“A tarefa mais difícil para um homem comum é guardar um segredo e permanecer em silêncio” (Aristóteles - 384-322 a.c)
A própria palavra “mistério” (segredo) significa em linguagem religiosa, alguma coisa de separado, de secreto, de oculto e de que não é lícito falar.
A imposição do silêncio não é somente uma disciplina que fortalece o caráter, é também, e principalmente, o meio pelo qual o iniciado pode entregar-se à meditação sobre os augustos mistérios que encerram as perguntas que todo o espiritualista se faz: donde vim? Quem sou? Para onde vou? Perguntas essas que o iniciado maçom defronta desde o momento em que transpõe a porta da câmara de reflexão. É também o meio de melhor observar os ensinamentos maravilhosos contidos no ritual.
Mesmo antes da própria admissão na ordem, já se começa a exercitar o princípio do silêncio. Nos momentos que precedem as iniciações, quando o candidato permanece na câmara de reflexão, o silêncio é fundamental.
Isso tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio sobre si mesmo. Não esqueçamos que somente um homem capaz de guardar o silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor.
Em maçonaria define-se o silêncio como virtude maçônica, mediante a qual se desenvolve a discrição, corrige-se os defeitos próprios e usa-se prudência e tolerância em relação à faltas e defeitos de outros. Na maçonaria se costuma simbolizá-lo pela trolha, com a qual se deve estender uma camada de silêncio sobre os defeitos alheios, tal qual faz o pedreiro vulgar com o cimento para descobrir as arestas do edifício em construção.
O silêncio deve ser rigorosamente mantido, não por força de disposições regulamentares ou pelos ditames da boa educação e das conveniências sociais, mas para que possa ser formado o ambiente de espiritualidade, próprio de um templo. Ao ajudar a formação desse ambiente, tão propício à meditação, o maçom beneficia-se a si mesmo e beneficia aos demais. A fecundação das idéias se faz no silêncio.
Devemos guardar e observar completo silêncio no decorrer dos trabalhos. Não é de boa esquadria pelas normas maçônicas, tolerarem-se conversas paralelas, rumores, murmúrios de vozes, sussurros, chamadas de telefones celulares (que deveriam estar desligados), enquanto se desenvolve os trabalhos, observem que quando o “irmão falador” desrespeita essas regras, a oficina “trava” e quebra de imediato a egrégora formada pelo “som”, pelo “perfume” do incenso e pelas vibrações dos presentes.
O aprendiz deve por sua tenra idade simbólica não tomar parte ativa nas discussões entre seus maiores, a não ser quando interrogado ou solicitado.
O aprendiz não pode tomar a palavra senão a convite do venerável. Esta lei do silêncio deve ser por ele observada também fora do templo, no que respeita à ordem maçônica.
O princípio do silêncio exigido dos aprendizes e companheiros tem por base filosófica: só deve falar quem sabe e, quem o sabe deve se omitir, pois, flui a sabedoria e os grandes ensinamentos, fonte dos nossos conhecimentos e alimentos para os nossos espíritos.
O aprendizado é o período de meditação e de silêncio. Saber falar com ética é sabedoria, mas saber ouvir é muito mais, pois o homem que sabe falar com respeito, com educação, com amor, naturalmente saberá também ouvir. A visão e a audição devem ser educadas, tanto quanto as palavras e as maneiras.
Em maçonaria, ao prestar o seu compromisso iniciático, o candidato promete guardar silêncio sobre tudo o que se passa no interior do templo maçônico. A fórmula é sempre a mesma, mas já propiciou ataques à instituição maçônica, como se ela se entregasse a práticas escusas, sobre as quais os seus filiados devessem se calar. Mas ela visa, apenas, resguardar toques, sinais e palavras, para que eles não cheguem ao conhecimento de não maçons (profanos), os quais, com esse conhecimento, poderiam ingressar, indevidamente, num templo maçônico.
O aprendiz maçom cultiva a virtude do silêncio, porque não tem ainda a capacidade do comentário; deve apenas ouvir, meditar e tirar as próprias conclusões, até poder "digerir" o alimento que lhe é dado.
O maçom pensa duas vezes antes de emitir opinião, porque tem obrigação de emiti-la de forma correta e que jamais possa ofender a quem a ouve. Recorda que às vezes, o silêncio é a melhor resposta.
Segundo José Castellani (consultório maçônico x): “o silêncio do aprendiz é apenas simbólico, em atenção ao fato de que ele, simbolicamente, só sabe soletrar e não sabe falar. Todas as nossas práticas são simbólicas e não reais, como mostram, inclusive as provas iniciáticas”.
Esse silêncio significa que o conhecimento que o mestre lhe transmite é absorvido sem qualquer dúvida ou reação, até o momento em que se torna capaz de emitir, por sua vez, conceitos superiores e que podem até conduzir ao sadio debate.
Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.
São necessárias tão poucas palavras para exprimir a sua essência. Na realidade, as palavras devem ser as embalagens dos pensamentos. Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos de seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras. As grandes falas servem frequentemente só para confundir. O silêncio é frequentemente mais esclarecedor que um fluxo de palavras.
Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ele consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra. São necessários dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que aprenda a ficar em silêncio.
Ouvimos que, em sua grande sabedoria, a natureza nos deu apenas uma língua e dois ouvidos para que escutemos mais e façamos menos discursos longos.
Se um texto não é mais bonito do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso menos palavras se tornam úteis...
O silêncio é a única linguagem do homem realizado. Pratiquemos moderação no falar. Isso é fecundo de várias maneiras. Desenvolverá amor, pois do falar descuidado resultam incompreensões e facções. Quando é o pé que resvala, a ferida pode ser curada, mas quando é a língua, a ferida é no coração e perdura por toda a vida. Às vezes para manter a paz é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio.
Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se.
É necessário lembrar-se do provérbio dos filósofos: "as verdadeiras palavras não são sempre bonitas, mas as palavras bonitas nem sempre são verdades..."
Xenócrates (394 – 314) filósofo grego afirmava: “arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”.
Pitágoras (571 a 496 a.c) exigia o mais absoluto sigilo dos aprendizes, pelo período mínimo de três anos. Estabeleceu vários conceitos que estão presentes em nossos manuais, como os quatro elementos fundamentais (terra, fogo, ar e água). A definição do pentagrama, configurando a estrela de cinco pontas que representa o homem, de braços e pernas abertas. Quando de suas hastes se desprendem “chamas”, o pentagrama denomina-se “estrela flamígera”. Essa estrela simboliza um guia para o caminho que conduz ao templo. O maçom vê no pentagrama a si mesmo dominando os impulsos da carne. Foram os filósofos Pitágoras e Platão que nos legaram o valor dos números, cujos cálculos, desde uma simples soma ou subtração aos mais complicados, hoje formulados eletronicamente, tendem a esclarecer os mistérios do universo.
Pitágoras afirmava que “quem fala semeia e quem escuta recolhe” – e esta era a obrigação dos novatos.
Se poucas palavras são necessárias dizer "eu gosto de você", todas as outras que poderiam ser ditas são supérfluas...
Sim e não são as palavras mais curtas e fáceis de serem ditas, mas são aquelas que trazem as mais pesadas consequências. Afirmar o bem, negar o mal; afirmar a verdade, negar o erro; afirmar a realidade, negar a ilusão; eis aqui, o uso construtivo da palavra.
Lembremo-nos de usar o silêncio quando ouvirmos palavras infelizes; quando alguém está irritado; quando a maledicência nos procura; quando a ofensa nos golpeia; quando alguém se encoleriza; quando a crítica nos fere; quando escutamos uma calúnia; quando a ignorância nos acusa; quando o orgulho nos humilha; quando a vaidade nos procura.
O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tempo, por isso é uma poderosa ferramenta para construir e manter a paz.
Lojas há que incentivam aprendizes e companheiros a se exibirem em discursos repletos de lugares-comuns, ou tratando de assuntos profanos, fazendo assim perder o precioso tempo dos ouvintes. E chegam até considerar a recomendação do silêncio como se fora um atentado contra pretensos direitos maçônicos do aprendiz.
Inútil será dizer que não tendo recebido nenhuma espécie de instrução maçônica, nada podem transmitir aos neófitos. Assim, transformam as sessões das lojas em palavreado inútil que nada constroem, mas acumulam perigosos elementos para o incenso de orgulhos e vaidades e futuros desentendimentos.
O juramento de silêncio é um procedimento ritualístico e ao prestá-lo devemos todos (inclusive as luzes – pousando o malhete sobre o altar e o guarda do templo - embainhando ou colocando a espada sobre sua cadeira), estender o braço direito para frente, formando um ângulo de 90° em relação ao corpo, com os dedos unidos, e a palma da mão voltada para baixo e os dedos unidos, o braço esquerdo caído verticalmente junto à perna esquerda dizendo “eu o juro”, em atendimento a solicitação do venerável.
Encerrados os trabalhos, o venerável mestre ainda uma vez chama a si os obreiros, confirmativamente. Pelo que está feito estes se manifestam em uníssono pelo sinal, pela bateria do grau e pela aclamação. É, mais uma vez, a confirmação de cada um de seu juramento de iniciação.
Fica em cada um a memória e a gratificação de mais um dia trabalhando em união fraterna na construção do templo da humanidade. O resto é silêncio.
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