abril 02, 2022

AS SETE ARTES LIBERAIS - Ir.’. Valfredo Melo e Souza




No entendimento maçônico, como se sobe a escada do aprimoramento? Por três, cinco e sete ou mais degraus. Por que tão místicos números? Três foram os Mestres na construção do Templo de Salomão. Cinco são os sentidos que possuem os homens para ouvir, ver, degustar, cheirar, tocar e reconhecer os irmãos tanto nas trevas como na luz. Sete porque são as ciências ou as artes liberais. Mas que artes liberais? 

Cinco séculos antes de Cristo, Platão estabelecera uma distinção entre as artes liberais; chamou-as de encruzilhadas de três e quatro caminhos e que viriam a ser conhecidos na Idade Média, pelos nomes de “trivium” e “quadrivium” ou o “septivium”. O trivium incluía a gramática (estudo da língua), a retórica (arte de falar) e a lógica (arte do raciocínio) que conduziam à eloquência. 

O quadrivium compreendia a aritmética (arte de contar), a geometria (arte de medir), a música (a arte da harmonia, a virtude dos sons) e a astronomia (a arte de conhecer os corpos celestes), que levavam o homem ao “Templo do Saber”, isto, na aurora da Idade Média, no século seis, com Boécio, Justiniano, no Império Bizantino e nos mosteiros beneditinos.

No século oito, com o filósofo Alcuíno, organizador do ensino no reino franco, onde tais matérias ou artes liberais, reuniam todo o “saber da antiguidade” e eram os únicos conhecimentos desse período medieval disseminados pelo continente. 

O trivium era transmitido em dois tipos de escolas: uma dedicada aos futuros monges e era chamada de “oblatas”; outra dedicada à plebe em geral, onde ler e escrever não eram prioridade; sua finalidade era familiarizar as massas campesinas com as doutrinas cristãs para mantê-las dóceis e comportadas. 

Tal como viria a ocorrer na Ordem dos Templários: de um lado os “frères du convent” e de outro os “frères du métier”. Nobres os primeiros, de classe inferior os últimos. 

O conjunto dessas disciplinas que compunham o septivium era o currículo mínimo das universidades e denominava-se “clarezia” ou as “sete artes liberais”. A partir do século onze, surgem as escolas catedralícias, germe da universidade, da arquitetura românica, da arquitetura gótica. 

O termo universidade – universitas – designava, originalmente, qualquer assembleia, fosse ela de sapateiros, ou de carpinteiros, ou de padeiros; eram as corporações de ofício ou guildas, hierarquicamente constituídas de aprendizes, jornaleiros e mestres.

Reuniões livres de homens que se propunham ao cultivo das ciências e das artes liberais, por isto, “arte dos homens livres” distintas das artes do homem servil, do escravo, que eram conhecidas como “artes mecânicas ou manuais”. 

Na fachada da catedral de Paris aparecem figuras simbólicas que nos remetem às sete ciências liberais como traços marcantes da “história da educação”: a dialética e a serpente da sabedoria; a gramática e o látego dos castigos; a aritmética contando nos dedos; a geometria e os seus compassos; a astronomia e o seu astrolábio; a música e os seus sinos. 

Partindo da grande reforma do ensino proporcionada por Alcuíno, as artes liberais aparecem como um instrumento pelo qual o espírito se manifesta na filosofia e é capaz de expressá-la, como revelação da Arte Real. 

Verifica-se na universidade já amadurecida do século doze, também, um ciclo hierárquico: o bacharel, o licenciado, o doutor, o que dava status de nobreza à burguesia emergente, portadora da borla, do capelo, do anel e do livro.

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