O Ritual de Abertura, assim com o de Encerramento dos trabalhos em Loja é, talvez, um dos mais importantes dentro do simbolismo maçônico.
Ele dá os passos necessários para passar do mundo profano para um estado superior de existência ou, em outras palavras, passar da aparência à realidade, sempre e quando cumpramos com uma série de atitudes e disposições.
É por isso que a palavra ritual significa "DE ACORDO COM UMA ORDEM".
É penetrar em um plano supra espacial e atemporal, o qual vai sendo criado e desenvolvido no interior de cada um dos irmãos presentes à sessão, proporcionalmente ao grau de concentração que se tenha para esse momento.
Abrir os trabalhos é abrir nossa Loja Interior, é fazer uso das primeiras palavras do axioma hermético "Visita Interiora Terrae... (Visita o Interior da Terra...), mas para que isso seja possível devemos obter a calma interior, abstraindo-nos das preocupações profanas e fazendo Silêncio, para que o Venerável, então, possa dizer: Em Loja, meus Irmãos.
O verdadeiro silêncio é o que permite alcançar o estado de atenção aberto à voz interior, ao conhecimento do Mistério (no sentido daquilo que não está acessível aos não iniciados), por isso se diz que a atenção provoca a lucidez.
Não se trata aqui de uma atenção forçada, mas, sim, espontânea e voluntária, sobre algo que realmente nos interessa.
É um estado de alerta em uma direção definida, o que o converte de fato em concentração (ir para o centro de si mesmo), é o que encaminha para o conhecimento e a tomada de consciência da atemporalidade, quer dizer, do conhecimento Espiritual surgido da profundidade e que desvela a Verdade.
Em resumo, SILÊNCIO é a via para a Contemplação Espiritual (e em Loja).
Renè Guénon, em suas "Percepções sobre a Iniciação", nos diz que o Símbolo pode ser visual, sonoro ou estar em ritos e alegorias.
É somente por meio de sua meditação, e especulação, que poderemos conseguir chegar ao Despertar do Homem Interior e ao alinhamento deste com os Poderes do Universo que o rodeia, de maneira consciente e efetiva.
Devemos viver e sentir com intensidade o que está se passando durante a Abertura dos Trabalhos, porque nessa ocasião está sendo levado a cabo um momento sagrado de expansão das nossas potencialidades, mediante forças cósmicas que nos permitirão aceder às instalações do nosso Templo Interior, e estar em contato com o mestre condutor que nos guiou e protegeu durante nossa iniciação.
A criação da verdadeira Egrégora coletiva se dará na medida em que todos os Irmãos estejam conscientes de que essas coisas estão realmente se passando, não sendo um simples formalismo necessário para poder começar a Sessão.
O que se disse até agora? Que a Abertura não é mais que um estado de Meditação especial, que nos levará a uma Concentração tal que podemos nos colocar em contato com nosso Eu interno e sentir as vibrações energéticas que permitirão obter a Grande Obra hermética: a transmutação da matéria. Aqui entra em jogo a segunda parte do axioma.... "Invenies Ocultum Lapidem" (Encontrarás a Pedra Oculta).
Para tanto, é de grande importância nos despojarmos de todos aqueles pensamentos e preocupações que podem desviar nossa atenção e só deixar entrar pensamentos que possam servir-nos de obreiros, no mais íntimo de nossa consciência.
Nenhum pensamento se acha sem influência sobre o caráter e a existência, senão que exerce segundo sua qualidade, uma obra construtora ou destruidora, tanto em uma como em outra.
A educação maçônica, bem como toda a educação individual, começa precisamente com o controle e a seleção inteligente dos pensamentos que se admitem em nossa mente.
Como diz Aldo Lavagnini, não podemos evitar que aves voem sobre nossa cabeça, mas sim evitar que elas pousem e façam seu ninho sobre a mesma.
Da mesma forma, temos que evitar que em nossa mente repousem aqueles pensamentos que não recebem a aprovação do nosso melhor critério e de nossa consciência mais elevada; isto corresponde à ordem que dá o Ven.’. M.’. ao 1º Vig.’., para assegurar-se se estamos A COBERTO DAS INDISCRIÇÕES PROFANAS.
Ritualisticamente, o G.’. do Temp.’. informa ao 1º Vig.’., e este ao Vem.’. M.’., que se está cumprindo esta condição, mas aqui salta uma dúvida que deixamos no ar: Será que, realmente, estamos a coberto, quando vemos irmãos falando ou consultando seus relógios?
Pitágoras dizia que, para obter a verdadeira iniciação, teríamos que passar por um processo de formação que permitisse ao iniciado ir desenvolvendo certas qualidades especiais.
Assim podendo passar do virtual ao real, com isso querendo dizer que, para obter o Despertar da Consciência, deve-se contar com certas qualificações.
É por isso que o Ven.’. M.’. se certifica, por intermédio dos VVig.’., se todos os presentes são Maçons e estão à Ordem.
Essa condição é necessária, mas não suficiente, já que se deve cumprir, ainda, com uma condição temporal (que Pitágoras denominava as Três P: Preparação, Purificação e Perfeição).
Essa é a razão do Ven.’. M.’. perguntar o tempo necessário para terminar a Obra, que começa no momento em que se obtém o contato com nosso Mestre Interior, em Silêncio e em Loja, para que possamos receber a maior Iluminação Espiritual possível: que é ao Meio-Dia.
O diálogo que se segue, entre o Ven.’. M.’., os VVig.’. e os DDiác.’., nos leva a especular sobre o ato cósmico que se está levando a cabo, onde se passa do tempo profano para um tempo sagrado, como já se disse anteriormente.
Em outras palavras, é fazer a correspondência entre o Micro e o Macrocosmo, necessária para a Criação e a Recreação do nosso Templo Interior, como o diz o 2º Vig.’..
Isso fica corroborado quando o Ven.’. M.’., em virtude dos PODERES DE QUE ESTÁ INVESTIDO, evoca o nome do G.’. A.’. D.’. U.’., a Egrégora da Loja, gerada pela concentração dos irmãos presentes e as forças superiores e transcendentais, representadas por todos os irmãos ausentes, desde a noite dos tempos, os quais têm perpetuado a CADEIA INICIÁTICA, onde o Ven.’. M.’. é só um ente transmissor.
Depois de conseguir essas correspondências atemporais é que podem ser declarados ABERTOS OS TRABALHOS.
O M.’. de CCerim.’. representa a ligação entre nós e o Princípio Superior e Divino que mora no nosso interior.
É por meio dele que poderemos nos desenvolver DE ACORDO COM UMA ORDEM, pois é ele quem vigia para que tudo esteja de acordo, colocando a ORDEM NO CAOS.
É com a ajuda desse Princípio, unido à prática do V.’. I.’. T.’. R.’. I.’. O.’. L.’., que se conseguirá a Iluminação (o acendimento das Luzes), que nos permitirá entender o Plano traçado pelo G.’. A.’. D.’. U.’. (leitura do Livro da Lei) e obter o equilíbrio entre a Matéria e o Espírito (o Esquadro e o Compasso).
Abrir a Loja é escutar o nosso Mestre Interior, que é a nossa Consciência, e isso pode levar muito ou pouco tempo, dependendo de conseguirmos entender quais os passos necessários a serem dados para chegar a esta meta, os quais deverão ser cumpridos conforme formos subindo na escada do Simbolismo.
Bibliografia:
- GONZÁLEZ, Federico. Introducción a la Ciencia Sagrada.
- LAVAGNINI, Aldo. El Secreto Masónico.
- VALE AMESTI, Fermín. Cuadernos Masónicos Nº 1.
** Traduzido do espanhol pelo Ir.: José Carlos Michel Bonato
Trabalho de Autoria do Ir.: Antonio J. Velásquez, Membro da A.’.R.’.L.’.S.’. Hans Hauschildt, 175 - Or.’. de Ciudad Guayana, abril de 2009.
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