(Fonte: Informativo Mensageiro Seguro, Ano XIV, de 24/04/2020. Ed. 1.049)
A ÉTICA, compreendida como um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo profissional ou de uma sociedade, sempre foi imprescindível para uma convivência pacífica e para o respeito dos direitos sociais e individuais.
Neste sentido, sempre que falamos em ética a primeira ideia que surge em nossa mente é a obediência a regras, códigos de conduta, regulamentos entre outras coisas deste tipo.
Mas segundo a opinião do filósofo Ken Wilber, entender a Ética dessa forma convencional, isto é, como um conjunto de regras ou leis às quais devemos uma “obediência infantil”, faz parte de uma visão egocêntrica do mundo, onde impera um egoísmo pouco inteligente, cuja premissa é ser “um bom rapaz” ou “uma boa moça”, alguém politicamente correto, por assim dizer.
Ken Wilber defende a tese de que se nós pudermos elevar nossa consciência, a Ética poderia ser mais inteligente, renovadora e divertida como a vida deve ser; seria uma manifestação consciente da liberdade e de um interesse que vai mais além do interesse por si mesmo.
A Ética pensada desse modo seria pós-convencional e basicamente se fundaria na empatia, pois sua premissa principal seria incluir o maior número de perspectivas possível na resolução de conflitos éticos e morais.
O indivíduo ético, dessa forma, desenvolveria a capacidade de assumir perspectivas cada vez mais amplas, desde a perspectiva do “EU – Ego” (onde tudo gira em torno de si mesmo), passando a incluir a visão da segunda pessoa “Nós” (onde as coisas giram em torno da nossa família ou do nosso grupo) e por fim chegaria a englobar a visão da terceira pessoa “Todos nós”, na qual estaria incluída a perspectiva de todos os seres humanos e seres vivos do planeta.
Outro ponto interessante da tese de Ken Wilber é o fato de que ele considera a Ética como o exercício da bondade em nossa vida cotidiana que leva em conta todas as formas de sinceridade, autenticidade, respeito e caráter que compõem nossa integridade básica.
Noutras palavras, ele propõe uma evolução da Ética para níveis mais elevados de pensamento, em que o indivíduo abandone a visão egocêntrica de mundo.
Portanto, o indivíduo seja íntegro em razão da elevação de sua consciência e da aquisição de uma “sensibilidade ética”, ou seja, que desenvolva a habilidade de se sintonizar com as exigências do momento, tornando-se capaz de adotar a perspectiva alheia, através da empatia, o que o levaria a perceber qual deveria ser a ação correta ou incorreta na situação.
Com o desenvolvimento dessa capacidade empática de assumir a perspectiva do outro, ele inclusive sugere que nós ultrapassemos a Regra de Ouro, aquela segundo a qual devemos fazer ao outro aquilo que gostaríamos que fosse feito a nós, e que passemos a adotar em nossa vida a "Regra de Platina", um conceito desenvolvido pelo filósofo Karl Popper, que consiste em “tratar os outros como eles gostariam de ser tratados”.
Quando concebeu essa regra, Karl Popper disse que “Ainda que a regra de ouro seja um bom estandarte, pode ser melhorada se tratarmos os outros, sempre que possível, do modo como eles gostariam de ser tratados”.
Em tempos em que tanto se fala de empatia, e quando tanto se precisa da Ética, pensar numa *ÉTICA DA EMPATIA* vem a calhar, pois se já é louvável que nós sejamos éticos, ainda que em razão de uma visão egocêntrica de mundo e ainda que motivados pelo simples desejo de parecer “politicamente corretos”, seria ainda mais louvável (e desejado) que nós pudéssemos transcender os níveis do nosso próprio Ego para, num nível seguinte, adquirir a capacidade de adotar a perspectiva alheia em qualquer situação de nossa vida cotidiana.
E, através do exercício da autêntica empatia, pudéssemos tratar os outros como eles gostariam de ser tratados e não conforme a nossa visão pessoal egocêntrica, na qual nos determinaríamos como o outro deseja ser tratado, segundo a nossa própria perspectiva.
É um exercício difícil, eu sei.
Já é bem difícil tratar os outros como nós gostaríamos de ser tratados, quiçá como eles gostariam de ser tratados.
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