exageros, conscientes de que, assim como nascemos, todos passaremos por ela, coloca-nos em sincronicidade com as Leis do Universo.
Somente quando formos capazes de entender a chave iniciática contida nas palavras de São Francisco de Assis, quando dizia que “… *é morrendo que se nasce para a vida eterna”*, ou a declaração proferida pelo Faraó, no final da quinta etapa da iniciação egípcia, “Sebek Ur Sebek”, que afirma: “Só a Morte pode Vencer a Morte”, estaremos, de fato, preparados para ela.
E esse entendimento somente será completo até mesmo em certas iniciações, em que a “LUZ É DADA DEPOIS DA MORTE”, e “QUE SE FAÇA A LUZ…! E A LUZ FOI FEITA!”.
A Luz é a sua recompensa…
Bom dia de Finados meus irmãos e boas Reflexões sobre a *VIDA*
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