A alimentação é uma daquelas áreas do conhecimento humano que é pouco valorizada. Talvez por ser tão elementar e por se tratar de uma ação mecânica do aparelho digestivo, acaba sendo realizada de forma automática.
Mas o que é a alimentação?
É o processo de ativação do nosso corpo interior – que é o templo do nosso espírito –,
por meio da ingestão de alimentos e que, por isso mesmo, deve merecer uma atenção adequada, pois é fundamental para a nossa saúde, que nasce e se fortalece exatamente pela qualidade dos ingredientes que ingerimos. E nem sempre é observada, sendo, muitas vezes, negligenciada.
Além, naturalmente da qualidade dos alimentos, a mastigação é parte fundamental do processo digestivo. Se não for bem observada, a boa digestão acaba comprometida, porque no nosso estômago não há dentes e a trituração dos alimentos só pode ser feita na boca. É nela que começa o conjunto de transformações que os alimentos sofrem ao longo do sistema digestivo para se converterem em compostos menores a serem absorvidos e utilizados pelo organismo.
Há inclusive aquela máxima, “Beber os sólidos e mastigar os líquidos”, que precisa ser entendida para ser praticada com proveito.
O ambiente de pressa e correria de nossa sociedade criou um meio propício à obesidade, pois acabamos engolindo o alimento aos pedaços. E a mastigação exerce papel importante no controle desse problema.
Quando a mastigação passar a obedecer a um ato consciente e constante, as células do estômago e do aparelho digestivo naturalmente se sentirão respeitadas e agradecerão, porque esse ato será considerado como um ato de amor e de integração ao organismo.
Como dizia Persius, poeta italiano nascido na aldeia etrusca de Volterra no primeiro século da era cristã, em suas sátiras: “Magister artis ingenique largitor venter”, ou seja, “O estômago, mestre das artes e distribuidor do gênio”.
A mastigação, na realidade, é apenas uma parte do processo alimentar. Existe outro fator que é fundamental: a qualidade dos alimentos que ingerimos.
Recentemente um médico brasileiro, o professor Carlos Augusto Monteiro, epidemiologista que dedicou a vida ao estudo da qualidade dos alimentos, elaborou um Guia Alimentar, aprovado pela ONU e aplaudido em todo o mundo científico de forma entusiástica, no qual classificou os alimentos de acordo com seu nível de processamento industrial. O Guia foi adotado pelo Ministério da Saúde em 2014. Pelo destaque de seu trabalho, mereceu uma extensa matéria na revista piauí.
Carlos Monteiro foi o primeiro médico a usar indicadores de saúde coletiva para propor um sistema organizado de classificação da alimentação. Ele classificou, então, os alimentos em quatro categorias:
Primeira – Chamados in natura ou minimamente processados, inclui alimentos que são consumidos como foram trazidos da natureza ou passam por pouca transformação até chegarem à mesa (frutas, verduras e legumes, grãos, milho, feijão, trigo, ovos, leite, peixes, carnes, frutas secas, castanhas).
Segunda – Ingredientes culinários processados. Óleos, gorduras, azeite, manteiga, sal ou açúcar, que devem ser usados com moderação para o preparo de culinária caseira. Conforme Monteiro declarou à piauí, “Se usados em pequenas quantidades, estão a serviço de hábitos alimentares tradicionais, agregadores de pessoas – e que não matam ninguém”
Terceira – Alimentos processados ou combinados com ingredientes para o preparo culinário, que inclui a segunda categoria. Em geral, são os itens que usamos para cozinhar em casa, como queijos, farinha, carnes secas, peixes conservados em óleo, legumes ou frutas em conserva, combinados com ingredientes in natura. Aqui entram os pães e bolos caseiros.
Quarta – alimentos ultra processados. São produtos que derivam do fracionamento agressivo de alimentos in natura e, depois, passam por sucessivos processos e adição de substâncias de uso industrial. Nesse rol estão refrigerantes, sucos com sabor de frutas, biscoitos recheados, lasanhas e pizzas congeladas, cereais matinais adoçados, iogurtes adoçados, salgadinhos em sacos plásticos, pães de forma, macarrões instantâneos e produtos de carne reconstituída (embutidos em geral).
Disso tudo, o professor Monteiro estabeleceu uma “regra de ouro”: prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados, e preparações culinárias a alimentos ultra processados. Concluindo que o problema não é a comida nem os nutrientes, mas sim, o processamento.
Como vemos, alimentação é coisa séria.
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