O Respeitável Irmão Elder Madruga, Deputado Federal da Loja Cavaleiros de Aço do Pantanal, 4.288, Rito de York, GOB, Oriente de Cuiabá, Estado do Mato Grosso, formula a seguinte questão: Fui iniciado no REAA em 98, mas há 10 anos estudando e praticando o Trabalho inglês. No momento, representando a Loja como Deputado Federal. Li seu belo artigo sobre Lojas Capitulares. Fiquei com algumas dúvidas e pergunto se o Irmão poderia sana-las:
1. Quando e como chegou ao Brasil o REAA? O rito majoritário na época seria o Moderno ou a Adonhiramita?
2. No seu texto você escreve "escocesismo alcançando também a Maçonaria brasileira, fato que duraria até os meados do século XIX época em que se extinguiria o sistema das Lojas Capitulares". Não seria "meados do século XX"? Pergunto em função de que li que as Lojas Capitulares no Brasil só deixariam de existir após a cisão de 27, quatro anos depois o GOB desistiu de ter seu Grão Mestre comandando o Supremo Conselho.
3. Na França, a maçonaria do século XVIII tinha a influência dos Modernos, que devido a Prichard havia feito alterações de sinais, toques, palavras... em que o ritual de 1804 levou a herança dos "Antigos"? Pergunto porque vejo no ritual do REAA GOB a Pedra Bruta no altar do 1º Vigilante e a Cúbica no do 2º.
4. Você escreveu "É bem verdade que ainda existem Obediências no Brasil que, na contramão da história, mantém equivocadamente para o Rito em questão aventais e templos azulados herdado por influência do Craft americano". Li um artigo intitulado "A Variação dos Aventais de Mestre Maçom no REAA no Brasil" (de Joaquim da Silva Pires) que o avental com borda azul surgiu no GOB por Decreto do GM no ano de 1889. Me intriga porque nessa época a Constituição do GOB dizia que o avental era orlado de escarlate. O que teria motivado o GM a baixar esse Decreto, aparentemente inconstitucional, e que pegou?
Considerações:
1. Oficialmente o Supremo Conselho do Brasil fora criado em outubro de 1.832, dez anos após a fundação do Grande Oriente Brasílico (do Brasil), por Francisco Gê Acayaba de Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha que possuía carta patente para tal oriunda dos Países Baixos.
2. Sim, ainda na França, no Século XIX seriam extintas as chamadas Lojas Capitulares, já que o Supremo Conselho da França (o segundo do mundo) reivindicava para si a tutela dos Graus acima do terceiro, enquanto ficavam apenas os três primeiros Graus (simbolismo), corretamente, sob a égide da Potência Simbólica – em resumo, as coisas voltavam aos seus devidos lugares, já que houve tempo antes que o Grande Oriente da França havia criado as tais Lojas Capitulares para tutelar os graus escoceses até o 18º enquanto que os demais ficavam sob a direção do Supremo Conselho da França.
Ocorre, entretanto que essa extinção não viria se dar logo de imediato na Maçonaria brasileira já que Montezuma, por decreto de junho de 1835, criaria “irregularmente” corpos maçônicos ilegítimos que muitos dissabores trariam à Maçonaria brasileira – seria o caso das Lojas Capitulares criando uma situação anômala de Loja mista simbólico-filosófica, cuja aberração somente desapareceria aqui em 1.951. Cabe mencionar que essa situação foi um dos pretextos para a grande cisão ocorrida em 1.927.
3. A herança antiga está principalmente na disposição topográfica que seria adaptada ao deísmo francês com a porta de entrada do Templo ao centro por ocasião da criação do simbolismo escocês na França no início do Século XIX por maçons oriundos das Lojas Azuis integrantes do Craft norte-americano.
Devido à doutrina investigatória da Natureza desenvolvida ao longo da evolução dos Rituais simbólicos escoceses, a mesa do Segundo Vigilante que ficava originariamente à moda francesa também no Ocidente, simétrica à mesa do Primeiro, porém na banda Sul, voltaria para a porção mediana do Ocidente, ao meio-dia seguindo a disposição dos “Antigos” em cumprimento à dialética de observar a passagem do Sol no meridiano.
Nesse interim, ao contrário dos Antigos da vertente inglesa e, por conseguinte também das Lojas Azuis norte-americanas onde a Pedra Bruta fica originalmente junto ao Segundo Vigilante, no REAA (vertente francesa) ela se posicionaria próxima à mesa do Primeiro Vigilante – posição essa que é mantida no Rito ainda hoje.
Daí na Maçonaria inglesa e norte-americana a Pedra Bruta ainda permanecer de modo tradicional próxima ao Segundo Vigilante, já no escocesismo, ao contrário, próxima ao Primeiro Vigilante.
Atenção: isso não inverte a posição dos Aprendizes e Companheiros na Loja. Independente de onde estiverem localizas as duas Joias Fixas (Bruta e Cúbica) os portadores do Primeiro Grau sempre tomam assento no Norte e os do Segundo no Sul, sejam eles da vertente inglesa ou da vertente francesa.
Aliás, esse é um fato que boa parcela de Irmãos ainda não compreendeu e até mesmo não aceita, simplesmente porque não perceberam a existência de duas vertentes principais da Maçonaria – a inglesa e a francesa, porquanto existir entre elas diferenças doutrinárias fundamentais – algumas sutis e outras bem visíveis e palpáveis. Assim, a questão da disposição das Pedras também está de acordo com o arcabouço doutrinário dessas duas principais vertentes maçônicas.
4. Ratifico o que escrevi, até porque embora exista discordância de certos articulistas, eu vejo alguns acontecimentos pontuais e que não tem nenhum peso histórico no geral dos acontecimentos.
Realmente o que afirmaria e justificaria o “azular” de aventais escoceses no GOB foi à influência sofrida pelos fatos hauridos pela cisão e a criação das Grandes Lojas Estaduais brasileiras em 1.927 quando buscaram o reconhecimento das Grandes Lojas nos Estados Unidos da América do Norte.
Assim esses aventais de orla azul apareceriam definitivamente no REAA em solo brasileiro afrontando à sua tradição, de tal modo que a própria Obediência dissidente influenciaria paulatinamente o Grande Oriente do Brasil nesse equívoco que apregoa, na contramão da história, um escocesismo azulado ainda hoje no Brasil.
Às vezes alguns autores no afã de se mostrarem “grandes conhecedores” sugerem a existência de decretos extemporâneos como uma documentação comprobatória e definitiva de um fato. Penso que esses esquecem que o que aqui se discute é a razão dos eventos que levaram os aventais escoceses se tornarem oficialmente orlados de azul aqui no Brasil e não um episódio isolado como é o caso de um decreto que inclusive à época se contrapunha a Lei maior, ou a Constituição do GOB, até porque a história do azul nos aventais escoceses também merece a consideração de que a Maçonaria brasileira, antes do ingresso do escocesismo por aqui, era composta pelo Rito Moderno e Adonhiramita, cujos aventais desses Ritos também são indiscutivelmente orlados de azul.
Sem dúvida, pontuais influências desses Ritos reforçariam também o costume de se azular os aventais escoceses ao longo da nossa história, todavia isso não traduz os mesmos como fatos primordiais e decisivos que dariam origem ao equivocado matiz azulado nos aventais de Mestre no escocesismo brasileiro.
Ilustrando a existência “escarlate” no REAA é que transcrevo trecho editado no livro de minha autoria - Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom – onde mantive a grafia da época contida no “Guia dos Maçons Escossezes ou Reguladores dos Três Gráos Symbólicos do Rito Antigo e Aceito – Grande Oriente Brazileiro” impresso em 1.834 na tipografia Seignot-Plancher, Rua do Ouvidor, 96, Rio de Janeiro, página 46 – Decoração da Loja ou Templo:
“As paredes do templo, mezas, docel, etc., são forradas de encarnado4 no rito escossez e de azul no rito moderno e adonhiramita; nestes dous últimos os galões e franjas dos paramentos devem ser de prata ou de fazenda de côr branca e no primeiro de ouro”.
Ainda no mesmo Guia, página 49 - Das insígnias e joias do Rito Escocês Antigo e Aceito:
“Gráo 3.º - Fita azul orlada de escarlate5 a tiracollo da esquerda para a direita, suspensa em baixo a joia, que é um esquadro e um compasso de ouro entrelaçados; a joia pode ser cravejada de pedras. Avental branco de pelle forrado e orlado de escarlate com uma algibeira abaixo da abêta, sobre a qual estão bordadas as letras M.´.B.´.”.
Por fim, sugiro também ao Irmão a obra de José Castellani – O Supremo Conselho No Brasil – Rito Escocês Antigo e Aceito – Editora Maçônica A Trolha – Londrina, 2000. Por ela se poderá chegar a uma bibliografia primária pertinente aos fatos que envolveram a fundação do Supremo Conselho sob o ponto de vista acadêmico da história nesse particular.
4 Encarnado – cor de carne; vermelho. A cor vermelha.
5 Escarlate – de cor vermelha muito viva.
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