A “VERDADE ” dentro da Maçonaria possui papel de destaque.
A Quarta Instrução para Aprendiz Maçom afirma que a Maçonaria é “uma associação de homens escolhidos, cuja doutrina tem por base o G:.A:.D:.U:.; como regra , a Lei Natural; por causa, a Verdade, a Liberdade e a Lei Moral...”.
Mas, o que seria a Verdade, na visão maçônica?
Vejamos o que afirmou o Ir:. Castellani ao explicar as diferentes posições do Esquadro e do Compasso:
_“há, porém, uma interpretação racional, não mística: no início da caminhada, as hastes do Compasso, presas sob os ramos do Esquadro, simbolizam a mente humana, ainda subjugada pelas paixões, pelos preconceitos e pelas convenções sociais, sem a necessária liberdade para pesquisar e procurar a Verdade.
Conforme o crescimento filosófico, libertam-se, gradativamente, as hastes do Compasso dando ao Iniciado uma certa liberdade de raciocínio e que está no caminho certo da Verdade.
A Verdade, aí simbolizada, pode, também, ser interpretada do ponto de vista místico, ou do ponto de vista material, físico.
Na interpretação mística, transcendental, a Verdade simbolizada pelas hastes livres do Compasso, é a Verdade Divina, o atributo da mais alta espiritualidade, só reconhecido na divindade.
Enquanto que a Verdade simbolizada pelas hastes presas do Compasso, é a Verdade humana, demonstrada como imperfeita, rústica, instável e subjugada pelos preconceitos.
Na interpretação racional, a Verdade contida nas hastes livres do Compasso é a Verdade sempre renovada da evolução científica, do raciocínio livre e do espírito crítico, que dá, ao homem, a liberdade de escolher os seus padrões morais e espirituais, sem um paternalismo, que lhe mostre uma Verdade, imutável e estática, transformada em transcendental e que, por isso mesmo, é enigmática e inacessível”.
Portanto, a Verdade maçônica possui “duas pernas” interligadas.
Uma é a Verdade Divina.
A outra, do que pude tirar da explicação de Castellani, é a Verdade obtida da pesquisa, do conhecimento, da liberdade de expressão, do livre pensamento, da livre opinião e do espírito crítico.
Esta última Verdade é dinâmica e sempre renovada.
Mas, como buscá-La sem antes confrontarmo-nos com os sistemas filosóficos e religiosos que nos apresentam como um pacote pronto?
Como buscá-la sem antes passarmos por cima de dogmas, religiosos ou não?
Como nos mostra nossa Quarta Instrução, “embora concebidos com sinceridade, esses sistemas são errôneos e falíveis, porque se originam de convicções e concepções humanas”.
Mais a frente podemos ler nessa Instrução, quando ela fala sobre a ainda não atingida posse integral da verdade:
_“Seu domínio alarga-se e recua cada vez mais, à proporção que a humanidade avança no caminho da ciência e à medida que os investigadores se aproximam para desvendá-lo. Iludir-se quanto a isso com o propósito de dogmatizar, crente de saber o que se afirma, são as características peculiares dos espíritos tacanhos.
O sábio, o pensador e o verdadeiro Iniciado, humilham-se sempre, quando em presença de uma verdade que reconhecem superior à sua compreensão”.
Nossas Instruções tratam, portanto, da eterna busca de uma Verdade enigmática, inatingível e inacessível.
Lembro-me aqui das palavras do escritor e crítico alemão, Gotthold Ephraim Lessing, que escreveu:
_“Se Deus tivesse em sua mão direita toda a verdade e na mão esquerda unicamente o impulso sempre ativo da busca da verdade e, ainda com o aviso de eu me enganar sempre e eternamente, se Ele me dissesse: escolhe!, eu lhe cairia humildemente na mão esquerda, dizendo: Pai, dá-me isto, pois a pura verdade é, contudo, para ti somente!“.
Muitos dirão que os ensinamentos e a filosofia maçônica estão carregados de relativismo.
Relativismo associado a algo negativo, lembrando o pó e o mofo de que estão carregadas as condenações da Igreja à nossa Ordem.
É aí que me pergunto: e qual é o problema com esta concepção de mundo?
Qual o problema com esta concepção de Verdade, seja ela divina ou não?
Confesso que não vejo argumentos razoáveis para condenar estas concepções.
Cada um é livre para escolher a sua visão da Verdade ou da verdade dos fatos.
Só um dogmatismo atroz, mofado e contrário a evolução do mundo poderia me afastar de tal liberdade.
A Maçonaria é relativista? Sim.
Nega a possibilidade de um conhecimento objetivo da Verdade? Sim.
Refuta os dogmas de qualquer espécie? Sim.
O conceito de G:.A:.D:.U:. é neutro e indefinido ? Sim.
Mas, muito mais importante, é que nossa Ordem respeita todas as convicções (religiosas ou não).
Muito mais importante é que a cada um de nós é ensinado que é sagrado o direito a livre investigação da Verdade.
A cada um de nós é dada a possibilidade de, através da meditação e do estudo, construirmos o nosso caminho de buscá-la, mesmo que esta seja, em última instância, inatingível, inacessível e enigmática.
Somente a busca e a construção deste caminho já serão suficientes para nos tornarmos mais justos e perfeitos.
Não podemos nos dar o direito de querer impor as nossas verdades.
O que nos cabe é ajudar aqueles que combatem e revoltam-se contra os sistemas paternalistas, tirânicos e arbitrários, que querem nos impor uma verdade imutável e estática, transformada em transcendental; e que, por isso mesmo, é enigmática e inacessível.
Cabe a nós, ainda, a eterna busca da Verdade. A leitura, a pesquisa, o espírito crítico; a filosofia e a História nos indicarão o caminho para alcançá-lo.
E se, para isso, tivermos que derrubar alguns dogmas, que estes sejam derrubados, ainda que somente em nossas consciências.
Bom dia meus irmãos buscadores da "VERDADE"...
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