setembro 18, 2022

VALE A PENA SER MAÇOM? - Carl Sagan




Estou ligado à Maçonaria há cerca de três anos. Será, pois, oportuno perguntar a mim mesmo se, nos dias que correm, vale a pena ser maçom.

Não sou sociólogo, pelo que a análise que faço do mundo que me rodeia é a de um leigo na matéria. No entanto, a sensação que tenho é de que a nossa sociedade está a atravessar uma fase em que impera o egoísmo e o vazio das ideias. E não me refiro apenas ao nosso país, mas à generalidade das nações. Proliferam as guerras, os atentados com bombistas suicidas e os fundamentalismos. Verifico com horror que a pedofilia é um monstro muito maior e mais poderoso do que alguma vez imaginei.

Fala-se muito em globalização, mas torna-se cada vez mais evidente que esta não inclui valores éticos ou de diálogo amigável entre os povos. Pelo contrário, é de puro materialismo em que o que conta é apenas o lucro. Valores como a solidariedade ou as preocupações sociais nada valem para as multinacionais que são quem mais fomenta essa globalização. “Deslocaliza-se” para onde a mão-de-obra seja mais barata e despedem-se milhares de trabalhadores com a maior das naturalidades.

No que se refere à religião, talvez eu andasse distraído, mas parece-me que nunca houve tantas seitas e religiões “alternativas”, como nos nossos dias. As pessoas buscam respostas para uma faceta muito importante das suas vidas: a espiritualidade. E há sempre quem esteja pronto para se servir dessa carência para apresentar as suas “verdades”. Pelo menos nalguns casos, tais seitas geram receitas milionárias e tornam-se elas mesmas multinacionais. Vendem milagres, prometem o céu, mas não esquecem o seu verdadeiro objetivo: o dinheiro.

Não me lembro de alguma vez haver como hoje tantos astrólogos, numerólogos, videntes, e afins. Claro que nem com todos os seus “conhecimentos” juntos conseguem descobrir uma qualquer criança raptada. Mesmo assim, os seus negócios prosperam.

Por outro lado, também acho que nunca houve tantas revistas dedicadas a temas a que chamamos “cor-de-rosa”. Até as rádios, mas em especial as televisões não fogem à moda, pelo contrário, aproveitam-na.

Nos órgãos de informação, o espaço dedicado à cultura, ao estudo ou à divulgação das ciências e das artes é cada vez menor.

Perante este quadro, sinto ser absolutamente necessária uma força que, de uma forma empenhada e a nível mundial, promova a paz e a liberdade, a tolerância e a justiça social, assim como a cultura e o combate à ignorância.

Durante a minha caminhada desde o grau de Aprendiz, fui formando a minha própria ideia do que é Maçonaria. No meu entender, ela é uma extraordinária instituição iniciática, onde cada um de nós sente cada vez mais como indispensável o seu aperfeiçoamento pessoal nas suas diversas vertentes: moral, intelectual, social e familiar. Mas a Maçonaria não poderia ser apenas uma escola de aperfeiçoamento dos seus membros, pois é também uma instituição filantrópica, onde a prática desinteressada da beneficência deverá ser uma constante.

Por outro lado, compreendi que a filosofia que lhe está subjacente proclama com clareza a prevalência do espírito sobre a matéria, pugna pelos mais altos valores da humanidade, enaltece o trabalho, recusa qualquer tipo de intolerância política, religiosa, sexual ou racial, considera a liberdade de pensamento e de expressão como direitos fundamentais do ser humano, assim como estimula o estudo e a educação para eliminar a ignorância e a superstição.

Ou seja, uma vez que entendo a Maçonaria como uma instituição defensora da paz, da justiça, da tolerância e do bem-estar para todos os seres humanos, estou profundamente convencido de que ela pode ser a força que a humanidade necessita para enveredar pelo rumo que a conduza à paz em liberdade, que afinal as pessoas de boa vontade do mundo inteiro tanto desejam.

Poderão dizer que a Maçonaria é apenas um sonho, talvez mesmo uma utopia, mas vale a pena lutar por ela, pois quem não sonha não vive…

Ser maçom implica um esforço permanente e até alguns sacrifícios tanto materiais como dos escassos tempos livres. Mas depois de ter aprendido o que é de fato ser maçom, a minha resposta à pergunta inicial só pode ser uma: sim, vale a pena.

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