Sobre a Palavra Sagrada do Aprendiz (BOAZ)
Muitos já escreveram a respeito da diferença de escrita da palavra. Alguns trabalhos dignos de apreciação e outros repletos de opiniões pessoais sem qualquer contribuição para o tema.
A diferença da escrita se apresenta de acordo com as duas principais versões bíblicas – a Septuaginta (Dos Setenta) e a Vulgata.
*Septuaginta* - Versão dos "Setenta" ou "Alexandrina" é provavelmente a principal versão grega por sua antiguidade e autoridade. Sua redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a. C., sendo usada pelos judeus de língua grega ao invés do texto hebreu.
O nome "Setenta" se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a 70 sábios judeus helenistas, enquanto que "Alexandrina" por ter sido feita em Alexandria. Em relação à questão, particularmente nessa versão bíblica a palavra tem a grafia de BOAZ.
*Vulgata* - No sentido em curso, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo por determinação do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se, sobretudo da língua grega, passando após a tradução latina denominada Vulgata a consolidar-se, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532. No tocante à questão, nessa versão a palavra é rotulada como BOOZ.
Ainda, não menos importante citar é que, por ocasião da Reforma Protestante, que quebraria o monopólio latino da língua, está a tradução da Bíblia por Martinho Lutero para a língua alemã. Nessa tradução, no que concerne particularmente ao termo, encontra-se a palavra BOAZ.
Na concepção protestante inglesa de tradução bíblica o termo BOOZ é desconhecido, senão identificado como BOAZ.
Outro aspecto para ser considerado é que o termo BOOZ é desconhecido no vernáculo hebraico, senão a palavra BOAZ.
Sob esse prisma a palavra correta deveria ser BOAZ, já que BOOZ é considerada uma corruptela da palavra apropriada adquirida por equivoco de São Jerônimo por ocasião da tradução para a Vulgata.
Em linhas gerais a conservação dessa corruptela deu-se pela Igreja Católica alegando respeito ao tradutor bíblico (São Jerônimo) e resolveu manter a tradição da Vulgata.
Em termos de Maçonaria é facilmente compreensível o uso dessa palavra dependendo da sua vertente. No Craft inglês e, por conseguinte no Americano, dentre outros costumes anglo-saxônicos, a dita é tida como BOAZ, enquanto que na vertente latina (francesa) da qual pertence o REAA, não na sua totalidade, porém na sua grande maioria, o termo é compreendido como BOOZ, provavelmente influenciado pela Vulgata (latina por excelência).
A Maçonaria brasileira – filha espiritual da França – acabaria nos ritos de origem francesa por adquirir o costume de uso da corruptela (BOOZ) tornando-se um elemento consuetudinário, sobretudo no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dadas essas considerações, devido ao caráter de segredo do Grau imposto à palavra no Rito Escocês na sua forma de transmitir, não existe oficialmente uma orientação para o uso da palavra BOAZ ou da corruptela BOOZ no Grande Oriente do Brasil, senão o costume consuetudinário do modo errado de escrever ou pronunciar a dita palavra sagrada.
Penso que a Maçonaria, como investigadora da Verdade e dela fazendo parte o Grande Oriente do Brasil, urge a necessidade de revisão sobre esses conceitos amparados por tradições superadas. Se a palavra correta é BOAZ, que sentido teria o uso de uma corruptela?
Enquanto permanece o equívoco, sugiro que as Lojas pelo menos ministrem uma instrução esclarecendo os fatos sobre o assunto, ao mesmo que tempo remeto o Irmão a consultar uma excelente Peça de Arquitetura intitulada “Discussões Bíblicas – BOOZ ou BOAZ” do respeitável Irmão Willian Almeida de Carvalho (encontrada na Internet) que em minha opinião fecha o assunto, além de dar subsídios para pesquisa sobre o tema.
Apenas para esclarecer - as duas formas escritas se referem ao nome do mesmo personagem bíblico tomado pela Maçonaria como Palavra Sagrada conforme o Rito e o Grau simbólico.
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