Newton Agrella é escritor, tradutor, um dos mais notáveis intelectuais da maçonaria no Brasil
É para ficar pensativo quando nos deparamos com a instigante expressão:
"...Vamos fabricar relógios e não dar a hora certa..."
Ora, todos temos o direito de saber o horário das nossas atividades, dos deveres e obrigações que nos aguardam, do respeito por aqueles que nos esperam e claro, a noção relativa do periodo daquilo que começamos e terminamos.
Porém, nada justifica tornarmo-nos escravos e submissos ao nosso prazo de validade, tampouco permanecermos monitorando cada fração de segundo que se vai...
Nossa existência é exclusiva por si só , uma vez que ela não se resume a uma fugaz experiência material, corpórea ou material.
Somos bem mais que isso.
Dispomos do espírito e da razão, que somadas à inteligência compõem uma propriedade única e consistente que nos conduz à chamada "consciência".
Esta sim, é a verdadeira manifestação humana e anímica que nos conecta com o Principio Criador e Incriado do Universo.
Especular o quanto de tempo vamos viver esta experiência presente, não é um atributo de nossa competência.
Nosso propósito é aprender "como viver" e de que maneira podemos aperfeiçoar o nosso interior, além de praticar e compartilhar a Virtude com todos os que estão à nossa volta.
Fabricar relógios é um exercício inspirado na contemplação de um objeto de estilo, requinte, elegância e até mesmo de status social. Para por aí !
Sob a égide dialética, contudo, "dar a hora certa", encerra uma idéia que transgride a nossa capacidade existencial.
A hora certa não é minha, dele, dela ou nossa. Ela é simplesmente a propriedade geral da exterioridade do pensamento.
O ser humano, pela sua condição mortal, sob o ponto de vista físico, é impactado pelo tempo de maneira diferente da do espaço.
Dado o seu caráter de irretroatividade, ciclicamente contido na idéia constante de Passado, Presente e Futuro, o tempo tem o poder de causar angústia pelo fim desconhecido.
Segundo o filósofo grego Platão, há no mito do eterno retorno, onde o tempo simboliza um movimento cíclico.
O conceito deste mito, apesar de extinguir o peso do passado e da vida, encerra o homem nas suas possibilidades e ações factível e imagináveis, bem como no empreendimento de sua liberdade.
Fica um convite para que ao olharmos para os ponteiros do relógio, nos detenhamos sobretudo na forma e sofisticação de seu design, deixando um pouco de lado a preocupação impronunciável de seu destino.
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