maio 17, 2022

O PAVIMENTO DE MOSAICO - José Castellani



O pavimento quadriculado é originário da Suméria, na Mesopotâmia ("terra entre rios"), região da Ásia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, a qual abrigou, ao lado do vale do Nilo, as mais antigas civilizações organizadas e estratificadas da Terra. 

Estabelecidos na região de Sumer, ao sul da Mesopotâmia, a partir do V milênio a.C., os sumerianos influíram, decisivamente, na formação mística, metafísica e cultural dos demais povos asiáticos e mediterrâneos. Hoje, não restam mais dúvidas de que eles inventaram a escrita (cuneiforme); o sumeriano era a língua hierática (sagrada), usada nos textos religiosos de praticamente todos os povos antigos, enquanto o acadiano (de Acad, região ao norte de Sumer) era a língua diplomática, usada, inclusive, pelos egípcios.

Além da justiça, é certo que os sumerianos criaram quase tudo: administração e justiça fundadas em Códigos, que serviam de padrão; formas políticas de governo, que vão desde as cidades-estado até ao império; instrumentos de troca e de produção; formas de pensamento religioso, que dominaram o mundo antigo; a astronomia e a astrologia, técnicas de construção, que foram copiadas por outros povos (os especialistas Woolley e Parror reconstituíram,  além dos templos religiosos, as casas sumerianas de dois andares, protótipos das futuras casas gregas e romanas); e assim por diante.

A religião, contudo, foi o centro e o motor de toda a vida mesopotâmica, tornando-se a base de toda a religiosidade cósmica do mundo antigo e da mitologia greco-romana. Entre os símbolos religiosos sumerianos, encontrava-se o pavimento quadriculado, composto de quadrados brancos e negros intercalados, simbolizando os opostos, principalmente o dia e a noite, já que o culto era solar. 

O pavimento quadriculado era terreno sagrado, antecâmara dos santuários, só percorrido pelo sacerdote hierarquicamente mais graduado, nos dias mais importantes do calendário religioso.

Nem todos os demais povos, todavia, adotaram esse símbolo (os hebreus, por exemplo, não o usaram e ele não existia no templo de Jerusalém), enquanto muitos o adotaram apenas como elemento decorativo (caso dos antigos gregos e cretenses), sem qualquer conotação religiosa e sem caráter sagrado.

Em Maçonaria, nos ritos que o adotam, o pavimento não tem sentido sagrado, não sendo proibido pisá-lo (como absurdamente, ainda fazem algumas Lojas), pois ele recobre todo o solo do templo; nesse caso, a orla dentada é colocada junto ao rodapé, como guarnição do pavimento. 

Ele não tem, também, a importância que certos autores místicos lhe querem dar, pois antigos rituais NEM SEQUER O CITAM, demonstrando a sua finalidade de elemento decorativo, não essencial à simbologia maçônica. Quando, todavia, existir na decoração maçônica, deverá ocupar todo o solo do templo, incluído o átrio, pois este faz parte do templo.

Ele é, geralmente, chamado de mosaico, graças à lenda, segundo a qual Moisés teria assentado, no chão do Tabernáculo (em hebraico: suká = tenda, ou mishkán = santuário), pequenas pedras coloridas. 

O termo nada tem a ver com o pavimento, ou mural, feito de pedras, que formam desenhos, e nem com a palavra "musaeum" (museu), como querem alguns autores. 

Na realidade, o vocábulo mosaico, quando usado como adjetivo (como é o caso, em pavimento mosaico), É ALUSIVO A MOISÉS e, por extensão, ao hebraísmo; quando usado como substantivo, significa "pavimento feito de pequenas peças, que, pela disposição de suas cores, dão a aparência de desenhos.

Na Maçonaria inglesa e toda aquela sob sua influência, diz-se pavimento quadriculado (“checkered flooring"), sem qualquer alusão a mosaico, ou a Moisés. Isso, inclusive, seria o mais correto, evitando especulações cansativas e irrelevantes.

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