junho 24, 2023

POESIA MATEMÁTICA - Millor Fernandes




Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base…

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.


Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela.

Até que se encontraram

No Infinito.


“Quem és tu?” indagou ele

Com ânsia radical.

“Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos.

Mas pode chamar-me Hipotenusa.”


E falando descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde

A alma irmãs

Primos-entre-si.


E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.


Escandalizaram os ortodoxos

das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.


Romperam convenções newtonianas

e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se.

Constituir um lar.

Mais que um lar,

Uma Perpendicular.


Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e

diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.


E casaram-se e tiveram

uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

se torna monotonia.


Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum…

Frequentador de Círculos Concêntricos

Viciosos.

Ofereceu, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.


Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo,

Uma Unidade.

Era o Triângulo,

chamado amoroso.

E desse problema, ela era a fracção

Mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a

Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade.

Como aliás, em qualquer

Sociedade.



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