setembro 08, 2022

E OS MAÇONS SÃO FELIZES? - Aldo Vecchini



Aldo Vecchini é um escritor e intelectual maçom da ARLS Renovadora de Barretos, 68.


Convém sabermos a melhor resposta para a indagação encimada. Para não restar dúvidas na efetivação do que está no catecismo: “Uma Instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade, pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância e respeito irrestritos” ...


Vejam bem! Sejam os Maçons muito felizes. Aprimorem sua personalidade. Burilem seu caráter. Sejam como São João, nosso padroeiro, justo e sensato; como São Francisco, o misericordioso; sejam como São Lucas, referência em compaixão.


Ao admitirmos essa razoabilidade, já estamos polindo nossa pedra de toque. Já orbitamos o sistema do astro-rei: magnetizando, iluminando e aquecendo. E estudando profundamente nossos rituais, cooperamos conosco e com todos, influenciando e sendo influenciados. Interagindo!


Entre outras coisas... mas principalmente, com o fito de ajustar ou regular o fluxo na edificação diária do contentamento, da felicidade e do progresso pessoal e coletivo, saibamos interagir e entregar a carga necessária sem excesso e desperdício.


Enquanto cuidamos desse bem-estar, como o que estamos fazendo agora, a nossa positividade espiritual é otimizada, a nossa alegria melhorada e a quietude consagrada. Sim! Exercitando afeição e amizade, pensamos, agimos e compreendemos melhor a realidade.


Entre outras coisas sejamos persistentes na execução dos nossos propósitos, sabedores de que a prosperidade é dependente de boas escolhas e sábias decisões.  


Dois pontos.


Agora nós podemos refletir sobre o hoje e suas oportunidades, as escolhas que fazemos e até o que decidiremos. Como parâmetro inicial vamos analisar os dois pontos: quando há convergência no ponto de divergência e, divergência no ponto/momento de convergir.


Sim, pois sempre haverá o contraditório. E em considerando a nossa natureza, nossos sentimentos, nossos propósitos, para acertar mais, ferir menos e resolver o melhor, façamos uso da razão.


Não como sinônimo de divisão, mas de racionalidade, de sabedoria. É isso! Seja sábio! Pois como ensinou Sêneca: “você precisa mudar a mente, não o lugar, porque suas falhas o acompanharão aonde você for”.


Desejamos, então, que a sabedoria, a coragem, a perseverança e a justiça, sejam ferramentas utilíssimas nas mãos do “obreiro do bem” que mudará a situação/posição sempre que o fluxo necessitar.


Façamos ajustes e a manutenção perene dos nossos propósitos. Estabeleçamos uma direção. Celebremos o hoje. Pois quando se vive no momento presente é porque finalmente se encontrou e está vivendo de acordo com quem realmente é, seu centro, seu eu mais essencial.


Virtudes


"Não deseje situações difíceis, e sim, a virtude que permite superá-las". Sêneca

Enveredemos nessa passagem que nos levará ao bom destino: Que a nossa compreensão sobre as adversidades seja hercúlea. Pois sabemos que elas existem, existiram e sempre se apresentarão. Porém é a nossa habilidade de lidar com elas que dirão de nós.


Haveremos de superá-las. Sejamos virtuosos. Suplantemos os vícios que sucumbem nossa humanidade. Eles se apresentam quando nos foge a razão... Encontremos tempo para reflexões e esclarecimentos. Saibamos lidar com as situações com certa antecipação, quiçá desarmes.


Assim, nós e o que nos rodeia, entrará em nova ordem. Ordo ab Chao? E é possível sempre que conspiramos para isso. Com que propósito? Para forçar um momento de potencialização do raciocínio. Leiamos e pensemos em nossa missão de tornar as coisas melhores. Isso também é alquimia. 


Talvez desde que os estoicos divulgaram os princípios para uma vida melhor, por meio de ações mais razoáveis; equilíbrio entre a freada e a aceleração; superação dos obstáculos; compreensão das singularidades; flexibilização dos paradoxos; apropriamos dos elementos norteadores e carregados de sentido.


É isso! Que haja motivos para edificação de um túmulo para as paixões; um templo para as virtudes e um obelisco às vitorias. 


Novas perspectivas


A prancheta é a mesma. Porém as perspectivas são outras. E o artesão deve saber do seu traçado para manter a proporção total. Pensemos no tridimensional: comprimento, largura, altura ou profundidade; capital, trabalho e as leis; eu, você o outro; Deus, Pátria, família...


Estamos dialogando com quem projeta, cria e lidera. No mínimo espera-se racionalidade. Exatidão. Propósitos e diretrizes (sabedoria). Porque quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve (Lewis Carroll/Alice no país...).


Os estoicos ensinam que devemos seguir a natureza para levar uma vida feliz (acertar sempre e não reclamar nunca). Então, o artesão, como parte da natureza, não pode distorcer a realidade. A projeção, nesse caso, acompanha a perspectiva. 

Não queremos azedar nada. Tampouco julgaremos singular demais. Porém Epicteto deixa claro: “Não queira que as coisas aconteçam de acordo com seus desejos, mas deseje que elas aconteçam como devem acontecer”. Significa que a liderança tem a prerrogativa de antecipar, intuir e orientar.


Ok! Vivemos em comunidade, é verdade. Cada um desempenha as suas tarefas. Com isso muitas coisas fogem ao nosso controle. É indício de sabedoria aceitar isso. Mas recomendamos compreender essas situações ou reagir a elas de modo harmonioso, sem reclamar, pois, são determinadas pela natureza humana.


E o “acertar sempre” que pareceu exagerado nos parênteses ali em cima, ganha destaque aqui, no arremate: “Vivencie tudo o que lhe acontece como se desejasse que aquilo acontecesse contigo”. Assim, terás consciência dos benefícios e das dificuldades. E se não reclamardes, nem resmungares, atuarás no traçado da perspectiva que irás projetar. 


Simultaneidade


Convenhamos que talvez seja isso que acontece nas interações pessoais: Influenciamos e somos influenciados. Saibamos escolher o que apreender e compartilhar. Tem um ensinamento estoico muito pertinente: "Pessoas boas são mutuamente úteis porque exercitam as virtudes umas das outras".


É isso! Exercitemos a compaixão, a resiliência, a misericórdia, a alegria. Considerando-se que o propósito seja a construção do sucesso. Com todos: os pares, os ímpares e as incógnitas. Haja vista que não devemos excluir, mas unir e reunir, pela felicidade de todos. E nessa articulação, que não é nada singular, mas muito complexa, que predomine a sabedoria.


Como ensinou Lactâncio: "A sabedoria é dada à humanidade, é dada a todos sem discriminação".


Vejam bem! Convivemos com portadores, ou não, de bondade, de sabedoria, em exercício. Resta ao semeador, semear; ao líder, liderar; ao sábio, se refazer e ensinar. Pelo exemplo! Talvez seja essa simplicidade que potencializa a simultaneidade: a prática das virtudes, da sabedoria, do amor fati (ao seu destino). 

Burilamos com o pensamento de Sêneca: “Todos os seres humanos nascem para uma vida de companheirismo, e a sociedade só pode permanecer saudável por meio da proteção mútua e do amor de suas partes”.


Conhece a ti mesmo


Impactante frase na parede do Templo de Apolo, não é de agora, recomenda amplo estudo e reconhecimento próprios. Para que? Situar-se. E naquilo que lhe competir, ter o domínio, a compreensão ou ainda a sensatez de escolher o mais adequado.


Ser e estar é desafiador. Os enigmas são complexos. Trabalhemos pelo conjunto de saberes em construção e que nos capacitarão a agir corretamente – que sejam robustos –. E mesmo que não tenhamos controle total sobre nossas carreiras profissionais ou sobre o que somos capazes de alcançar na vida, certamente devemos nos empenhar pelo melhor – ou pelo melhor trabalho – com que somos compatíveis (D Fideler).


E ao debruçarmos nessa construção total, exatamente por capacidade e conhecimento, deixaremos as marcas ou a assinatura do sublime artesão, artista ou líder. E que o mais imprescindível esteja presente: a luz! Que simbolizando a razão, a Inteligência e a sabedoria, seja a neutralizadora da ignorância e da mediocridade.


Se assim for, Sêneca já ajudou bastante: “Acima de tudo esforce-se para ser coerente consigo mesmo”. Acrescentemos: que o nosso reconhecimento, a nossa energia, o nosso magnetismo, sejam todos autênticos e transbordantes.

Finalizando esse trecho – que o seu aprofundamento alcance nossas raízes –, para das profundezas do nosso íntimo, jorrar a leveza necessária e determinante de novos movimentos. Ascendentes e sucessivos.  


Um dia de cada vez


E encontrar todos os motivos, nas múltiplas oportunidades, para felicitar-se. É inegável que um dia feneceremos. Enquanto não chegar esse dia, “façamos o melhor com o que temos, até termos condições melhores, para fazer tudo, melhor ainda” (MSCortella). 


Isso é envolvimento e capricho. 


Temos outras contribuições e compromissos com a humanidade. Por exemplo: Exercite a arte de dar, apreciar e devolver – benefícios ou favores –. Vejam bem! Está evidente nisso que são recursos e habilidades sencientes.


Que haja treinamento suficiente e firmeza de propósitos. Somente os sencientes são capazes de tamanha gentileza, se preparados para essa emanação. Talvez seria mais exato dizer: somente os conscientes e lapidados semeariam tanto amor e gratidão em meio a disputas e batalhas. Pois temos no estoicismo que “Amor e gratidão andam juntas porque ambos envolvem apreço”.


Um dia de cada vez! Mas com tudo o que trouxer. Os ensaístas, então, escolherão o que comporá o conjunto da obra. Obra viva cheia de bons eflúvios. De agradecimentos sinceros. De felicidade.


Talvez ficaria melhor no subtítulo “Amor e Gratidão”. Porém encontremos todos os dias, as razões para viver bem, com alegria, e a certeza de que feneceremos um dia, mas se nos é dado um dia de cada vez, saibamos agradecer com boas obras.

Como arremate abusaremos dos ensinamentos de Marco Aurélio: “Não sonhe com o que você não tem. Em vez disso, pense nas grandes bênçãos que você já tem, pelas quais se sente grato – e lembre a si mesmo de como sentiria falta delas se não fossem suas –.”


E os Maçons são felizes?


Reflexões ancoradas na obra: Um café com Sêneca, David Fideler, ed. Sextante, 2022.

Aldo Vecchini, ARLS Renovadora de Barretos, 68.

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