A rigor, ninguém passa pela vida para "estar" alguma coisa.
Muito pelo contrário, a pessoa experiencia uma vida com o claro propósito de "ser" alguma coisa.
Desde criança ouve-se a famigerada pergunta:
"...O que você quer *ser* quando crescer ?..."
Ou alguém já ouviu em sã consciência :
"...O que você quer *estar* quando crescer ?..."
Haverá aqueles que defenderão a tese de que o verbo "estar" pode ser perfeitamente substituto do verbo "ser", indicando a transitoriedade de uma situação, destituindo-se assim, o valor de uma conquista, de um alcance ou o inequívoco reconhecimento de um estado.
Fosse assim, e ninguém teria o direito de exercer uma atividade profissional para a qual a pessoa qualificou-se ou desempenhar um cargo para o qual foi indicada, contratada, eleita ou promovida.
Exemplos recorrentes:
"Eu não sou presidente. - Eu estou presidente."
"Eu não sou delegada. - Eu estou delegada"
Ainda neste plano surreal imagine a pessoa dizendo:
"Eu não sou médico.- Eu estou médico."
"Eu não sou advogado. - Eu estou advogado."
Faça-se aqui uma menção honrosa e distinta no caso da Maçonaria, em que cabe uma consideração muito instigante e particular, pois nenhum dos dois verbos, objetos deste nosso episódio merece um protagonismo por sí só.
Pois as premissas:
"Eu *sou* maçom" ou "Eu *estou* maçom" não se aplicam.
A Sublime Ordem tem como princípio que o Maçom seja "reconhecido como tal" entre seus pares.
Não raro, deparamo-nos aqui no Brasil, falantes da língua portuguesa, com as bizarrices lingüísticas acima citadas que exprimem não somente um verdadeiro desconhecimento do idioma, como também querem sugerir uma falsa idéia de modéstia ou de humildade, como se isto se traduzisse num magnânimo exemplo de desapego.
Cabe destacar que esse raquitismo interpretativo se protagoniza sobretudo nos casos envolvendo a 1a.pessoa do singular do modo Presente do Indicativo.
Ora, isso não é nada mais do que um modismo trivial de caráter político e protocolar, que no final das contas acaba esbarrando no terreno do non-sense.
Tal qual a recém intitulada "linguagem neutra" - particularmente aqui em nosso país, e de certo modo até estimulado pela mídia - o verbo *"ser"*, que se constitui no mais importante guardião, como espinha dorsal do idioma, tem se sujeitado a um papel coadjuvante num palco gramatical pleno de formas e cada vez mais raso de conteúdo.
É desta forma depauperada que textos e discursos vão deixando de ser propositivos, consistentes e densos em sua essência para ganharem contornos pseudo éticos com o mero propósito de agradar plateias amestradas.
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