maio 20, 2022

O LUGAR DO APRENDIZ - Rui Bandeira



O local onde uma Loja maçônica se reúne é pelos maçons designado de Templo.

Dentro do Templo, e no decorrer de uma reunião de Loja, tudo existe segundo uma ordem determinada e todos têm assento em locais definidos. A segurança que psicologicamente é transmitida a quem se encontra num local ordenado, onde tudo e todos estão no seu lugar, ajudam à criação de uma atmosfera de confiança, descontração e concentração que é preciosa, quer para o bom desenrolar da sessão, quer para o conforto de todos, quer para a predisposição para atender aos assuntos do espírito, deixando-se efetivamente os metais à porta do Templo.

Como todos os outros obreiros, o Aprendiz tem o seu lugar determinado. Ou, melhor dizendo, uma zona da sala destinada a que ele ali se coloque e assista a tudo o que se passa.

Esse lugar, essa zona, situa-se nas cadeiras traseiras do lado Norte da sala.

O lado Norte aqui em causa é, como quase tudo em Maçonaria, simbólico.

Pode, portanto, corresponder ou não ao Norte geográfico.

Normalmente, as salas onde decorrem as reuniões de Lojas têm a forma retangular, com a entrada colocada num dos lados menores.

E quando não tem essa forma, utilizam-se os adereços necessários para que o local onde decorra a reunião tenha essa disposição.

O lado onde se situa a entrada é, por convenção, designado de Ocidente.

Logo, o lado oposto, onde se coloca a Cadeira de Salomão, é o Oriente.

A generalidade dos obreiros toma assento nos lados direito e esquerdo da entrada.

Convencionado que está que a entrada se situa no Ocidente, o lado direito de quem entra é, portanto, o Sul e o lado esquerdo de quem entra é o Norte.

Portanto, o Aprendiz toma assento na segunda fila do lado esquerdo de quem entra.

Como sempre, esta disposição tem um significado simbólico.

Para ser entendido, há que ter presente que a Maçonaria nasceu no hemisfério Norte.

Neste hemisfério, o que está situado a Norte é menos ensolarado, menos iluminado.

Em termos de Maçonaria, o Aprendiz ainda está na fase de transição da vida profana para a vivência maçônica.

Está em processo de aprendizagem dos símbolos, dos princípios, da vivência, da Maçonaria.

Está no início do percurso que todos os maçons procuram fazer, do seu aperfeiçoamento, da busca do Conhecimento do significado da Vida e da Morte, da Criação, do Universo, do Material e do Imaterial. 

Está, como os maçons dizem, no início do caminho para a Luz.

O Sol nasce a Oriente. Simbolicamente a Luz que o maçom busca encontra-se a Oriente.

Daí que seja no lado que simboliza o Oriente que se encontra a Cadeira de Salomão, onde toma assento o Venerável Mestre, que conduz a Loja e os seus Obreiros na busca, individual e coletiva, do aperfeiçoamento e do Conhecimento, na busca da Luz.

O Conhecimento, para quem não está preparado, pode ser nefasto, pode ser incompreendido ou mal compreendido e, logo, recusado, afastado, distorcido. 

Portanto, o acesso à Luz deve ser gradual, em função da capacidade, da preparação, do Caminhante.

Consequentemente, aquele que está ainda menos preparado, aquele que está ainda na fase inicial da sua Jornada, deve ser protegido do excesso de Luz, para que nele se não torne nefasto o que deve ser benfazejo.

Assim, deve tomar assento na zona mais protegida da Luz, ou seja, no Norte.

Quanto ao fato de tomar assento nas cadeiras traseiras, e não na primeira fila, tal deve-se, quer ao fato de, quanto mais ao Norte estiver, mais protegido estar da Luz em excesso, quer, muito mais prosaicamente, ao fato de o Aprendiz ainda ter uma reduzida intervenção nos trabalhos e ser conveniente deixar a primeira fila ser ocupada por quem pode intervir ou necessita de circular pela sala...

Protegido na sua zona, subtraído a movimentações, o Aprendiz está sossegado, em plenas condições de se concentrar, de tudo observar, de tudo apreender.

Em Maçonaria, o Aprendiz é um Homem do Norte...

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