A expressão “circum” significa “em volta de”, “em redor de” e “ambulação”, de origem latina, tem o sentido de “andar, passear, caminhar”: ambulatio, onis, f. Daí os substantivos “ambulatório, ambulância, ambulante”, etc…
Juntando as duas palavras temos que é andar, caminhar, em redor de algo que, no caso, é circular no Templo, tendo um ponto de referência que é o Painel do Grau. Caminha-se em redor desse referencial mencionado.
Assim entende-se por circum-ambulação, a conduta de circular corretamente no interior do Templo de conformidade com o rito ali adotado.
Mas, como andar naquele lugar sagrado, considerando sua forma geralmente retangular? O obreiro ao ingressar no Templo fica de frente ao Oriente (Leste), na parte Ocidental (Oeste), tendo ao seu lado esquerdo a Coluna Setentrião (Norte) e à direita, a Coluna do Meio-Dia (Sul).
Qual caminho deverá seguir? Pela esquerda ou pela direita, seguindo a Coluna Setentrião (Norte) ou pela Coluna do Meio-Dia (Sul)? Isso depende do ritual eleito pela Potência ou Obediência que determina o cumprimento às lojas subordinadas.
O critério pode ser um ou outro. O necessário é a obrigatoriedade da circulação pelo lado escolhido pela Hierarquia Maçônica, esquerda ou direita. Mas uma vez determinado pela Potência, as oficinas filiadas ficam vinculadas ao cumprimento do lado indicado.
O que é proibido é a faculdade de escolha de cada loja. Vige o princípio da Unidade Administrativa da Sublime Ordem que impera como em outros casos similares.
É preciso comando ditando regras visando continuidade da Instituição sem o qual estaria fadada ao declínio e a anarquia imperaria. Faz-se necessário a ordem para que a disciplina e progresso sejam conservados interna-corporis. É a Maçonaria Branca ou Administrativa (33°) de que estamos a falar do REAA.
Sistemas de Circulação
Dois são os sistemas que disciplinam a circulação no interior da Oficina: dextrocêntrico ou solar e sinistrocêntrico, também conhecido por polar. O primeiro (dexter, latim=direita), consiste em caminhar pela direita voltada diretamente para o lado interno do ponto de referência que é o Painel do Grau, isto é, a direita fica do lado interior de um círculo imaginário, enquanto a esquerda fica do lado exterior desse círculo que se imagina, obviamente.
A caminhada, portanto, é no sentido dos ponteiros do relógio ou sentido horário. Ao ingressar no Templo, o maçom anda em direção ao Oriente (Leste), estando “entre colunas”, pela esquerda, passando pelo Setentrião (Norte), tendo a sua direita direcionada ao centro desse círculo imaginário, cujo ponto central é o Painel do Grau.
Retornando do Oriente (Leste) para o Ocidente (Oeste), fará o inverso. Terá sua direita voltada para o centro desse círculo imaginado e sua esquerda próxima ou voltada para a coluna do Meio-Dia (Sul).
Em qualquer parte que se encontre o maçom no Templo, sempre fará o percurso tomando como base a direção dos ponteiros do relógio. No Oriente (Leste), entretanto, não se exige qualquer regra de caminhada; pode-se andar da esquerda para a direita ou vice-versa, livremente. O outro sistema sinistrocêntrico (latim, sinister=esquerda), é o inverso do dextrocêntrico.
O obreiro na mesma posição “entre colunas”, de frente para o Oriente (Leste), para reforçar o entendimento, começa seu giro pela direita que corresponde sua esquerda direcionada para o ponto central desse círculo que se imagina. Sua direita volta-se para a coluna do Meio-Dia (Sul), observadas as mesmas regras do dextrocêntrico, como o sinistrocêntrico.
É que essa faculdade outorgada às Potências não é regulada por Landmarks para a escolha. Trata-se de simples discricionariedade conferida às Obediências de conformidade com o entendimento admitido e inspirado em interpretações diversas, inclusive de ocultismo e costumes locais. Vige a legislação maçônica ordinária editada pela Hierarquia Diretiva competente.
Se a escolha recair sobre o sistema sinistrocêntrico acompanhará as movimentações da Terra em relação ao SOL, isto é, em sentido contrário ao andamento dos ponteiros do relógio: rotação e translação.
É um modelo que pode justificar essa preferência de sistema da Potência e, nesse caso, todas as unidades maçônicas filiadas ficam obrigadas ao cumprimento, como já assinalamos. O que não pode é ficar ao desejo da loja subordinada eleger o sistema e adotá-lo, repita-se.
Por outro lado, eleito o Sistema Dextrocêntrico pelas Autoridades da Obediência, o caminho será pela esquerda acompanhando a andança dos ponteiros do relógio ou sentido horário, como vimos. Qual seria o motivo que autoriza a circulação pelo lado esquerdo?
Muitas explicações existem, porém a mais aceita ou, pelo menos, razoável, é inspirada nos sentimentos positivos com o G A D U. Amor, bondade, caridade, perdão, piedade e compaixão são emoções ligadas à Divindade e, como o coração é tido como o guarda de sentimentos, por uma metáfora, a esquerda nesse aspecto, é eleita para a circulação no Templo.
Não se deve esquecer que o coração está localizado mais para o lado esquerdo que do centro do abdômen. Esta é uma indicação para justificar o sistema dextrocêntrico, baseado no elo do Ser Humano com a Força Suprema Celestial.
Sentimentos puros e exigidos para a vida com Deus. Aliás, essa alegoria é usada no matrimônio, onde os cônjuges usam a aliança no dedo anular da mão esquerda como sinal que a lembrança de seu bem amado ou amada está guardada no seu coração. No Islã, por sua vez, usa-se o sistema sinistrocêntrico na peregrinação a Meca, em redor da C A A B A (cubo) sagrada no ritual religioso.
Poder-se-ia, entretanto, invocar-se a aparente incoerência do Sistema Dextrocêntrico, pois, sendo marcado pela direita, como sugere sua própria etimologia, a caminhada é pelo lado esquerdo do obreiro no Templo, no sentido dos ponteiros do relógio e aí seria incompatível com essa posição de direita.
Essa incoerência é, realmente, apenas aparente. Foi esclarecido que o centro do Templo é marcado pelo Painel do Grau e este ponto é a referência da circulação do aspecto objetivo.
O percurso pelo lado esquerdo do maçom na Câmara corresponde seu lado direito ao Painel do Grau, significando dois aspectos da problemática: subjetivo e objetivo. Considerando o modelo dextrocêntrico, no sentido dos ponteiros do relógio (Solar), temos o lado esquerdo do caminhante e surge o subjetivismo, eis que se tem em conta sua esquerda. Seu lado direito está direcionado para o Painel do Grau e, nesse caso, quando levamos em conta o ponto referencial que é este Painel do Grau, encontramos o outro critério que é o objetivo.
Assim, quando falamos que a circulação é pelo lado esquerdo, implicitamente apontamos que é o lado do maçom, surgindo essa qualidade subjetiva. Por outro lado, quando se fala do Sistema Sinistrocêntrico (Polar), ao contrário dos ponteiros do relógio, a esquerda do circulante fica do lado do Painel do Grau e sua direita para a coluna do Sul (Meio-Dia) e aí temos a compreensão objetiva.
Doutrinando sobre a matéria, Jules Boucher prefere a circulação sinistrocêntrica, “mas não nos oporíamos a que uma Loja admita a circulação inversa, com a condição de que exponha bem suas razões e que estas sejam válidas. De qualquer modo, é preciso adotar um dos sentidos e obrigar a sua adoção. É inadmissível que a circulação se faça indiferentemente num sentido ou outro. É necessário, é imprescindível que se adote um sentido ritual de circulação” (autor citado-“A Simbólica Maçônica”- pág.129-Ed. Pensamento). A propósito, o mesmo doutrinador observa que no ritual antigo operativo, “ele foi “polar”; de acordo com esse ritual, aliás, o “Trono de Salomão” “era colocado a Ocidente, e não a Oriente, a fim de permitir que seu ocupante “contemplasse o Sol a Nascer”.
Verificamos assim, a prevalência da marca objetiva do Painel do Grau, pois integra toda substância da Instituição Maçônica, considerada in abstracto, mais importante que seus membros que são efêmeros e irão mais cedo ou mais tarde para o Or∴ Etc.
A Ordem Maçônica é perpétua. Portanto, quando se fala da via pelo lado esquerdo do maçom, entendemos o elemento subjetivo. Quando se tem com referência o Painel do Grau, encontramos o critério objetivo.
São esses os princípios que regem a circulação no Templo Maçônico.
Obras consultadas:
- A Simbólica Maçônica – Jules Boucher – Ed. Pensamento.
- Enciclopédia Esotérica – David Caparelli – Ed. Madras.
- As origens do ritual na Igreja e na Maçonaria- H. P. Blavatsky – Ed. Pensamento.
- Dicionário de Maçonaria – Joaquim Gervásio de Figueiredo – Ed. Pensamento.
Fonte: Revista Universo M
açônico.
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