Sim, conforme o amigo havia lhe prometido, naquele sábado, naquela hora da tarde, um senhor vestido de preto foi buscá-lo e levou-o ao templo onde ele seria iniciado na Maçonaria.
Não tinha a menor ideia do que lhe esperava. Os mesmos pensamentos da manhã lhe ardiam na mente, curiosidade à flor da pele. Estava calmo.
Durante o trajeto a pessoa que o estava conduzindo ao templo lhe adiantou que não se assustasse que tudo por mais esquisito, por mais bizarro que lhe parecesse era tão somente de caráter simbólico e que tivesse confiança nos homens que iriam guiá-lo.
Ao chegar ao templo foi induzido a se virar de costas para a porta do templo e foi vendado imediatamente sem saber por quem. Inicialmente ficou constrangido por ser assim tratado embora que delicadamente. Não havia sido avisado que seria assim. Aceitou passivamente a vendagem, porem um tanto chocado. Houve pelo menos um protesto mental, silencioso. Também não gostou quando embora que simbolicamente conforme lhe foi dito quando estava chegando ao templo quando pediram e ajudaram a retirar parte de suas vestes. Pensou que poderia estar se expondo ao ridículo, mas como foi avisado que tudo tinha um fundo simbólico, não se importou.
Daí um certo tempo sentado em uma cadeira com certa comodidade, num ambiente em que quase não havia ruídos, a não ser uns passos cuidadosos de alguém, e alguns sussurros que ouvia de vez em quando. Então se sentiu mais calmo. Interessante... Começou a sentir bem, sim bastante bem. Por quê? Nunca havia tido uma experiência como aquela. Vendado. Não via nada, mas estava assim estranhamente disposto, espírito aguçado, até contente e confiante, Ora nunca havia pensado nisso. Seria aquela privação da visão que estava lhe causando esta sensação? Fantástico. Que incrível!
Depois de um certo tempo começou a não perceber e nem se importar com mais nada exterior, já não ligava para os passos ou qualquer ruído externo. Fez uma introspecção. Lembrou-se do seu velho Pai, de sua Mãe, de sua infância sofrida que desde menino, trabalhava de dia e estudava a noite. Lembrou da educação que seus Pais lhe deram. Firme e disciplinada. Lembrou-se de sua adolescência de seus questionamentos a respeito do fenômeno vida, qual a razão de ser de tudo isto, da religião que absolutamente não lhe trouxera respostas e também se lembrou das injustiças sociais. Lembrou-se de sua esposa, agora recém casados, a mesma que quando noivos havia questionado de inicio, sua entrada para a Maçonaria. Quando se apercebeu viu que aqueles momentos de introspecção, havia rodado o filme de sua vida.
Que fato extraordinário, questionou-se porque não iria doravante fazer isso sempre? De agora em diante poderia em sua casa colocar uma venda e fazer uma reciclagem de sua vida periodicamente. Tão simples e tão eficaz. Na pior das hipóteses, seria ótimo para livrar-se da depressão e do estresse.
A cerimônia continuava lenta, como costuma parecer aos iniciandos. Fisicamente se sentia um autômato, não opunha resistência quando lhe guiavam de um lado para outro. Não tinha com o que se preocupar. Num determinado momento ouviu alguém falar em viagens, ouviu ruídos estranhos. Quando lhe fizeram algumas perguntas, preferia não respondê-las, respondeu-as monossilabicamente, pois queria mesmo era dialogar consigo mesmo.
Mesmo lúcido algo maravilhoso ocorreu várias vezes. Teve a percepção para dentro, teve o encontro com o seu próprio Eu. Estranha sensação que nem todos os iniciandos a atingem no dia de sua iniciação onde quem entra em ondas alfa se sente como se tivesse se a mente estivesse num vácuo, num vazio, onde o espaço tempo não faz sentido. Aí onde se situa a fonte do pensamento, onde o iniciando se identifica com o Todo onde a harmonia, evolução e vibração se sintonizam com todo o universo.
Ficou indignado quando lhe tiraram a venda e lhe deram a Luz, pois sentiu que na escuridão que a venda lhe trouxe ele havia encontrado uma verdadeira Luz, uma luz resplandecente que ele tinha dentro de si e não sabia.
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