O Ir Aldo Vecchine é maçom da cidade de Barretos
Niilismo, cinismo e existencialismo: um pouco das três escolas filosóficas
Dias melhores virão! E todo mundo continuará bom: os bons e os maus! E não me venham com negativas, pois ao negarmos uma possibilidade, estamos negando a outra também. E até onde o niilismo é conveniente em nossas investigações e citações? Qual seria uma das representações do Painel da Loja, senão, o princípio da polaridade?
A polaridade, em O Caibalion - Editora Pensamento, compreende: “Tudo é duplo; tem polos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa... há dois lados em tudo...” Convenhamos, então, todo mundo continuará bom... Haja vista que acreditamos tanto no despertar, por meio das facilidades permitidas pelo catecismo maçônico quanto “na tradição ou preceito manifestado por um ente de cima – Caibalion”.
Se assim for: “Entre o caminho da razão e do coração, opte pelo caminho do meio: o do equilíbrio”! (Shinyashiki). Em todos os Graus. Desde o primeiro. Também no segundo. Obviamente, no terceiro. E isso é bem possível. Basta aplicar e exercitar a máxima: “Vencer minhas paixões; submeter minhas vontades; fazer progressos...
E “dentre as duas paixões mais exercitadas, ontem, hoje e sempre, estão o ódio e o amor!” (E. A. Poe). Talvez o amor seja a força mais modificadora e restauradora no homem. Já o ódio, habita os vestíbulos escuros, sem espelho, do qual escapa de todas as formas, com diferentes propósitos, para todos os públicos e único alvo. Certeiro!
Já a vontade, não a deixe sob os domínios do ego. Habilite o Eu na sua regência e cerco. Assim, a vontade será guiada e colocada na dimensão da compreensão. Dá para esmiuçar mais, vejamos. Dominada pelo ego, certamente, regerá todo o comportamento humano, viciando as ações. E quando submetida, o Eu prevalece. A harmonia, a sensatez, também!
E o que vem a ser “fazer progressos”? Tudo avança mesmo... Acumulamos horas e horas; dias e dias; mais e mais em nossas vivências, mas aqui convém uma negação textual. Pois bem! O progresso pretendido/proposto, queremos crer, é aquele verificado no próprio artesão: o quanto evoluiu seu cabedal? Sua técnica de desbaste? Quantas pedras rachou? Quantas lapidou? Quanto de amor ou de ódio dissipou? Quanto?
De volta à primeira escola, sem perder nenhuma aula, com os olhos e olhares no absoluto, protestaremos aqui toda e qualquer subjetividade. Branco e preto (adjetivos). Bondade e maldade (substantivos). Concretos e abstratos, convenhamos. Porém, absolutos. Se o niilismo for a doutrina da negação, de que nada existe de absoluto; manteremos a ideia inicial: todo mundo continuará bom!
Virando a página. Será que encontraremos alhures que os maus companheiros não foram tão maus assim? Que apenas cumpriram seus papéis? Afinal até Pedro negou a Cristo e terminou como o primeiro papa... Ao receber as chaves do céu experimentou o princípio da correspondência: “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu; tudo o que desligares na terra será desligado no céu”. Mt 16, 19.
No início dessa segunda lauda marcamos com o paradoxo dos companheiros e de São Pedro, a introdução do cinismo, ou a oposição radical e ativa às regras e convenções socioculturais, ao senso comum.
O cinismo também é conceituado como a filosofia do cão, ou do comportamento canino. Diógenes foi um expoente do cinismo. Certa vez, deitado à sombra de uma árvore, veio ter com ele, Alexandre, que depois tornou-se O Grande. Sabedor dos seus métodos, perguntou–lhe o que lhe faltava que o daria. Como Alexandre lhe fazia sombra, pediu então que saísse de sua frente, pois não podia lhe dar o que Diógenes já tinha.
Além do jogo das palavras e do sutil marketing pessoal, outro meio de praticar o cinismo ou tão somente barrar/ocultar o progresso cultural/intelectual, é dispor daquele instrumento graduado, que remonta a equidade, para banir os caninos e suas contagiantes coceiras, que procuram repouso noutra sombra e, assim, aquietam-se.
Que os seres sencientes não fiquem, com isso, muito pessimistas diante da expectativa por dias melhores. Eles virão! Possam todos incluir os ingredientes necessários para o restabelecimento da confiança. Concentrem-se na sua alquimia e revisitem seus interiores. Permitam que a Luz que vem do alto ilumine seu Templo.
Exercite silenciosamente a tríade: fé, esperança e caridade. Debruce sobre os Rituais do Simbolismo e estreite os laços da fraternidade por meio do comportamento maçônico progressista e sensato que sugere, ainda, o compartilhamento da sua luminescência.
Ocupe tão somente o seu lugar. Só o que lhe cabe. Saiba que o homem civilizado ocupa pouco espaço... O Maçom, então, ocupar-se-á criteriosamente dos seus limites. E livre que é, ampliará seus horizontes sapiente de que enquanto o processo de construção do conhecimento é de fora pra dentro, a manifestação da sabedoria é de dentro pra fora.
Permita ficar apenas o que iguala. Elimine o que desarmoniza. Transmita segurança. E mesmo que encontreis resistência, não a ofereça. Lide com as diferentes situações como a água lida com os obstáculos: contorne-os. Desarme-os. Suplante-os. Assim, o que sobrar, será de alta valia e preciosidade. Acredite!
Abriremos a terceira lauda com a máxima deixada pelo filosofo existencialista francês Jean P. Sartre: “Antes de descobrir qualquer verdade sobre mim mesmo é preciso que eu passe pelo outro...” Simples assim. E se a Maçonaria exige de seus membros que busquem a verdade, o outro, é essencial nesse preparo. Enquanto investigamos, conhecemos e acumulamos, o próximo é quem dirá do que sabemos.
Desnecessárias as provas conceituais. Bastam as atitudinais. Cada Maçom pode cuidar do seu bloco de pedra, dos seus instrumentos e da sua construção. Evidentemente que a marcha e a bateria disciplinam o ritmo, porém, o alinhamento das faces e a sua polidez dependerão do capricho e da dedicação do obreiro.
Existir como Maçom é deixar o legado do construtor. E nunca distanciar-se de seus princípios. Pois nisso também configura a cerimônia de Iniciação. Enquanto doutrina para a qual o objeto próprio da reflexão é o homem na sua existência concreta; o maçom real, artesão da grandeza sociocultural da humanidade, deixará muito de si naquilo que lhe competir edificar.
Em todos os Graus do Simbolismo o filosofismo está presente. Opte pela melhor escola. Ou até por várias delas, se lhe convier. Um pouco de cada também é aceitável. Mas não deixe de questionar. Investigue profunda e continuamente. Procure o outro que dirá do seu progresso. Deixe as marcas do seu cinzel, pois as marcas nele serão percebidas por todos os que conhecem do ofício.
Dedique-se Maçom e filósofo a estudar os conceitos, o catecismo, a literatura da Arte Real. Pois como ensinou José Linhares, recentemente, “a Arte Real é um Sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”. Então adeque seu modo de vida para que a sua missão contemple a grandiosidade ensejada e admitida. Que os únicos limites sejam da sua consciência, determinados pelo livre arbítrio.
E preparando o encerramento, bem antes do abandono da leitura se insinuar, possam os Homens cumprirem dignamente os seus propósitos; enquanto os Maçons magnificamente existirão de corpo, alma e coração nas suas Lojas e nos seus ofícios. E nos dias bem melhores que virão e já foram anunciados, deixarem a marca d’água na sua obra. Ou o alto-relevo no seu porta-retratos. Ou ainda seu novo diploma conquistado, merecido e reconhecido por todos os que acompanharam a sua evolução. Assim e contudo, saberá ensinar/entender/dizer confiantemente: “Os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do Entendimento” – O Caibalion.
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