março 23, 2022

A CONDUTA ÉTICA DO MAÇOM NA MAÇONARIA E NO MUNDO PROFANO - Ir. Josias do Santos


Penso ser importante na gênese deste trabalho apresentar ainda de que forma muito simplificada e limitada por certo aos meus escassos conhecimentos filosóficos um conceito acadêmico de ética.

O termo ética deriva do grego ethos que tinha o sentido de definir o caráter, o modo de ser de uma pessoa e a sua conduta em relação aos seus pares.

Ética seria, portanto, um conjunto de valores morais e de princípios que norteiam a conduta do individuo na sociedade. Uma boa conduta ética individual serve para que haja equilíbrio e um bom funcionamento social, possibilitando que ninguém seja privilegiado na sociedade.

Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, por que não representam um conjunto de normas sistematizadas e porque a sua não observância não implica em sansão, está relacionada sim com o sentimento de justiça social.

A ética se forma dentro do individuo e da sociedade com base nos valores históricos e culturais de determinado grupamento humano, pela visão filosófica a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Importante destacar que cada sociedade ou grupo possuem seus próprios códigos de ética.

A ética diferencia-se da moral na medida em que esta última se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos pelos indivíduos, a ética, por outro lado busca fundamentar o bom modo de viver, uma conduta correta sempre através da evolução do pensamento humano, depende, portanto da capacidade de cada individuo em assimilar estes conceitos e estar disposto a aplicá-los no seu dia a dia.

Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana, sendo a moral a qualidade desta conduta, quando analisada do ponto de vista daquilo que chamamos de bem e mal.

A fim de melhor compreender este conceito podemos dividir a ética em:

Metaética que se constitui na capacidade de se determinar se os valores de uma sociedade são bons ou maus, seria uma visão de segunda ordem eis que analisa teoricamente a valoração das condutas sociais, é uma analise filosófica da ética, uma analise do ponto de vista externo, busca determinar o status dos valores na estrutura de um determinado agrupamento social.

Ética normativa que estabelece concepções e princípios morais considera que uma ação é positiva quando leva o maior numero de pessoas possíveis a felicidade. Nesta linha as instituições, por exemplo, seriam justas quando suas normas sociais levassem o conjunto da sociedade à felicidade.

Ética aplicada constitui-se na aplicação de conceitos éticos as mais diversas áreas profissionais, como a advocacia e medicina, determinando através dos seus estatutos as condutas consideradas antiéticas por aquele determinado grupamento de profissionais que pode também prever a aplicação de sansões aos profissionais que mantenham uma conduta não ética.

Na área médica se poderia questionar se eventual decisão de transplantar este ou aquele paciente, poderia ser feita com base na aplicação de conceitos éticos.

Ética sociológica ou descritiva se presta a determinar que valores se sustentem em um determinado agrupamento social, baseia-se mais nas questões sociológicas, como por exemplo, determinar se o aborto é ou não aceitável, alguém que não segue a ética da sociedade a qual pertence é considerado de antiético, assim como o ato por ele praticado.

Atualmente vivemos uma crise ética sem precedentes que atinge a sociedade em todos os seus níveis, culturais e econômicos, neste sentido cabe lembrar Platão que defendia que sociedade ideal seria a dirigida por Guardiões sobre os quais pesariam tal grau de regras e responsabilidades que a escolha para ocupar estes cargos deixaria de ser um privilégio para tornar-se um sacrifício, só concebível para aqueles que conseguissem realmente compreender que a conduta correta exige perfeita identidade entre o bem comum e a satisfação pessoal, nesta linha podemos afirmar que uma conduta deixa de ser ética quando coloca a satisfação pessoal acima do bem comum.

Na utopia da sociedade perfeita preconizada por Platão os governantes seriam escolhidos unicamente por seus méritos, praticariam a harmonia completa do verdadeiro sentimento ético, sacrificando a si próprios em detrimento do bem comum, sem outra recompensa que não a gratidão de seus semelhantes.

Deveriam ser homens de vontade férrea que não teriam famílias nem posses e viveriam numa fraternidade na qual não existiria espaço para a hipocrisia ou a vaidade.

Já naqueles tempos também Sócrates identificou a pouca preparação intelectual dos dirigentes, destacando sempre que era incompreensível que para as tarefas mais triviais se exigisse preparação, mas que aos governantes bastava ser capazes de conduzir pela demagogia ou pela compra de votos à massa das populações, tal qual ocorre em nossos dias em que para se assumir um cargo de nível médio no setor público se exige aprovação em concursos concorridíssimos e para assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados não se exige sequer que o candidato saiba interpretar um texto.

Interessante considerar que a ética não deve ser confundida com a lei, muito embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos.  Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas, por outro lado, a lei com grande freqüência pode ser omissa quanto a questões relacionadas à ética.

Ou seja, em muitas situações uma conduta antiética pode ser legal, fato comum em nosso tempo em que políticos recebem, com base nas leis, duas ou até três aposentadorias enquanto o homem comum quando muito recebe uma, podemos dizer que esta conduta não é ética porque privilegia o interesse particular em detrimento do bem comum, já que é o conjunto da sociedade que subsidia as aposentadorias dos marajás através do pagamento de impostos que deveriam ser destinados a beneficiar o conjunto da coletividade e não a uma casta dominante.

Então temos meus Irmãos que se poderia afirmar que a essência da ética se fundamente na dualidade entre o bem comum e o bem individual, sendo que o comportamento ético é aquele que é considerado bom, devemos nos perguntar a todo o momento como devemos agir perante os outros, esta pergunta por certo é de alta indagação e de difícil resposta tanto para um profano quanto para um Maçom.

Sendo, portanto exigível do homem comum no seu dia a dia uma conduta ética, muito mais se exige do Maçom, eis que este se propõe a ser um homem livre e de bons costumes, deve o Maçom ser um exemplo de cidadão e buscar o aperfeiçoamento constante no que diz respeito ao seu caráter.

Evidentemente que manter uma conduta ética irretocável a exemplo do que pregava Platão com os seus guardiões implica e grande sacrifício e constante questionamento, o fato de que a ética não está em regra geral vinculada às questões legais nos coloca em situações diárias em que temos que decidir entre adotar uma conduta ética ou simplesmente observar o que é legal.

O manto da legalidade pode em muitos casos servir como justificativa para uma conduta antiética, como ser criticado se aquilo que se fez é permitido pela legislação do grupo social em que vivemos, essa crítica tem que ser interna e depende por óbvio do nível de desenvolvimento do individuo e da sua capacidade de entender que o bem comum está acima dos seus interesses pessoais.

Eugênio Bucci, em seu livro Sobre Ética e Imprensa, descreve a ética como um saber escolher entre "o bem" e “o mal", levando em conta o interesse da maioria da sociedade. Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é ruim no comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a ética é o indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que afetam terceiros.

Entendo que a conduta ética deve estar muito mais ligada a nós como indivíduo do que propriamente a nossa condição de ser ou não Maçom, talvez por isso se diga que em geral o Maçom já era Maçom antes de ser iniciado, não se inicia alguém que não possua uma conduta ética correta.

Evidentemente que a nossa conduta em relação à sociedade tem muito da educação que recebemos da nossa família, assim como da nossa formação religiosa e das academias por nós frequentadas, tudo aquilo que ao longo da nossa formação conseguimos absorver do ponto de vista do conhecimento e da capacidade em desenvolver o nosso pensamento e a nossa visão de mundo se reflete na pessoa que somos e por consequência em nossa conduta social.

A Maçonaria por certo contribui para este desenvolvimento na medida em que nos proporciona um ambiente onde podemos discutir estas matérias de alta indagação, a busca do aperfeiçoamento humano talvez seja o principal legado da Maçonaria sendo os Maçons elementos de divulgação destas qualidades tendo em vista que transferem para a sua vida profana os ensinamentos absorvidos na fraternidade.

A prática de fazer o bem aos Irmãos e a Maçonaria em geral é dever de todo o Maçom dele não se espera outra conduta que a não do respeito às diferenças e a busca constante em identificar nos Irmãos e em nossa fraternidade aquilo que de melhor tem a nos oferecer, procurando sempre destacar as qualidades e entender e perdoar os eventuais defeitos, as críticas devem sempre ser construtivas e dentro do possível ser dirigidas as condutas praticadas e não aos indivíduos.

A arrogância, a soberba, o desrespeito as idéias dos Irmãos por certo não podem ser consideradas como uma conduta Maçônica em Loja devemos sempre ouvir mais do que falar e pensar muito antes de falar, pois uma palavra dita jogada ao vento não pode ser corrigida.

Concluindo meus Irmãos podemos dizer então que uma conduta ética, seja na maçonaria, seja na vida profana está intimamente ligada com a nossa capacidade de saber identificar o bem e o mal e de optar pela prática do bem ainda que isso implique em determinado sacrifício, sendo sempre o bem comum o objetivo principal daquele que se julga ético e mais ainda daquele que se julga um bom Maçom.

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