janeiro 15, 2022

CARACTERÍSTICAS DO TEMPLO - Pedro Juk



Em 18.07.021 o Respeitável Irmão Hugo Schirmer, sem mencionar o nome da Loja, Rito Adonhiramita, GORGS (COMAB), Oriente de Santa Maria, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a questão seguinte

*DECORAÇÃO DO TEMPLO E AS COLUNAS ZODIACAIS*

Boa tarde Amado Irmão Pedro Juk. Estou numa encruzilhada.

Temos duas correntes de Maçonaria?

a) Ritos da Corrente Anglo saxônica, têm decoração no Templo, desnudo? Sim? Não?

b) Ritos da Corrente Latina ou Francesa, têm a dita decoração?

c) Corrente brasileira, têm a dita decoração no Templo?

Templo, Loja, Oficina, ou como se quiser.

Decoração que digo, seriam colunas, degraus, correntes, janelas, etc.

É que me apareceu uma dúvida sobre esse detalhe, que nunca me chamou atenção, talvez porquê sempre se trabalha em templos diversos do seu Rito.

Afinal quem têm Colunas Zodiacais? Ou não têm?

*COMENTÁRIOS:*

No tocante aos rituais anglo-saxônicos e a decoração da Sala da Loja (é assim que e chamado o espaço de trabalho na corrente inglesa), não se trata de uma decoração desnuda propriamente dita, mas diferente, talvez mais simples, das de ritos de outras vertentes maçônicas – tanto sob o aspecto decorativo, quanto no aspecto topográfico, cujo qual não adota separação e elevação do quadrante oriental da Loja.

Compreenda-se que o conjunto simbólico primordial do grau está o Quadro da Loja, conhecido na vertente inglesa como a Tábua de Delinear (Tracing Board).

Ainda sobre a vertente anglo-saxônica e a decoração do espaço de trabalho, não existe uma regra apropriada para ela, senão a de que o espaço comporte os trabalhos maçônicos de acordo com o costume, portanto é comum se observar na vertente anglo-saxônica uma variedade decorativa, variedade essa que é tomada ipisis litteris como decoração ou arranjo, onde muitos desses elementos nem mesmo fazem parte do relicário simbólico do working – são portanto meramente elementos decorativos que nem constam nos catecismos e regulamentos maçônicos.

Essa característica é bastante comum na vertente anglo-saxônica de Maçonaria, não existindo, contudo, uma decoração elaborada para a abóbada como acontece no REAA, por exemplo. Também não há cor determinada para a pintura das paredes, etc.

De comum mesmo é a posição dos principais Oficiais e as Luzes Menores conforme o working, assim como alguns elementos que são de uso universal da Maçonaria, independente do rito ou trabalho, como é o caso do Livro da Lei, do Compasso e do Esquadro (Luzes Maiores).

Já a vertente latina de Maçonaria possui outra característica, provavelmente pela sua constituição histórica construída a partir do Grande Oriente da França no século XVIII com o Rito dos 7 Graus, além do sistema conhecido como escocesismo caracterizado pelos altos graus.

A característica da vertente latinha e a decoração dos seus Templos (assim conhecidos na Maçonaria Francesa), a despeitos dos elementos universais utilizados, foi construída conforme os ideais dos seus ritos, principalmente no caso o Rito Francês, ou Moderno (à época conhecido por Rito dos 7 graus), assim como os Ritos Adonhiramita e Escocês Antigo e Aceito originário da corrente escocesista em França a partir de 1649.

Conforme a história de cada um desses ritos é que foram construídas as respectivas decorações dos seus templos, em particular o REAA que veio ter o seu primeiro ritual para o simbolismo em 1804 na França, mas que já em 1820/21 esse ritual sofreria modificações devidas à constituição das Lojas Capitulares (vide essa história).

Nesse sentido a vertente latina de Maçonaria, criou atributos próprios, como o da topografia da Loja trazendo o Oriente elevado e dividido para assim acomodar o santuário Rosa-Cruz.

Essa forma capitular do Grande Oriente dirigir todos os graus até o Capítulo, logo veio, como já mencionado, alterar inclusive o ritual original do REAA que não possuía essa distinção e com isso sofreu alteração quando o Grande Oriente o adotou fazendo para tal adaptação para o sistema capitular.

Assim, o REAA passava a seguir a mesma topografia (oriente elevado e dividido) do Rito Francês (7 Graus) e do Adonhiramita originalmente com 12 Graus. Note que o ápice da escalada iniciática desses ritos era sempre o Grau Rosa-Cruz e todos eles eram dirigidos pelo Grande Oriente da França. Seguindo esse mesmo parâmetro o REAA teria no Grande Oriente as suas Lojas Capitulares cujo ápice era o 18º Rosa-Cruz e o dirigente da Loja era o Athersata que era também o Venerável Mestre, enquanto que os demais graus, acima do 18º, ficavam como o II Supremo Conselho, o da França.

Nesse contexto, os Ritos Francês e Adonhiramita adotavam a cor azul para as paredes dos seus templos, enquanto que o REAA por influência da Loja Mãe Escocesa (extinta em 1816) adotava a cor encarnada associada ao escocesismo, por extensão aos “Stuarts” e ao catolicismo (vermelho – a cor do cardeal). A cor encarnada do Rito seria oficializada no Conselho de Lausanne, realizado na Suíça em 1875.

No que concerne à Maçonaria Brasileira, não se trata bem de ser uma corrente maçônica, mas a de ser uma Maçonaria filha espiritual da França, pois os primeiros ritos praticados no Grande Oriente Brasílico (depois do Brasil) foram os ritos Moderno e Adonhiramita, em seguida oficialmente, a partir de 1832, o REAA. Obviamente que as características de cada um desses ritos seriam aqui também implantadas, contudo, o que também houve de fato, foi uma mistura de procedimentos de uns em outros ritos – coisas da Maçonaria latina e particularmente a brasileira.

Sob essa óptica a Maçonaria Brasileira teve uma formação básica latina, embora não se possa negar que de há muito tempo também já se praticava por aqui a Maçonaria anglo-saxônica e anglo-americana.

O que de fato não se pode negar na história da Maçonaria Brasileira foi a infeliz mistura de práticas ritualísticas decorrente da profusão de rituais no contexto social da época na Maçonaria Tupiniquim (é preciso conhecer essa história).

Acrescente-se a isso ainda a existência, no decorrer do tempo, de três Obediências regulares brasileiras, tendo cada qual o seu elenco de rituais que, a priori, acabaram ganhando suas próprias características, sobretudo pelas práticas muitas vezes enxertadas de uns em outros ritos.

Especificamente sobre as Colunas Zodiacais na decoração dos Templos do REAA, essa construção alegórica associada a um rito solar teve sua origem nas Lojas Mães Escocesas, depois Loja Geral Escocesa. Não as colunas propriamente ditas, mas as doze constelações zodiacais como marcos do movimento imaginário do Sol na sua eclíptica.

Na sua decoração inicial iam apenas as constelações do Zodíaco, fixadas ou desenhadas na base da abóbada, posteriormente seria adotado o uso de colunas encravadas nas paredes Norte e Sul para indicar o caminho iniciático do maçom. Nesse sentido, vale a pena mencionar que no princípio essas colunas nem mesmo existiam, só se tornando definitivas com a evolução dos rituais a partir do final do século XIX e começo do século XX.

O que se pode dizer a respeito é que as Colunas Zodiacais são elementos alegóricos originais do REAA, sobretudo porque explicam uma doutrina iniciática que tem por desiderato comparar a evolução (transformação) do elemento homem com a transformação da Natureza operada pela revolução anual e aparente do Sol formando os ciclos da Natureza (estações do ano).

Desse modo, outros ritos que porventura as adotem, o fazem por pura enxertia, pois esses elementos emblemáticos não se coadunam com o arcabouço doutrinário de outros ritos latinos e muito menos ainda com os trabalhos anglo-saxônicos.

Vale mais uma vez mencionar que essa alegoria natural é originária da Loja Mãe Escocesa, loja criada em outubro de 1804 para elaboração do primeiro ritual simbólico do REAA na França. Assim, essa Loja Mãe, que seria extinta em 1816 por motivos capitulares, originalmente deu ao REAA a abóbada estrelada e decorada com astros e constelações, das quais inclusive as zodiacais figuradas na sua base, além da cor encarnada do Templo; a posição original das Colunas Solsticiais B e J, norte e sul respectivamente; e a aclamação Huzzé como saudação ao Sol.

Enfatizo que tudo isso é contribuição da Loja Mãe Escocesa que, diga-se de passagem, nada tem a ver com outros ritos que não o do escocesismo.

Assim, rituais que porventura mencionem Colunas Zodiacais fora do REAA, fatalmente estão bastante equivocados, não passando de elementos de enxertos que nada contribuem para a compreensão da essência iniciática de cada rito ou trabalho. Originalmente, o Rito Francês, ou Moderno, o Adonhiramita e o próprio Rito Brasileiro, não trazem na sua estrutura simbólica as Colunas Zodiacais – essa é a verdade.

Eram esses os meus breves comentários a respeito, destacando que esse é um assunto complexo e precisa ser entendido na sua essência, caso contrário certamente as conclusões podem deixar muito a desejar.




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