novembro 23, 2022

PINÓQUIO, MEU IRMÃOZINHO - Norberto P. de Barcellos

                                  

(Uma outra interessante visão simbolismo de Pinóquio pelo intelectual Norberto Barcellos da Loja Concórdia) 


Creio que no mundo não há uma só criança que não tenha povoado a sua infância com as Aventuras de Pinóquio, sem duvida um grande clássico da literatura infantil. Seu autor, Carlo Lorenzini, ou Collodi como gostava de assinar, era maçom, astrólogo, profundo estudioso do esoterismo. Numa leitura superficial nos deparamos com uma história simples, interessante e profana, na qual o autor dá um puxão de orelha nos meninos arteiros. Porém, numa releitura minuciosa e adulta, nos deparamos com um simbolismo maçônico, disfarçado nas entrelinhas ou escondido no interior simbólico do texto. 

Gostaria de esclarecer que, o que estou dizendo não tem nada de inédito, pois o Maçom Georgio Manganelli chegou a dedicar um livro sobre o assunto, da mesma forma que, posteriormente, Walt Disney de forma velada levou para o cinema. Também o Ir.: Giovani Malevolti escreveu sobre o tema. Portanto, em outras palavras e inspirado no que já foi abordado anteriormente pelos autores já citados, segue o meu relato.

Caso tenhamos uma leitura maçônica sobre a famosa obra infantil do autor, encontramos três instruções nas entrelinhas que para nós são extremamente familiares:

1 – LIBERDADE - Pinóquio quer ser livre;

2 – IGUALDADE -  é o que mais Pinóquio deseja: ser igual aos outros meninos;

 3 – FRATERNIDADE - é o que move a moral da história.

Senão vejamos:

Ao pegar um pedaço de madeira para trabalhar, Mestre Antônio descobre que ela está viva. É bom observar a semelhança: caso fosse um talhador, certamente estaria desbastando a Pedra.    

Nisso recebe uma visita:

- “É Gepeto, um bom homem, porém desprovido de tolerância,” - grita o velhinho ao bater na porta da casa de Mestre Antônio. 

Logo depois Gepeto recebe de presente do Mestre Antônio (que maçonicamente seria um V.M.:) aquela madeira viva. Feliz retorna para sua casa. É um lugar humilde, iluminado com vela, mais parecendo uma câmara de reflexão. E naquela mesinha tosca, Gepeto resolve escrever o seu testamento: “fabricarei uma marionete que se chamará Pinóquio, este nome lhe trará muita sorte”. 

E assim aquele pedaço de madeira, manuseado com habilidade pelo velho marceneiro, vai tomando forma até tornar-se o Pinóquio. Embora feito para ser um boneco de bons costumes, deveria, porém, ficar atento para não ser desviado do caminho do bem. E assim, Gepeto e Pinóquio ficam muito apagados, um ao outro. A história segue. Gepeto é injustamente preso. Enquanto isso, Pinóquio enfrenta uma ventania fria, chuva torrencial e, mais tarde, em casa, um fogo que queimará os seus pés. 

Vejamos a coincidência: AR, ÁGUA, FOGO. Será por acaso?

Gepeto, já livre dos problemas, retorna para casa. Restaura os pés do Pinóquio que então promete não faltar mais as aulas e se comportar bem. 

Gepeto, feliz com a promessa, chega a vender o velho paletó para comprar uma cartilha para Pinóquio estudar. Agora, pensa Gepeto, Pinóquio poderá se transformar num cristão. Daí para frente, a história de Collodi conspira positivamente para o crescimento de Pinóquio. 

Mas, como veremos, Pinóquio ainda passará por situações de AR-ÁGUA-FOGO. Provas que um leitor sem conhecimento maçônico entenderá como AVENTURAS. 

Vai daí que entra na história a Fadinha de Cabelos Azuis que, em outras palavras, representa a Razão (ou seja, a Maçonaria). Como vemos, temos o tempo todo a presença de uma tríade:

 Racionalismo, 

Dever 

Responsabilidade


Mesmo assim, Pinóquio (ah esse Pinóquio!), continua se metendo em confusões. De repente lá está ele, enforcado pelo pescoço, sob a copa de um grande carvalho. A Fadinha bate 3 vezes, dando sinal para salvá-lo. Resolvido o dilema, Pinóquio é recebido numa mansão toda iluminada. E é examinado por 3 médicos para saberem a gravidade do acontecido. O laudo é simples: para se curar e para pertencer aquela bela casa, Pinóquio precisará tomar de uma bebida açucarada e também provar da taça amarga.

Em outras palavras: 

a) a Fada bate 3 vezes 

b) os 3 médicos

c) bebida açucarada e depois a taça amarga

d) que mansão iluminada será essa?


Então, a Fada com feições de menininha, dirá:

 “se você quiser ficar comigo, será meu irmãozinho!” 

Creio que a resposta está dada.

Dando continuidade: Pinóquio, ao ver a Fada pela segunda vez (que agora é uma senhora) manifesta o sonho de ser um menino de verdade. 

Como resposta, ouve que precisará estudar muito, além de passar por algumas provas. A vida continua e o tempo passa. Pinóquio cumpre com a recomendação e faz tudo direitinho. Até que, para sua felicidade, fica sabendo pela Fada que, finalmente, se tornará um menino de carne e osso. Surpreso e feliz Pinóquio sai pela rua, porém novamente se mete em mais outra confusão.  Após as inúmeras traquinagens (ao ponto de ficar com orelhas de burrico e, mais tarde, ver o seu nariz crescer) novamente encontra a trilha do que é bem e recomeça a sua caminhada com retidão. 

Nisso Gepeto se vê em apuros no mar. Pinóquio tenta salvá-lo e é engolido por um tubarão gigantesco. 

Apenas como observação: 

tubarão na obra original, é interessante ressaltar, pois por alguma razão, mais tarde na história é relatada uma baleia.

 A Fada de Cabelos Azuis, agora com a aparência de uma cabra, procura assisti-lo.

- A Fada com aparência de CABRA? Com tantas imagens, Collodi escolheu uma CABRA? Qual a razão?

O interessante é que ao vencer cada uma das provas, Pinóquio fortifica-se e sofre uma gradual melhora – o que maçonicamente podemos chamar de elevação.

Muito bem, voltando para a história, ainda dentro da barriga do tubarão. A escuridão é terrível e Pinóquio sente muito medo. Até que vê um pequeno feixe de luz e começa a segui-lo. A luz vai aumentando, aumentando e de repente é uma imensa claridade!

E assim o boneco alcança a fonte da belíssima luz: é uma mesa muito humilde, com uma vela acesa em cima. Para a sua surpresa, vê Gepeto, todo de branco. E olhando pela janela os dois se emocionam com a imagem de um céu imensamente iluminado por estrelas e uma lua belíssima

– a luz, o céu, as estrelas? Não creio numa coincidência.

E temos aqui o artista salvo pela sua criação, pois Gepeto volta para a vida carregado por Pinóquio.

Assim o menino de madeira retoma para os estudos e passa a trabalhar para o seu pai. Manda o fruto dos seus trabalhos para a Fada que tem necessidade deles. 

- que trabalhos serão?

Até que chega o tão esperado dia. Certa manhã, Pinóquio ao abrir os olhos, descobre que não é mais um boneco de madeira, mas um menino igual aos outros. Corre até o quarto de Gepeto e o encontra bem de saúde e feliz. 

Assim a terceira passagem foi realizada. A iniciação está completa.

A cena termina no Templo, com o Gepeto numa alegria incrível ao ver Pinóquio:

 – a pedra foi desbastada e finalmente polida. 

Do outro lado vê-se o velho boneco de madeira, posto de forma desengonçada, cabeça caída para um lado, pernas dobradas.

E aí, mais uma beleza: 

Pinóquio não sofreu uma mutação, não se tornou um humano. Pelo contrário, um NOVO SER NASCEU e o marionete na cadeira testemunha a beleza dessa mensagem

Finalizando, Collodi coloca numa frase de Pinóquio a singeleza de um Iniciado Maçom: 

“Como eu era engraçado quando marionete! E como estou contente agora que me tornei um menino bom!”

Sem dúvida um final maravilhoso para a bela história infantil. Mas, que para nós, maçons, representa a simbologia de uma verdadeira iniciação.

E, antes que algum Irmão diga que o meu nariz está crescendo tal qual o do Pinóquio, por aqui encerro o meu estudo. 

Mas posso garantir que eles foram felizes para sempre.


                                          

Bibliografia: IIr.: Georgio Manganelli e Giovani Lalevolti


 






Um comentário:

  1. Outra pérola , de outro erudito Norberto de Barcellos , dessa mesma  história maravilhosa , que enriquecem a cultura da Arte Real...

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