agosto 15, 2022

DE MÃOS DADAS COM OS VERBOS DE LIGAÇÃO - Newton Agrella



Na estrutura gramatical da Língua Portuguesa encontramos aquilo que se classifica como verbos de ligação.

Esta categoria de verbos não indica ação ou movimento.

Sua propriedade é a de designar uma qualidade, um estado ou uma classificação.

A função destes verbos é a de fazer a ligação entre dois termos: o sujeito e suas "características". 

Seguem os principais verbos de ligação : 

ser, estar, permanecer, ficar, tornar-se, continuar, andar, viver e parecer.

Porém, ironicamente, dentre estes verbos, aquele que tem assumido um protagonismo sem igual é justamente o verbo "parecer".

Pois é, este verbo tem se cercado de especiais cuidados e atributos que o acompanham.

Em tempos de eleições, exemplos muito nítidos do emprego do referido verbo se revelam em frases tais como:

"...Não basta ser honesto, precisa antes de tudo *parecer* honesto..."

"...O candidato *parece* sincero..."

"...O mediador do debate *pareceu* inseguro..."

O que se nota neste fugaz cenário semântico, é que o protagonismo do verbo "parecer" se instaura e se destaca antes mesmo de verbos como "ser" ou "estar".

Este fenômeno linguístico tem sido um instrumento para não se comprometer com afirmações inequívocas ou radicais.

Trata-se de um verbo que ocupa um espaço, transitoriamente, sem o receio de deixar rastros.

Pode "parecer" estranho ou conflitante, mas ao utilizar-se deste verbo de ligação as características   que revelam o sujeito, gozam de uma espécie de imunidade ou proteção a contraofensivas que possam vir adiante.

Afinal de contas, tudo o que parece, necessariamente "nao é" ou "não está", pois sua existência se sustenta sob uma experiência hipotética.

Parece brincadeira, mas não é, pois a vida vocabular deste verbo possui as propriedades transformadoras de um camaleão, que pode forjar diferentes identidades ao sabor das meras circunstâncias e protocolares conveniências.

Deixemos assim, o convite para que estejamos minimamente cônscios de seu emprego ao conjugá-lo em nossas ações discursivas ou ao emitirmos determinado juízo de valores.

Portanto, leia bem o que está à sua vista e não se deixe levar pela sofismática ideia do "parece mas não é".


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