Heitor Rodrigues Freire é Corretor de imóveis e advogado, past GM da GLMS e atual Presidente da Santa Casa de Campo Grande.
“A maioria das pessoas prefere morrer a pensar e é exatamente isso que elas fazem” - Bertrand Russel.
O significado da vida é um questionamento que cada um se faz, naturalmente, de quando em quando. É um ponto que deve merecer atenção especial de quem entende a necessidade de saber por que e para que estamos aqui.
Essa resposta deve vir diretamente do coração, pois tem uma característica muito íntima que não pode sofrer influência de quem quer que seja, por sermos entidades únicas e incomparáveis.
As diferentes religiões que orbitam em nosso planeta buscam responder a esse questionamento, mas o fazem de forma coletiva, e cada uma dá a interpretação que lhes permita manter seu rebanho apaziguado e circunscrito ao seu meio. Dessa forma, as religiões foram, cada uma a seu tempo, suscitadas no sentido de contribuir para a evolução da humanidade. O problema é que como a religião é uma invenção humana, ela está sujeita a toda sorte de imperfeições, assim como qualquer outra atividade empreendida pelo homem. Às vezes, ela mais ajuda do que atrapalha e vice-versa, alternadamente de acordo com seu contexto.
À medida que vivemos, cada vez mais se evidencia a singularidade que nos caracteriza como seres únicos. Nem todos se dão conta da própria originalidade, imersos que estamos na frivolidade e correria dos dias.
Para sair desse estado de torpor, a manifestação da autoconsciência é fundamental. É a consciência que nos proporciona o meio e as condições necessárias para a libertação. Não adianta seguir os ensinamentos de um guru ou de algum sábio de fora. O verdadeiro despertar acontece de dentro para fora, e nunca o contrário.
Viktor Frankl, um neuropsiquiatra austríaco e de origem judaica, sofreu na pele todo o horror imposto por Hitler aos judeus. Ele foi preso com seus pais e sua mulher, que acabaram morrendo na mão dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar de ter passado por quatro campos de concentração como prisioneiro (sem ter cometido um único crime, é bom frisar), ele sobreviveu.
Anos depois, Frankl contou sua saga no livro “Em busca de sentido”. Traduzido em quase todos os idiomas, é considerado uma obra prima. Ele não fez um relato das crueldades que sofreu e testemunhou, pois seu objetivo era enviar uma mensagem ao mundo: “Eu só queria transmitir ao leitor, através de um exemplo concreto, que a vida tem um significado potencial em todas as condições, mesmo nas mais miseráveis”.
Assim como Nelson Mandela, Viktor Frankl transformou seu sofrimento em hino de amor e o difundiu como mensagem verdadeira, porque soube sublimar o próprio martírio, superando as dificuldades que viveu, sabendo tirar proveito e ensinamento das suas vicissitudes.
Frankl morreu em 1997, aos 92 anos, pouco depois de fazer seu primeiro voo como piloto amador. Deixou um legado que vai perpetuar seu nome para sempre, pois conseguiu sobreviver ao holocausto aplicando em si mesmo sua tese, e provou que o ser humano é potencialmente capaz de superar suas dificuldades.
Viktor Frankl deixou uma frase que resume sua linha de pensamento:
“Nós podemos descobrir o significado da vida de três diferentes maneiras: fazendo alguma coisa, experimentando um valor ou o amor, e sofrendo.” É um exemplo edificante que nos mostra o entendimento que cada um deve buscar com a própria experiência, vivendo, sofrendo, aprendendo e sobretudo, amando.
Se pararmos de ver problemas e começarmos a ver oportunidades, poderemos aproveitar para realizar nosso crescimento espiritual. É o momento de dedicar um tempo para a meditação e a oração, voltando-nos para nosso interior, convivendo de forma verdadeira com nossa consciência – a guardiã do nosso ser –, que é a fonte de todo aprendizado e evolução, da força e do amor. É tempo de descobrir a beleza da vida e do momento presente, com a esperança a iluminar nosso caminho.
A mudança verdadeira e transformadora é aquela que cada um pode realizar nos seus próprios atos e deve ser feita de forma consciente. Por menor que seja.
Assim, agora é o momento exato de pararmos tudo. Ouvir o nosso coração. Refletir. Meditar. Buscar o verdadeiro sentido do que está acontecendo, para que cada um possa avaliar o seu próprio comportamento. Cada um tem dentro de si todas as ferramentas necessárias para fazer essa avaliação e mudar.
É hora e tempo de acordar, de agir com lucidez, firmeza e disciplina; de eleger a sinceridade como expressão dos nossos pensamentos e dos nossos atos. Com todas as consequências daí advindas.
E não devemos dar importância às opiniões dos outros a nosso respeito. Ao não responder, não discutir, passamos a praticar um dos ensinamentos do Tao Te King: agir pelo não agir.
E assim, sabendo que as opiniões dos outros são apenas opiniões, sem oferecer-lhes resistência, o silêncio interno proporciona a serenidade e ensina a arte de não falar. A praticar o nobre silêncio. Que fortalece internamente. Há uma linda frase do poeta mineiro Chico Alvim, que diz assim: “Quer ver? Escuta.” Ela resume bem esta ideia.
A vida moderna, que não pede licença para ser invasiva, acabou dificultando, sem que se perceba, a privacidade de cada um.
E, com isso, renunciamos voluntariamente a esse privilégio maravilhoso, que é o direito à privacidade. Todos querem ser celebridade, ainda que num círculo restrito. A fama virou sinônimo de virtude. Todos querem exibir suas conquistas, sua família, seus momentos de sucesso.
Na contramão disso, a privacidade nos permite, com o trabalho silencioso e consciente, a manifestação da humildade. A humildade está presente agora e não no futuro. A humildade emerge naturalmente da consciência do ser, quando se aprende que ninguém é melhor que o outro. E ela nos conduz à busca da verdade e nos mostra a importância de nos conhecermos na essência. Esse processo de autoconhecimento nos liberta de todas as amarras que condicionavam nosso comportamento. Sem essa conquista, tudo é ilusão.
E para isso acontecer, estar presente é fundamental.
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