OS DOIS SÃO JOÃO E SEU RELACIONAMENTO COM O DEUS ROMANO JANUS
O Cristianismo uma vez implantado tratou de extirpar toda a tradição pagã até então existente em Roma, que era ditada pelo mitraísmo, religião de origem persa existente há 2700 A.C. a qual confrontava com os novos princípios cristãos, que estavam sendo implantados.
Roma tinha entre seus deuses locais, um deus tipicamente romano Janus ou Joannes, que deu nome ao mês de Janeiro, e que era representado por duas faces (bi frons), uma olhando para frente, para o futuro, e outra olhando para trás, para o passado.
As festas solsticiais de Janus eram celebradas em 21 de junho e 21 de dezembro dias de entrada e saída do verão e inverno respectivamente, isto no hemisfério norte, no hemisfério sul é o contrario, e ainda comemoravam no dia 25 de dezembro o nascimento do menino Mitra.
Segundo vários autores houve uma adaptação de Janus, sendo o mesmo cristianizado sob o nome dos dois São João. Inclusive pela semelhança do nome Joannes ou Janus com João. Há quem diga que ambas são duas versões de um único ser. Janus aparece em muitas gravuras antigas, vitrais, moedas antigas sempre com as duas faces. A igreja Católica não concorda com esta interpretação.
O cristianismo aproveitou a religião, tradição e os costumes dos pagãos modificando de acordo com a conveniência cristã da época. É lógico que o cristianismo que estava sendo implantado não poderia manter a adoração ao deus-Sol.Por isso, substituíram-no por Jesus Cristo. Os antigos especialmente no hemisfério norte comemoravam a noite de 20 para 21 de dezembro o solstício de inverno até com sacrifícios humanos, o renascimento do Sol (Natalis invicti solis). No dia 20 para 21 de junho igualmente era comemorada uma festa solsticial de verão. Esta regra valia para o hemisfério norte, sendo no hemisfério sul, o contrário. As datas que os cristãos adotaram para os dois São foram uma em 24 de junho João Batista e a outra em 27 de dezembro para São João Evangelista estão muito próximas das datas solsticiais celebrada pelos pagãos. E ainda aproveitaram o nascimento de Mitra 2.700 a.C. que os pagãos adotavam no dia 25 de dezembro para ser o dia do nascimento de Cristo e ainda criaram um novo calendário iniciando o ano zero com o nascimento de Cristo.
O Cristianismo naquele momento histórico de sua existência teve que fazer apropriações das tradições e costumes dos pagãos e dar a sua forma de ser, para incorporar as inúmeras fileiras de pessoas convertidas à nova religião, que estavam ainda culturalmente programados pela religião antiga.
Ainda no simbolismo que foi transmitido pela Maçonaria Operativa nas figuras de São João Batista e São João Evangelista que estão representados nos painéis dos ritos em seus rituais por um círculo com duas paralelas tangenciais. Este círculo representa o ciclo anual ou ainda a trajetória do Sol correspondendo os pontos de contatos destas duas tangentes diametralmente opostas aos dois pontos solsticiais que correspondem ao Trópico de Câncer no hemisfério sul e ao Trópico de Capricórnio no hemisfério norte.
Para os maçons, círculo representa o Sol e as duas paralelas tangenciais representa os dois São João. Para os maçons apegados à corrente calcada no Antigo Testamento elas representariam Moisés e Salomão, mas está abandonada esta interpretação.
SÃO JOÃO DE JERUSALÉM, SÃO JOÃO ESMOLER OU HOSPITALEIRO
O Rito ou Maçonaria Adonhiramita adota como padroeiro São João de Jerusalém também conhecido como São João Esmoler ou São João Hospitaleiro. É um santo reconhecido pela Igreja. Teria nascido no ano de 550 D.C. e falecido em 619 em Amamonte-Chipre. Este São João não tem relação com os santos da Maçonaria Operativa.
Segundo Ragon, quem trouxe este santo para a Maçonaria, foi o Barão de Tschoudy e outros maçons da época que acreditavam que a Maçonaria era originada das Cruzadas. Segundo a lenda, este São João seria filho do rei de Chipre e teria deixado sua terra natal e abdicado de seus direitos como herdeiro do trono e teria partido para Jerusalém para dispensar socorros aos peregrinos e soldados cristãos feridos. Todavia segundo outros autores afirmam que ele seria o Patriarca de Alexandria e teria enviado recursos à Modesto de São Teodoro na Palestina para reconstruir as igrejas destruídas pelos árabes. Há também outra lenda que diz que ele fora grão-mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém no século VII. Ainda existem autores que o identificam com São João da Escócia, figura lendária na Maçonaria que jamais existiu.
SÃO JOÃO DA ESCÓCIA
Este “santo” jamais existiu. No entanto nos antigos rituais do Grande Oriente do Brasil ele era citado e mesmo nas paredes dos átrios ou Sala dos Passos Perdidos dos templos havia imagens deste “santo”. Também não está relacionado como santo da Igreja. Encontra-se citação com este nome como o nome de uma loja francesa fundada em Marselha em 1751 e que teria desempenhado papel importante na Revolução Francesa, mudando de nome após terminar a revolução.
Também citam alguns autores que ele teria este nome porque seria o santo de uma igreja construída na Escócia por franco-maçons.Fala-se também que seria o título de uma Ordem de Cavalheiros Espanhóis, bem como outra de São João da Palestina, que combateram em Jerusalém os chamados infiéis. Mas não se tem comprovação.
Enfim, há um grande número de “São João” que constam como santos do hagiológio da Igreja, a saber:
JOÃO BATISTA, JOÃO EVANGELISTA, JOÃO ESMOLER, João Batista Scalabrini, João Batista de La Salle, João Batista Piamarta, João Batista Berchmanns, João Bosco, João de Brito, João Crisóstomo, João Clímaco, João da Cruz, João de Deus, João Damasceno, João Ogilvie, João de Sahagum ou João Facundo, além do Papa João I e João II.
Não se pode negar que a Maçonaria tem um relacionamento profundo com o Cristianismo. A Maçonaria emprestou da Igreja Católica a cópia do próprio templo maçônico, muitos símbolos, objetos, muitos costumes que foram adaptados, vestes (vide os graus superiores do REAA). E também emprestou o Batista e o Evangelista.
Ressalte-se que quando começou a ser falar em Maçonaria Operativa, a Igreja Católica já existia há mais ou menos mil anos. Com relação aos santos protetores da Maçonaria eles não têm para a Ordem um valor religioso, e sim simbólico, Portanto os dois São João têm seu lugar dentro da Maçonaria, através de seus evangelhos com simbolismo esotérico profundo, e também diferente da interpretação religiosa e do público profano.
REFERÊNCIAS
ASLAN, Nicola - Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Editora Artenova - S.A.- vol. IV - Rio de Janeiro, 1976
CASTELLANI, José - Cadernos de Estudos Maçônicos - Consultório Maçônico II - Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. - Londrina, 1989
NAUDON, Paul - A Maçonaria - Edipe - Artes Gráficas - São Paulo, 1968
PALOU, Jean - A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento - São Paulo, 1964
VAROLI, Theobaldo F. - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica S.A - São Paulo,
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