Ao começar meus estudos sobre a Arte Real, especificamente sobre o Painel de Aprendiz, fiquei maravilhado frente ao oceano de significados que um simples ponto pode representar. Fato este que deixaria, sem sombras de dúvidas, qualquer grande autor dos tratados de semiótica, como por exemplo o afamado Humberto Eco (autor do renomado livro “O Nome da Rosa”), estimulado.
E se este mesmo autor analisasse as colunas B e J? As características arquitetônicas, filosóficas e maçônicas de cada parte destas colunas? Pois é, foi com esta curiosidade que me deparei com a corda de 7 nós, também presente no painel de aprendiz. Daí a primeira pergunta: por quê sete nós? Comecei a pesquisar. Daí a minha primeira dificuldade, pois a maioria dos autores compulsados não falavam tudo, sempre deixando alguma coisa no ar como se nos induzisse a procurar mais.
Procurei em outros, mais um pouco de respostas, mas, ainda, com dúvidas. Isso não é bonito? Pensei, como é perfeita a maçonaria, mesmo nos respondendo nos estimula a procurar mais, por que as respostas nem sempre estão juntas. Mas por que sete nós e não quatro, dois, nove ou outro número? Assim, nesta odisseia de pesquisa, enviei um e-mail ao Ir.’. José Castellani indagando sobre os sete nós. E como não poderia ser diferente, o mesmo deu-me pistas para eu mesmo procurar as respostas.
O sete por ser um número cabalístico, nos induz a pensar em muitos significados... Foi na obra “ Curso de Maçonaria Simbólica”, do Ir.’. Theobaldo Varoli Filho, que pude encontrar uma adequada explicação, no que se refere aos sete nós. Tudo teve início nas ordens monásticas medievais, ou seja, o ensino era gratuito ( como ainda hoje é preconizado pela nossa Or.’. ) e a disseminação da cultura era muito estimulada entre os mesmos, sendo esta última enfatizada pelos Beneditinos.
Cassiodoro (468-561), após ter sido primeiro ministro do rei Ostrogodo Teodorico, fundou um convento e agregou monges, cujas principais obrigações eram a de reproduzir manuscritos e a praticar algumas artes ditas como liberais. Liberais por ser dignas de um homem livre e totalizavam sete, ou seja, gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, música e astronomia.
Todavia coube a Boécio, um filósofo, poeta e estadista contemporâneo de Cassiodoro, a distinção das sete artes liberais em TRIVIUM (gramática, lógica e retórica) e QUADRIVIUM (aritmética, geometria, música e astronomia), o que correspondia a uma divisão de estudos em dois ciclos.
Estas sete artes representavam, em razão direta, as artes que o Aprendiz tinha que dominar para ascender na Esc.’. de Jacó, ou seja, era necessários sete anos de estudos, uma arte por ano, para que um Apr.’.M.’. passasse a Comp.’.M.’. Isto ainda ocorria nos primórdios da maçonaria especulativa. Ainda hoje, encontramos no ritual do grau 1o. do REAA, que o Apr.’. deve procurar dominar as Sete Artes Liberais.
E por gramática entende-se que é a sistematização dos fatos da linguagem, por retórica a arte de bem dizer e de exprimir, lógica a ciência da verdade e do método ( aqui cabe um parêntesis: ainda no referido ritual do Grau 1o., cabe ao maçom, discípulo de liderança, o dever de falar e escrever com correção e verdade, e, acima de tudo, falar pouco e dizer muito ); por aritmética a ciência dos números, geometria é o estudo das medidas e extensões, e além dos ensinamentos simbólicos e filosóficos que proporciona, a geometria ensina, aos obreiros da Arte Real, a contar e medir seus próprios atos; por música, além de demonstrar a exatidão dos números de vibrações por segundo (frequência) dos sons realmente afinados, inspira a grandes emoções e a harmonia, haja vista a presença desta importante coluna representada pelo M.’. de Harm.’., que, inclusive, é o propósito de outro trabalho já concluído; e, por último, a astronomia – que além de seus ensinamentos científicos, mostra ao Maçom a sua insignificância diante da obra do GADU, e que o maçom, sendo o microcosmo, procura inteirar-se da grandeza do macrocosmo. Para aqueles IIr.’ que queiram aprofunda-se no conhecimento destas artes, cito a tese do Ir.’. Carvalho Nunes, publicada pela Ed. A Trolha, intitulada “ As artes liberais e a Maçonaria”.
Por fim, espero, que, com este simples trabalho, eu tenha contribuído ao enriquecimento dos conhecimentos maçônicos dos IIr.’. participantes desta Lista, especificamente no que se refere à corda de sete nós que adorna o painel do grau de Apr.’.M.’..
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