março 05, 2022

SINDICÂNCIA: INSTRUÇÃO E APTIDÃO - Ir.´. José Maurício Guimarães


Nos meu momentos de folga, estive pesquisando sobre os requisitos obrigatórios para alguém pretender ser iniciado na Maçonaria. No Regulamento Geral da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, entre outros dispositivos da Constituição, deve ter o candidato "instrução suficiente para a compreensão e a prática dos ensinamentos maçônicos". 

Nas demais Potências e Obediências regulares são igualmente requisitos: "estar o candidato apto a apreender conhecimentos litúrgicos e filosóficos" ou "ter inteligência e capacidade de discernimento suficientes para o entendimento e aplicação dos princípios maçônicos". 

Comecei a pensar se não é nesse ponto que se demonstram ineficientes grande parte das sindicâncias. 

Um candidato pode ter meios de subsistência para cumprir os encargos financeiros da Ordem; pode ter profissão e meio de vida lícitos e reputação ilibada e, apesar disso, não estar apto para a compreensão dos ensinamentos maçônicos, nem ter capacidade de discernimento para a prática deles. 

Mesmo nos requisitos de foro íntimo, um candidato pode declarar que "crê num Ser Superior e na imortalidade da alma", enquanto essas declarações escritas não encontram ressonância em seu interior.

É impossível para o sindicante certificar-se disso. Seguramente não são os fatos de um maçom perder os meios de subsistência ou deixar de crer na imortalidade da alma que trazem as piores consequências para a Maçonaria. 

A vida tem seus percalços e ninguém está livre de viver uma crise financeira. Do mesmo modo, questionar e duvidar é próprio da natureza do homem, variando a crença, a fé e a ciência na medida em que a busca e a transformação de si mesmo prossegue (princípio da complementaridade no papel do observador na mecânica quântica).

O que traz as piores consequências para as Lojas, e consequentemente para a Maçonaria, é descobrir-se, após a iniciação, que aquele homem não tem a inteligência nem a capacidade suficientes para a compreensão a prática e dos ensinamentos maçônicos. Quando digo inteligência, refiro-me ao conjunto de funções psíquicas (e psico-fisiológicas) que contribuem para o conhecimento e apreensão da natureza das coisas e captação do significado dos fatos. 

Não estou falando de cultura. Se pudéssemos abrir a cabeça de uma pessoa, olharmos lá dentro e mensurar o quantum de aptidão e entendimento existe, seria tudo mais fácil. Até o coeficiente de moralidade seria detectado numa radioscopia computadorizada. Não precisaríamos de sindicantes. 

Todavia, mesmo as sindicâncias são incapazes de prever qual entendimento aquele homem terá sobre Maçonaria, o que ele realmente espera de uma Loja e quais serão seus atos no futuro. Estamos sempre jogando no escuro, esta é a verdade. 

No passado houve homens inteligentes com ideias "a seu modo", que quase precipitaram Lojas e Potências no abismo. Só não o fizeram porque o povo maçônico pensa com acerto quando pensa em conjunto. 

É comum encontrarmos maçons de longa data praticando uma "maçonaria à moda da casa" deles - do jeitão deles, com interpretações bizarras do simbolismo e da ritualística. São, na maioria dos casos, boas pessoas e cidadãos exemplares. Mas torcem a Maçonaria para que ela atenda ao seu próprio "modo de ver a vida", sendo que o maçom é que tem de contorcer-se para se adaptar aos critério da vida iniciática. 

As crises internas da Maçonaria, as cisões, a divisão nas Lojas e a constante demanda aos órgãos judicantes nascem exclusivamente da falta de instrução e da incompreensão dos ensinamentos maçônicos, assim como das reiteradas falhas na prática dos mesmos. 

Em primeiro lugar, o Venerável Mestre de uma Loja é o primeiríssimo responsável por sindicâncias bem feitas, pois escolhendo os sindicantes mais perspicazes, a Loja será capaz de melhor diagnosticar o candidato que se lhe apresentam. 

Em segundo lugar, o Venerável Mestre de uma Loja é o primeiríssimo responsável por instruções bem ministradas e pela supervisão dos trabalhos apresentados para aumento de salário. 

Chega, já apontei os problemas. Passo agora às possíveis soluções: 

1) Um candidato poderia receber um livro ou artigo sobre Maçonaria (de caráter público, evidentemente) e, a posteriori, ser interrogado, numa das sindicâncias, a respeito de suas impressões sobre o texto. São falaciosas as sindicâncias que representam meras visitas, com cafezinho (um bebida talvez...) - doces e guloseimas, como olhares furtivos para a qualidade dos móveis da sala-de-estar ou uma espichada de pescoço ("pescoçada") até à garagem para ver o modelo e o ano do automóvel do candidato. 

2) Depois de iniciado, os temas para trabalhos de aumento de salário deveriam priorizar o questionamento da repercussão da instrução na vida do Aprendiz ou do Companheiro. Por exemplo: "o compasso - como seu simbolismo tem afetado ou modificado sua vida pessoal e/ou profissional?" Desta forma estaríamos aquilatando o nível de instrução e compreensão dos ensinamentos maçônicos. 

A maioria dos trabalhos que tenho ouvido em Loja são meras cópias dos rituais e das instruções; o neófito apenas assina a cópia no final da página sem compreender a função transformadora do simbolismo. Isto é, no mínimo, um abuso contra os direitos autorais dos detentores do Rito! 

Trabalhos para aumento de salário têm por objetivo averiguar a aptidão de apreender Maçonaria e não a esperteza de copiar [copy] e colar [past]. 

O que temos presenciado é a bateria de alegria após esses plágios. Se quem pede aumento de salário não escreve de moto próprio, que permaneça recebendo o mesmo salário até estar apto a a apreender conhecimentos litúrgicos e filosóficos e passar para outra coluna. 

Afinal de contas, quem pretende ser elevado ou exaltado é também candidato. Em Maçonaria não pode existir mais-ou-menos. Do contrário estaremos condenados a ser mais-ou-menos justos e mais-ou-menos perfeitos. Como se diz por aí, "era o que continha"... ou melhor: é o é o que contém.

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