dezembro 01, 2021

RITO DA PALAVRA DE MAÇOM (MASON’S WORD) - publicado por Hector Guerrero

 







De acordo com vários maçonólogos, o Rito da Palavra de Maçom (Mason’s Word), criado por volta de 1637 na Escócia seria o rito mais antigo da Maçonaria chamada “especulativa”.

O rito foi fundado por maçons escoceses calvinistas e presbiterianos de Kilwinning para substituir o ritual Inglês e Anglicano dito das Antigas Obrigações operativas da  Idade Média e do Renascimento [1].

A partir de 1696, os maçons desejaram criar uma arte da memória conforme os princípios do Calvinismo, isto é, não baseado em imagens visuais, mas exclusivamente em imagens verbais como as metáforas e alegorias.

Posteriormente, depois de ter passado por várias influências, anglicanismo e catolicismo, a Grande Loja de Londres transforma-o em 1717, em rito filosófico universal que se tornou a matriz do ritual de três graus praticado pela Maçonaria contemporânea.

CONTEXTO DO APARECIMENTO

A expressão Palavra de Maçom que está na origem do rito é sem dúvida modelada na expressão Palavra de Deus ou “Palavra do Senhor”. É por esta expressão que os calvinistas da Escócia designavam a Bíblia, referência entre todos, o Sola scriptura [2] de Lutero. Ao usar esta expressão da “Palavra de Deus”, os calvinistas pretendiam retornar a um cristianismo autêntico, antes das práticas da Igreja dos Católicos romanos, estes últimos sendo considerados por eles como “idólatras” e “góticos”, aludindo à construção de catedrais na França e no resto do Continente europeu.

Para compreender a história do Rito Palavra de Maçom, devemos primeiro lembrar o contexto, ou seja, em primeiro lugar, que a chegada do reformador calvinista John Knox (1514-1572) na Escócia (1555 e depois em 1559 para ali fundar a Reforma) estava na origem de profundas convulsões no plano da organização das irmandades até então católicas.

Como resultado das suas novas conversões, aquelas de maçons que se tornaram presbiterianos por sua vez, desejavam reformar a prática das antigas regras e retornar a uma leitura escriturística das Obrigações (Charges). A reorganização das Obrigações levou a muitas mudanças nas lojas operativas que se tornaram mais abertas à livre interpretação das Escrituras de acordo com o princípio da liberdade de julgamento dos reformadores. Além disto, a abolição do culto aos santos, a rejeição da estética católica e a controvérsia da época sobre a arte da memória levou os maçons das lojas presbiterianas a desenvolver um método de simbolização baseado mais em diálogos e metáforas literárias do que nos símbolos gráficos das Antigas Obrigações [3].

FONTES E EVOLUÇÕES DO RITO PALAVRA DE MAÇOM

Os testemunhos incluindo a expressão “Mason Word” são numerosos e foram a seu tempo examinados pelo maçonólogo David Stevenson. Isto representa um total de cerca de vinte textos escoceses escritos no século XVII e uma dúzia de textos britânicos do século XVIII.

O Rito Palavra de Maçom teria sido elaborado dentro da loja calvinista [3] Kilwinning n° 0, entre 1628 e 1637. Os documentos mais antigos sobre ele mencionam um ritual que consistia em receber em loja um novo membro, dando-lhe um aperto de mão (origem da “garra”) enquanto os nomes das duas colunas do Templo de Salomão eram comunicados, com referência à passagem bíblica da Epístola de Paulo aos Gálatas (Gl 2,9), lembrando a troca dos apertos da mão direita (mão da verdade) entre Tiago, Pedro e João, de um lado, e Paulo de Tarso, de outro.

Documentos posteriores pertencentes aos textos fundadores da Maçonaria em particular, o “Manuscrito dos Arquivos de Edimburgo” (“Edinburgh register house” que data de 1696 e que era o ritual da loja Canongate Kilwinning, ” [4] , mostram evoluções significativas desde aquela época. Eles mencionam em particular um “catecismo” por perguntas e respostas, a prática dos cinco pontos do companheirismo [5], bem como a transmissão de uma palavra adicional em “M. B.” ao segundo grau [6].

Autor desconhecido

Notas

[1] No sentido da palavra inglesa da época. Diríamos hoje “filosófico”.

[2] Cerimônia de admissão a uma corporação de maçons antes do século XVII.

[3] Os historiadores podem determinar se uma loja era calvinista, católica ou anglicana examinando alguns detalhes nos seus rituais ou outros documentos de arquivo, tais como a presença ou ausência do qualificativo holly (santo) ao lado do nome de uma capela, ou mesmo em alguns manuscritos referências mais explícitas, por exemplo ” Santa Igreja Católica no manuscrito Dumfries no 4 de 1710 (ver, por exemplo, Négrier 2005 pp. 106 e 109).

[4] Trata-se da loja de Canongate, pequena aldeia a leste de Edimburgo. Esta loja, cujos arquivos datam de 1630foi anexada à Loja Presbiteriana de Kilwinning em 1677. (Stevenson 2000, p. 64)

[5] Que alguns autores associam aos cinco pontos calvinistas da TULIP (Negrier 2005, passim).

[6] Os rituais maçônicos do século XVII só conhecem dois graus: aprendiz e companheiro-mestre

Bibliografia

Roger Dachez, “ Nouveau regard sur les anciens devoirs “, Franc-maçonnerie magazine, noHS N°3, novembre 2016, p. 18-23

Patrick Négrier, La Tulip : Histoire du rite du Mot de maçon de 1637 à 1730, Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance “, avril 2005 (ISBN978-2-913882-30-0, présentation en ligne)

Patrick Négrier, Le Rite des Anciens Devoirs : Old Charges (1390-1729), Saint- Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire-Clair, coll. “ Lumière sur… “, Dezembro 2006 (ISBN978-2-913882-39-3)

David Stevenson (trad. Patrick Sautrot), Les premiers francs-maçons : Les Loges Écossaises originelles et leurs membres [“The Origins of Freemasonry: Scotland’s Century, 1590-1710, Cambridge Univer-sity Press, 1988, paperback ed. septembre 1990”], Saint-Hilaire-de-Riez, Éd. Ivoire- Clair, coll. “ Les Architectes de la Connaissance”, mai 2000, 256 p. (ISBN 978-2-913882-02-7, apresentação online)

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