Durante toda sua vida, o Imperador Dom Pedro II voltou-se especialmente para o aprendizado de idiomas; estudou grego, latim, inglês, francês, italiano, provençal, alemão, tupi, guarani, hebraico, sânscrito e árabe. Traduzia por prazer, para treinar o conhecimento e a fluência nos vários idiomas que cultivava. Embora sua atividade tradutória esteja inserida em um contexto mais pessoal do que político, as traduções que D. Pedro realizou, em especial a partir da língua hebraica, adquiriram relevância perante historiadores da cultura judaica que reverenciam a atuação do imperador na preservação da memória do povo judeu.
Em seu exílio escreveu D. Pedro um livro de gramática hebraica, em francês, e traduziu do hebraico para o francês a canção “Had Gadiá”, da Hagadá de Pessach , por entender que esta canção refletia a essência da justiça divina e seu poder sobre a vida e a morte.
Traduziu também, de um jargão misto de hebraico e provençal, para o francês, três cânticos litúrgicos antigos (séc. XVI ou XVII), que costumavam ser entoados nas festas de Brit Milá e Purim por algumas comunidades na Provence.
Sobre estas traduções observou Sokolov:
“Nenhum de nossos homens de letras teve a idéia de salvar do esquecimento e da perda estas peças do folclore judaico, até que veio o imperador brasileiro e coletou-as, interpretou-as, traduziu-as e publicou-as, com total fidelidade aos originais”.
No livro que publicou com estas traduções, aduziu D. Pedro na introdução a história destas canções e seu valor literário, para que seus leitores pudessem captar a luminosidade oculta nos tesouros da literatura hebraica.
No prefácio deste livro, declarou o monarca brasileiro seu amor pela língua hebraica e descreveu as sucessivas etapas de seu estudo, mencionando com reverência os nomes de seus professores de hebraico, como citamos anteriormente
O linguista judeu alemão Christian Fredrich Seybold (1859-1921), foi um erudito que lecionou hebraico ao Imperador, chegou ao Brasil em 1887, atuou como correspondente da Real Academia de la Historia de Madri, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Arqueológica da França.
No fim de seus dias no exílio em França, D. Pedro II conheceu o rabino de Avignon, Benjamin Mossé, e lhe ofereceu uma Tradução de Antigos Cantos Litúrgicos Judaicos. O rabino sugeriu ao monarca que traduzisse poemas litúrgicos da Provence. Este convite deu origem às “Poésies hebraïco-provençales du Rituel Israélite Comtadin” (1891), de autoria do próprio Imperador.
O rabino Mossé escreveu ainda uma biografia em francês sobre o monarca brasileiro. Em carta a Pedro II (09/08/1890), diz: “Uma das mais belas retribuições de minha vida, será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores: D. Pedro II. Desejo que Vossa Majestade seja o primeiro a ler este livrinho que escrevi, quase todo, visando muito ao efeito que deve produzir, não só no estrangeiro, mas principalmente no Brasil”.
Dom Pedro II sabia tão bem o idioma hebraico que em 1887, uma delegação de judeus da Alsácia-Lorena, representando a comunidade judaica do Rio de Janeiro, foi recebida, em grande estilo no seu Palácio em São Cristóvão. O monarca surpreendeu a comitiva, falando- lhes em hebraico clássico:
“Bem aventurados aqueles que viram D. Pedro II, Imperador do Brasil, e o ouviram falar na língua sagrada. Bem aventurados todos aqueles que o saudaram e foram por ele saudados” escreveu o rabino Israel Isser Goldblum, que visitou o Imperador em São Cristóvão. D. Pedro estudou hebraico durante toda a sua vida e quando foi deposto pelos republicanos em 1889 encontrou alívio para o seu sofrimento no exílio estudando línguas, aprofundando especialmente o conhecimento da gramática e da literatura hebraicas. Um dos seus biógrafos, Georg Raeders, assim descreveu:
“A fim de encontrar consolo em seus anos de exílio, ele também estudou grego e árabe, mas acima de tudo sentia-se atraído pelo hebraico. E a razão disto era que em seu exílio ele se identificava com um povo que também vivia exilado."
A relação do Imperador Dom Pedro II com os judeus ia muito além de seu interesse pelo idioma hebraico, que estudava intensamente. Inclusive parte de sua família, os Braganças tem ascendência hebraica, na história de Inês de Pirez, cristã nova e mãe do primeiro Duque de Bragança.
Fonte: Poésies Hébraïco-Provençales du Rituel Israélite Comtadin. Traduites et Transcrites par S.M. Dom Pedro II D’Alcantara, Empereur du Brésil. Avignon 1891/Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold/ A história dos judeus no Rio de Janeiro. Henrique Veltman.
Ref Brazil Imperial
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