"Férias maçônicas" é uma invenção brasileira do século XX e que vem sendo cada vez mais "esticada", para satisfação daqueles que creem que trabalho maçônico é estafante. No Grande Oriente do Brasil temos o alentado período de 30 dias - 21 de dezembro a 20 de janeiro - e na Grande Loja o período de 20 de dezembro a 6 de janeiro, para que os "cansados" maçons repousem de seu pesado trabalho simbólico de operário. Isso, todavia, nem sempre aconteceu.
Consultando antigos livros de atas, pode-se constatar que as Lojas não paravam seus trabalhos nem no Natal, ou na passagem de ano. A partir do final do século passado, algumas Lojas começaram a fazer um pequeno hiato em seus trabalhos, da véspera de Natal até ao dia de Reis, a 6 de janeiro. Posteriormente, porém, iria haver um aumento, em uma Obediência - que iria se estender às demais e até ser esticado – de forma pitoresca: a 25 de janeiro de 1955 era inaugurado o edifício-sede do Grande Oriente de São Paulo. Para os padrões da época, o prédio era opulento: 2.320 metros quadrados de construção; quatro templos para trabalho de 24 Lojas e mais um templo nobre; um sub-solo e mais três andares, servidos por elevador; templos aerificados, através de um sistema de insuflação de ar fresco, produzido por ventiladores centrífugos de baixa pressão e rotação com motores elétricos de 5 a 10 HP, para expulsar o ar viciado e quente; abastecimento de água através de dois reservatórios de concreto; 10 instalações sanitárias completas; e oito câmaras de reflexão.
Evidentemente, um prédio tão grande e complexo é de difícil manutenção, e essa dificuldade é agravada pelo grande número de pessoas que por ali circulam e que ajudam a deteriorar a construção. E foi isso que aconteceu, e em pouco tempo, pois, menos de três anos depois de sua inauguração, o edifício já necessitava de reparos. Diante disso, o grão-mestre Benedito Pinheiro Machado Tolosa, emitida a 9 de dezembro de 1957, o ato estendendo as férias maçônicas - que iam de 24 de dezembro a 6 de janeiro - até 18 de janeiro, diante da necessidade de se proceder reparos do edifício-sede. Nos dois anos seguintes, pelo mesmo motivo, elas foram estendidas até ao dia 20.
E a coisa acabou, rapidamente, se tornando "tradicional", mesmo que os motivos tenham sido esquecidos e nem se pense em reparos e pinturas, chegando, mesmo, até às Constituições do Grande Oriente do Brasil, as quais, antigamente, eram missas, não fazendo qualquer alusão a férias. Acabou, alem disso, chegando a outras Obediências, que, até, talvez adorando a idéia, esticaram mais ainda as tais "férias", dando, inclusive, um "extra" no mês de julho, como se os maçons fossem aluninhos de escolas infanto-juvenis, com direito a férias de verão e férias de inverno. Os maus exemplos, geralmente, frutificam; ou seja: passarinho que anda com morcego acaba dormindo de cabeça para baixo.
E, até hoje, não apareceu ninguém para extirpar essa prática, que é esdrúxula, porque o trabalho maçônico é constante e ininterrupto, como o de outras entidades filosóficas, iniciáticas, assistenciais e de aperfeiçoamento do Homem (seria, realmente, cômico, se a Igreja, por exemplo, entrasse em férias). Coisas como essa é que desgastam a Maçonaria brasileira, reduzindo-a à condição de simples clube, ou sociedade recreativa, o que contribui para corroer a sua credibilidade pública.
Como, notoriamente, o uso do cachimbo faz a boca torta, será difícil acabar com essa invenção, pois as justificativas são muitas: uns alegam que é preciso dar férias aos funcionários da Obediência e das Lojas, esquecendo-se de que qualquer empresa, ou sociedade, dá férias aos seus funcionários, sem fechar as suas portas. Outros, no exercício do mais profundo egocentrismo, justificam as tais férias (inclusive as de inverno), com a necessidade de aproveitar as férias escolares e viajar com a família, esquecendo-se - intencionalmente, é claro - de que, se os filhos têm três meses de férias escolares, qualquer trabalhador tem, no máximo, 30 dias, a não ser que seja um nababo biliardário, ou um desocupado crônico.
Além disso, muitos maçons, já maduros e sem filhos em idade escolar, gostariam de frequentar os trabalhos maçônicos, constantemente, mas são tolhidos pela ditadura egoísta dos que acham que, se eles não podem frequentar, os outros também não podem.
É o caso de recorrer à velha expressão: "Vai trabalhar, vagabundo", pelo menos, na Maçonaria, já que a indolência, hoje, é marca registrada nacional (basta ver os tais "feriados prolongados").
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