Ser escritor é transcender a alma através da pena. O escritor é aquele que tem a sensibilidade de perceber as emoções que voam ao seu redor, fazendo do seu próprio coração o ponto de pouso de cada sentimento.
É aquele que tem a habilidade de prospectar nos corações alheios os seus sentimentos, e os converter em palavras, transformando um pedacinho da vida num poema, num texto, numa frase... Ele é o coração que escreve. A sua lágrima e o seu sorriso pertencem a ele, porque ele os fez acontecer.
O escritor está no DNA de cada uma de suas criaturas e vive a vida dos seus personagens, ri com eles, sofre com eles, angustia-se por eles, ama por eles, odeia por eles, perdoa e se vinga por eles, como se vivesse mil vidas dentro de uma sinergia louca onde em minutos todos os sentimentos se embaralham.
O escritor é cada personagem num momento diferente do coração, que muda numa fração ínfima de eternidade. O escritor é amor suficiente pra ser um deus, e pérfido o suficiente para ser o diabo. Como deus ele cria, dá vida, conduz e ainda determina a hora e a forma da sua morte. Ele é a virtude dos mocinhos, o suspiro dos apaixonados, a tristeza dos desvalidos, a volta por cima e a derrocada. Como diabo ele é a vingança, a trama, o drama e a maldade.
Não basta saber escrever. É preciso dividir suas emoções com cada uma das suas criaturas. É preciso amar o bom e o mau. É preciso ver cada personagem como um filho, com todas as suas virtudes e defeitos. Ele não pode odiar o que ele cria.
Ser escritor é aprender muito mais com suas criaturas do que ensinar como criador. É se ler e enxergar que é a sua própria vida que está projetada em cada uma das suas obras, e fazer da sua própria existência peças formatadas entre muitos prólogos e tantos outros epílogos.
Ser escritor é amar e viver a vida intensamente, fazendo do papel uma bula, um manual de instruções da sua própria passagem pelo mundo. É ser o mago das emoções e um manipulador sorrateiro, que pega o coração do seu leitor com as mãos e faz dele o seu brinquedo. É transformar a folha do papel num elemento mágico, capaz de penetrar na alma alheia.
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Eu amo ser escritor, porque amo pelos que amam e odeio pelos que odeiam, e com isso condiciono a minha própria vida à ponta de uma pena.
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