Segundo o historiador maçônico José
Castellani, o grau de companheiro é o mais importante da Franco-Maçonaria pois
representava o topo da carreira profissional nas guildas construtoras operativas
da Idade Média e que evoluíram no século 18 para Maçonaria Especulativa. Do
ponto de vista doutrinário mostra o obreiro já completamente formado
profissionalmente.
Jovens ingressavam nas oficinas que
pertenciam aos chamados mestres de ofício para aprender uma profissão e sua
família pagava ao dono da oficina por isso. Depois de diversos anos de
duríssimo trabalho, ao adquirir as habilidades especiais necessárias, ele se
tornava companheiro, que não era grau, mas denominação de sua qualificação, e
poderia sair, se tivesse condições para isso, para montar sua própria oficina.
Naquela longínqua época ser construtor
era uma das profissões bem remuneradas pela igreja e pela nobreza, e ser
reconhecido como tal era garantia de uma excelente renda e de uma boa vida. Por
esta razão, os mestres de obra saíam dos companheiros mais habilidosos e
experientes, que ao montarem os seus negócios eram reconhecidos pelos obreiros
como seus mestres, veneráveis mestres – Worshipsul Master.
A Grande Loja de Londres foi fundada
em 1717 e o grau de Mestre Maçom só surgiria seis anos depois, em uma guilda de
músicos e arquitetos, e só seria implantado a partir de 1738. Por isso o grau
de companheiro sempre foi o grau doutrinário mais importante da maçonaria desde
aquela época.
Diversos autores criaram alegorias
sobre o grau de companheiro e uma das mais interessantes foi criada pelo
escritor italiano Carlo Collodi em 1882 e imortalizada em desenho animado por
Walt Disney em 1940, ambos maçons. Trata-se das “Aventuras de Pinóquio”, a
história de um velho mestre artesão, usando sempre um avental, que constrói um
boneco de madeira. O trabalho do artesão de dar forma perfeita a um pedaço de
madeira é uma alegoria da lapidação da pedra bruta.
Essa história contém ensinamentos de
ordem moral e um relato iniciático em que Pinóquio vai abandonando seus
defeitos e se torna uma criança, um ser humano puro e perfeito. O relato é o
veículo no qual Collodi entrega uma mensagem profundamente espiritual,
esotérica e de crescimento pessoal. O conto é uma apologia para a educação e
uma denúncia do vício e da ociosidade.
Vamos relembrar a história. O Mestre
Gepetto, que usa sempre um avental, sempre sonhou em ter uma criança. Ao ver
brilhar no céu a estrela azul, pediu que seu desejo fosse concedido (isto
significa entrar em contato com um nível maior de consciência).
Naquela noite, enquanto dormia,
apareceu a Fada Azul e deu vida ao boneco, o advertindo que se se comportasse
bem, poderia se transformar em um menino de verdade. (a transformação do boneco
imperfeito em uma pessoa perfeita é uma ideia iniciática que conhecemos). Mas
para auxiliar o boneco em sua tarefa evolutiva, chamou o Grilo Falante para ser
a sua consciência (o trabalho de desenvolvimento pessoal e espiritual é uma
tarefa da maçonaria.)
Os fios que movem os bonecos marionetes
são como os fios dos destinos que movem as pessoas, e o boneco Pinóquio, amoral
e estúpido, insensível aos ditames de sua consciência (o Grilo Falante),
desconhecia e não praticava as virtudes, e assim como muitos humanos seguia o
caminho mais fácil, das paixões e dos vícios. Escravo do ego, não respeita seu
pai, não ouve conselhos, foge de casa para acompanhar o circo, se envolve com
más companhias, foge das responsabilidades e suas mentiras fazem crescer o
nariz e as orelhas de burro, uma alegoria da vaidade e da ignorância que
acompanham aqueles com ego hipertrofiado.
Ao fugir da escola diz ao Grilo, (...para
ser sincero, não tenho a menor vontade de estudar e me divirto mais correndo
atrás de borboletas ou pegando pássaros nos ninhos... a profissão que me agrada
é comer, beber, dormir, me divertir e levar o dia inteiro na vagabundagem...).;.
A consciência, o Grilo Falante lhe sussurra: “a educação é uma maneira de
nos libertar mas se não quer ir à escola, aprende pelo menos um ofício, para
poder ganhar honestamente o pão de cada dia... porque todos os que abraçam o
ofício que você gosta acabam sempre no hospital ou na cadeia”.
A alegoria nos mostra que muitos preferem
correr atras de luxos e vaidades ou da concupiscência e ensina ao companheiro
maçom que é só através do estudo aplicado e dedicado dos rituais, do
desenvolvimento do ofício de ser maçom é que podemos conseguir um melhor leque
de boas escolhas na vida.
Pinóquio sofre as consequências de
suas más ações, a sua vida vai ficando cada vez pior, até que é engolido por
uma baleia, a alegoria da Câmara das Reflexões, no escuro, isolado, ele morre
simbolicamente para renascer depois. Essa alegoria evoca também a história de
Jonas, nas palavras de Mateus 12:40.
“Pois assim como Jonas esteve no
ventre do grande peixe por três dias e três noites, assim estará o Filho do
Homem no seio da terra três dias e três noites”. E simbolicamente o Filho do Homem é, como Pinóquio,
o filho de um Mestre Carpinteiro.
À luz de uma vela o boneco, no
interior do grande peixe, Pinóquio medita sobre o seu destino e decide mudar, abandonando
seu passado de inconsequência. Neste momento a baleia o expele para o mar, onde
é purificado pela água, mas se afoga no oceano. Essa morte equivale ao do
profano ao ser iniciado, como está em João 3:3-10 – Em verdade eu vos digo que
se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus....quem não nascer
da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”.
E no final da história, ápice do
sentido simbólico e iniciático deste conto, Pinóquio, renascido, como o maçom
após a iniciação, se arrepende e amadurece vai adquirir uma humanidade plena,
ou seja, ser um menino de verdade, tendo deixado seus vícios e adquirido
virtudes que vai levar pelo resto de sua verdadeira vida. O filósofo e
historiador napolitano Benedetto Croce disse:- “a madeira com a qual
Pinóquio foi esculpido é a própria humanidade” e cabe a maçonaria fazer a
transformação dos homens informes em homens melhores, cavando masmorras ao
vício e levantando templos à virtude.
Extraordinária versão do erudito Michael Winetzki , nas alegorias e simbologias dessa história fantástica.
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