janeiro 13, 2022

APRENDENDO A APRENDER - Carlos Cardoso Aveline




Respirar é como aprender. Com o ar puro, entram energias e conhecimentos novos. Com a saída do ar velho, morre o passado e abre-se espaço para a vida nova.

O grande desafio da vida é aprender o que vale a pena ser aprendido e usar bem o que sabemos,  ou pensamos que sabemos. A lei da evolução impõe que cada um seja o tempo todo aluno e professor. Os trilhões de seres vivos do nosso planeta formam uma grande comunidade de aprendizado.

Tudo que há no universo evolui, e toda evolução, grande ou pequena, é um aprendizado. Há uma inteligência do universo, segundo constatou Albert Einstein. Ela ganha força com a evolução das galáxias. E cada pequeno pássaro individual recolhe experiências específicas que contribuem para a sabedoria da sua espécie.

Na humanidade, não há ninguém que não tenha algo a aprender. O sábio é alguém que aprendeu a aprender. As pedras, o vento e a chuva ensinam lições. Pitágoras, por exemplo, lia o futuro observando o voo dos pássaros. A mente humana amplia a cada instante os limites do conhecido.

É verdade que, para aprender mais rapidamente, é necessário libertar-se da prisão dos conhecimentos acumulados. A diferença entre o cidadão que busca a sabedoria e o sábio que atingiu a perfeição é que este último não olha o futuro com base apenas na memória. Como Sócrates, ele sabe que nada sabe. Livre das acumulações do passado, ele mora no vazio que é plenitude e usa apenas o conhecimento que é necessário para cada momento. O cidadão comum, por sua vez, tem uma visão relativamente estreita, o que dificulta o aprendizado. Aquele que possui opiniões fixas ou tem medo de parecer ignorante não é capaz de olhar a realidade de frente.

Platão escreveu que aprender é lembrar algo que nossa alma imortal, de algum modo, já sabia. A palavra técnica é anamnese. Segundo a tradição esotérica, há algo em nós (atma) que é onisciente e pode saber todas as coisas. A nossa curiosidade por aprender é o impulso natural por trazer para a consciência cerebral o que está presente na alma.

Temos à nossa disposição o conjunto dos conhecimentos e experiências acumulados pela humanidade. O acesso a este oceano de sabedoria, no entanto, depende do grau de evolução de cada indivíduo e da comunidade em que vive. Como a humanidade está longe da perfeição, também há erros acumulados e, às vezes, buscando o oceano, cai-se num pântano.

Cada indivíduo tem acesso direto ao conhecimento acumulado da sua espécie. O mesmo acontece no mundo animal. Uma cadela sabe cuidar do parto dos seus próprios filhotes.  Há uma onisciência latente nos animais. A cadela rompe a placenta e liberta dela o corpo do filhote usando os dentes e a língua com uma decisão e uma eficiência capazes de causar inveja a qualquer médico. Ela lava, limpa e massageia com a língua cada filhote até fazê-lo respirar, e depois atende imediatamente o próximo da ninhada.

Esse é um exemplo entre milhares. Todos os animais, racionais ou não, possuem essa onisciência latente. No caso humano, porém, o acesso à sabedoria comum da espécie depende de processos culturais e psicológicos mais complexos, que às vezes causam bloqueios.

Há alguns séculos, a espécie humana está vivendo uma etapa individualista que, embora necessária à evolução, tem causado grande dor. Essa experiência serve para fortalecer o indivíduo da espécie, mas vem com uma carga de ignorância egoísta bastante expressiva. Assim, acabamos esquecendo algo que todo pássaro, golfinho ou gato sabe: o conhecimento usado pelo indivíduo não pertence a ele, mas a toda espécie. Mesmo sendo racionais, podemos relembrar esse fato. Ele está inscrito em nossa alma. Toda comunidade envolve aprendizado e uma partilha de conhecimento. Assim como o ar que respiramos, o saber pertence a todos, e a cada um.


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