O texto de hoje vai abordar algo que, no meu entendimento, será bastante relevante para a Maçonaria: o papel que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhado maçom.
Um padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quem deve ou não fazer parte da Augusta Ordem Maçônica. E padrinho pode ser qualquer maçom exaltado à condição de Mestre. O Mestre é o maçom de pleno direito. Logo tem a responsabilidade de fazer respeitar os princípios da Ordem, auxiliar na formação dos seus Irmãos, detenham eles o grau que tiverem e, apesar de não fazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha qualidades para ingressar na Maçonaria e, com essa admissão, possa desenvolver um trabalho correto, tanto pela Ordem Maçônica bem como pela sociedade civil na sua generalidade.
O padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário; o papel que ele deverá representar para o seu afilhado é o de um guia, de uma pessoa que o auxilie na sua integração na Loja, bem como de alguém que o ajude na sua formação maçônica, principalmente nos primeiros tempos, em complemento com a formação que é efetuada na loja, auxiliando também o Segundo Vigilante (cargo oficial desempenhado pelo terceiro elemento da hierarquia de uma loja maçônica) no cumprimento das suas funções, nomeadamente como formador dos Aprendizes Maçons.
Compete ao padrinho, após identificar no mundo profano alguém com as capacidades intelectuais e morais que são necessárias para ser reconhecido maçom, abordar o mesmo, da forma como achar que será melhor recebido pelo seu interlocutor. Na maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso, alguém que é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede junto de um maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem.
Independente da maneira de como é feita a proposição, cabe ao maçom que irá ser o padrinho efetuar algumas diligências, ou seja, conhecer os gostos e preferências do seu futuro afilhado bem como os hábitos e as rotinas que ele possa ter (se não os conhecer anteriormente), isto é, tudo aquilo que é habitual em um ser humano, ou seja, conhecê-lo!
E numa fase posterior, se concluir que o profano detém as qualidades necessárias para entrar na Maçonaria, deve abordar alguns temas de âmbito maçônico, retirando algumas das dúvidas que possam persistir na mente do seu futuro apadrinhado sobre o que a Ordem Maçônica é e qual o seu papel no mundo.
Mas, mais do que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se acompanhar pelo profano em eventos maçônicos de abertos (públicos) onde este poderá ter um contato mais próximo com o que é a Ordem, ou seja, frequentar eventos e palestras onde a Maçonaria seja o tema principal a ser abordado.
Neste caso, admito que começará aqui, para mim, a formação maçônica do futuro iniciado. Pois, se o mesmo afinal decidir que não se identifica com o que encontra, observa e escuta, então o processo de indicação não terá início e o profano aproveitará apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que à Maçonaria e ter uma opinião mais concreta sobre essa Augusta Ordem.
No entanto, caso o profano se identifique claramente com o que lhe é mostrado, deverá então ser iniciado o processo de indicação para a admissão numa loja maçônica; de preferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso é de extrema importância. E porquê?!
Porque durante o desenrolar do processo de indicação, os membros da loja confiarão no zelo que o padrinho se propõe a cumprir ao apadrinhar o candidato em avaliação, porque o conhecem, e também estes, por sua vez, respeitarão quem vier a ser escolhido para ser acolhido pela loja.
E depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado na assistência das sessões da loja a que estes pertencem, para que ele não se sinta sem apoio e desintegrado do grupo de pessoas que ainda não o conhece, mas que deverá conhecer com o passar do tempo.
Acontece também o contrário, por vezes quem chega a uma loja maçônica já é popular no mundo profano, ou poderá ter relações profanas com alguns membros da loja e assim a sua integração é mais facilmente consumada.
Mas, apesar de todo a fraternidade existente na Maçonaria em geral, os “primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá de ser relacionar inclusive com gente que talvez, no mundo profano, preferiria evitar. É verdade, que tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Dessa forma, é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível acontecer; porque os irmãos são “obrigados” a confraternizar; logo, encontrar "pontos de comunhão” e de “convergência”.
Também, pelo fato de se terem de relacionar, isso obrigará que as pessoas se conheçam melhor e, com isso, desfazer eventuais preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como outra pessoa qualquer o deve merecer.
Os maçons são como as outras pessoas, não são perfeitos; a forma de como combatem as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere das demais pessoas.
E ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações, que lhes dê a mão para os apoiar quando necessitarem disso e que, acima de tudo, os critique quando o deva fazer para os manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja funesto para a Ordem no futuro. Os casos que normalmente vêm a público no mundo profano devem-se a erros de seleção, em que a pessoa não se identificou depois com os princípios morais que encontrou na Maçonaria.
Por isto é que não basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por ser seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria, porque, caso contrário, será uma perda de tempo ao próprio Maçom e à loja maçónica que o acolher.
E nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu caminho na virtude, os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçónica quem agiu de forma errada e que levou a imagem da Augusta Ordem a ser questionada profanamente. Obviamente que não digo que fossem punidos, mas que fossem alertados do perigo que é apadrinhar gente com esse tipo de conduta, para que no futuro sejam mais zelosos nas suas indicações.
Naturalmente que um padrinho não pode ser culpado, a não ser que seja cúmplice, da atuação do seu afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até mesmo de expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque mesmo em surdina, as “orelhas” do padrinho sofrem sempre as consequências dos atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos “treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na Maçonaria deve refletir na sua conduta para que não ponha a imagem dos outros irmãos em questão.
Porém, e ainda no âmbito da instrução maçônica de seu afilhado, o padrinho deverá complementar a formação que será concedida pela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também que a Maçonaria vive de símbolos, metáforas e alegorias, mas fundamentalmente, da prática de rituais próprios, também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá refletir e por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o que é sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar o que também ele aprendeu durante a sua formação até atingir o mestrado.
Conhecer e ensinar outrem é o melhor que o ser humano poderá fazer pelo seu semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento somente é Sabedoria quando compartilhado.
Mais tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua formação maçônica e concluiu o seu percurso até à mestria. No entanto, nunca o poderá abandonar, pois apesar de ser um irmão seu, será sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu como tendo capacidades e qualidades maçônicas. E essa responsabilidade nunca desaparecerá.
E isso é algo que por vezes acontece e que eu considero como sendo nefasto para a vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém, (mal) formar alguém e depois deixá-lo à mercê dos tempos e vontades; virar as costas a um irmão, mesmo que seja inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e principalmente para a Ordem. É na nossa união que reside a nossa força, é com nosso apoio que conseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer como demasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é no nosso espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora que é criada em loja e que é a impulsionadora da nossa fraternidade.
Assim, alguém que queira indicar a candidatura de um profano, terá de assumir que adquire uma responsabilidade tal, que nunca será irrelevante e que nos seus “ombros” suportará o “peso” de uma Ordem iniciática e de cunho fraternal como o é a Maçonaria. E que terá como seus deveres principais: reconhecer, informar, transmitir, formar e acompanhar quem ele considerar como sendo um válido (futuro) membro da Maçonaria.
Não será uma tarefa fácil, essa de se apadrinhar alguém, mas este é um compromisso que os maçons assumem para com a Ordem e a bem da Ordem.
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