Muitos não iniciados (que se convencionou chamar de profanos) ficam intrigados com as abreviaturas encontradas nos escritos da Maçonaria, as quais consistem em substituir parte das palavras nos textos por três pontos. Ao contrário do que muitos imaginam, os Três Pontos dispostos em triângulo, usados pelos Maçons em seus documentos e impressos, não são um símbolo. São um sinal gráfico adotado em abreviaturas e no final do “ne varietur”; no primeiro caso identificam as abreviaturas de termos Maçônicos, e, no segundo, servem como forma de identificação do Maçom. Não somente para os não Maçons, mas, também, para muitos dos iniciados na Sublime Ordem, os Três pontos indicam a idéia subjetiva de segredo, expressa através do número três, algarismo muitíssimo ligado à simbologia e hermenêutica Maçônicas. Sua origem, na verdade, está nas abreviaturas, tradição antiquíssima que a Arte Real trouxe para o seu seio e que se mantém até os dias de hoje.
Não obstante, os Três Pontos foram relacionados com os inúmeros símbolos Maçônicos e que acabaram tendo interpretações esotéricas e simbólicas, culminando com o uso nas assinaturas dos Maçons. Entretanto, essa prática de apor os três pontos na assinatura não é de uso universal, como por exemplo, a Maçonaria Inglesa, que não adotou. Seu uso, porém, estendeu-se gradativamente, nos Estados Unidos, à medida que entrava em uso geral nas Potências Latinas. Como todas as coisas ligadas à Maçonaria, não faltaram aos Três Pontos exegetas e hermeneutas para dar os mais variados significados. A exemplo do triângulo, uma das mais simples figuras geométricas que tornou a sua representação gráfica uma ideia ternária à qual foi ligada, os Três Pontos, igualmente, tem a sua figura assimilada à vários significados: Liberdade, Igualdade e Fraternidade; Vontade, Amor e Sabedoria; Fé, Esperança e Caridade; Espírito, Alma e Corpo; Passado, Presente e Futuro e outros.
Em nossas atividades normais, isto é, fora da Maçonaria, o uso de abreviaturas está bem codificado e não prejudica em nada o seu emprego. Ao contrário: Há certas palavras e expressões, convencionalmente representadas pelas respectivas letras iniciais, ou por essas iniciais seguidas de outras letras, cujo conhecimento oferece enorme utilidade.
Abreviaturas não são novidades. Desde a Antigüidade, gregos e romanos já delas se utilizavam. Elas chegaram a ser proibidas, como em Roma, no tempo de Justiniano I (483-565), por gerarem confusão. O mesmo ocorreu na França da Idade Média, e, em 1304, o Rei Felipe, o Belo, interditou o seu uso nas atas jurídicas. É visto, por exemplo, nos objetos celtas do Século XI antes de Cristo e muito antes nas cerâmicas egípcias, cretas e gregas. Os Três Pontos têm, pois, origem bem antiga. Costuma-se relacionar os Três Pontos, dispostos em triângulo, como uma das expressões comuns da luz interior e do espírito que presidiu à criação do mundo.
Afirma-se que a abreviatura com Três Pontos foi utilizada na Maçonaria, pela primeira vez, em 12 de Agosto de 1774, quando o Grande Oriente da França comunicou o novo endereço à todas as suas Lojas jurisdicionadas. Há, contudo, outras versões, como a de que o início da utilização do Triponto deu-se em 1764, na Loja de Besançon, também na França, e a de que teria surgido com o companheirismo, por representar o triângulo. E há até quem declare, categoricamente, que o seu uso vem da arte hieroglífica dos egípcios. Naturalmente, para cada versão existem os seus contestadores. Alguns autores apontam que os Templários faziam uso dos Três Pontos, e, que no calabouço, onde Jacques de Molay esteve preso durante oito anos, nas paredes haviam grafitos e um deles era o Triponto.
As abreviaturas, usualmente, empregadas na Maçonaria são do tipo “por suspensão” ou “apócope” que consiste em suprimir letras ou silabas no final da palavra que se quer abreviar. Por regra, essas abreviaturas só deveriam ser usadas nas palavras de vocabulário Maçônico e jamais para as palavras profanas. A má aplicação das abreviaturas chega a provocar textos incompreensíveis até em rituais, o que prejudica, sobremaneira a sua leitura e entendimento.
Não há uma regra quanto à disposição dos Três Pontos, um em relação aos outros. As disposições encontradas são das mais variadas, tanto no formato do triângulo delta (equilátero), como nos formatos isósceles e retângulo em diversas posições, aparecendo, até, como sinal de reticências... Quanto ao uso em si, é costume empregar abreviaturas nas palavras suprimindo lhes alguma ou algumas das letras finais e conservando as que forem necessárias para a leitura fácil e de boa compreensão do sentido da frase. Deve haver, sempre, a preocupação de se evitar ambiguidade, para que não gere confusão quando da leitura do texto. Recomenda-se, também, para que a suspensão se faça sempre no meio de uma sílaba e que a primeira letra suprimida seja uma vogal e a última deixada seja uma consoante. Há algumas exceções, evidentemente. Para as palavras no plural utiliza-se do expediente de dobrar a primeira letra.
Independente de qualquer que seja o verdadeiro significado que possa conter os Três Pontinhos, nada é mais expressivo, honroso e orgulhoso ao Maçom, quando ainda neófito, receber a orientação de poder usá-los junto à sua assinatura. Contudo, haverá situação em que, por motivos profissionais, políticos, sociais, familiares, etc., o Maçom necessite não se revelar; e, não há obrigatoriedade para colocação dos Três Pontos na assinatura. Por outro lado, devemos atentar que nem todos que usam os Três Pontinhos, em sua assinatura, são Maçons. O Triponto aparece, também, junto aos adeptos da Ordem Rosacruz e, igualmente, aliado aos seus significados simbólicos.
Na sétima instrução de Aprendiz é ministrado que “três é o número da Luz (Fogo, Chama e Calor); três são os pontos que o Maçom deve orgulhar-se de apor à sua assinatura, pois esses três pontos, como Delta Luminoso e Sagrado, são emblemas dos mais respeitáveis e representam todos os ternários conhecidos e, especialmente, as três qualidades indispensáveis ao Maçom: Vontade, Amor ou Sabedoria e Inteligência”. Essas qualidades são, absolutamente, inseparáveis uma das outras, pois devem agir em perfeito equilíbrio no Maçom, para que ele sempre seja justo e perfeito.
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Bibliografia:
- Aslan, N. - Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo
- Boucher, J. - Simbólica Maçônica
- Camino, R. da - Dicionário Filosófico de Maçonaria
- Charlier, R. J. - Pequeno Ensaio Simbólica Maçônica nos Ritos Escoceses
- Christian J. - A Franco-Maçonaria
- Figueiredo, J. G. - Dicionário de Maçonaria
- Moreira, A. P. - Chave dos Mestres
- Ritual do Aprendiz - GLESP
- Pusch, J. - ABC do Aprendiz
- Santos, S. D. - Dicionário Ilustrado de Maçonaria
- Tourret, F.- Chaves da Franco-Maçonaria.
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