setembro 06, 2023

A VOLTA DE DOM PEDRO - Adilson Zotovici

 


Em meio a soturnas imagens

Sob Sol sem brilho, poluído,

Com malcheiroso e entupido

Ipiranga, sem suas margens 


Há muito adormecido

Por uma obra do destino

Desperta alguém, repentino,

Um tanto ensandecido 


Indagou com ar genuíno

A aparvalhado assistente

Desse lugar tão diferente,

Que respondeu o cabotino: 


Creio bem conveniente

Desabalares em carreira,

Permaneceres aqui é besteira

Fantasiado de regente !


Não me digas tal asneira 

Explica-me pois, a razão

De tanta gente e confusão

Em volta daquela Bandeira 


Deve ser um arrastão 

E vais passando todo ouro

Se é que ainda tens tesouro

Pois como muitos, sou ladrão 


Ora vejam que desdouro...

Está por aí meu cavalo 

Se queres, podes levá-lo

Pois tem a força dum touro 


Ouças bem o que te falo

Aqui está tudo mudado

Teu cavalo foi trocado

Por uma “pedra”, num estalo


Tomes muito cuidado 

Roubam até um pangaré

Aprontam o maior banzé

Aqui é um inferno encantado 




Muito brava está a maré 

Vês que não tens qualquer jóia

Roubada quiçá por um nóia

Trocada por “pó” lá na Sé 


Vive-se uma paranóia 

Vândalos por toda cidade

Não há pois, autoridade,

O que vale...é a tramóia 


Acho melhor na verdade,

Entregar minha espada

Qual já foi tão honrada

Pra conseguir liberdade 


Com uma grande risada

O ladrão penalizado

Disse ao infeliz desvairado;

Não te sobraste mais nada !!


Dom Pedro escandalizado

Sem rumo, sem um norte,

Abominou sua sorte

De ali ter acordado 


Já entregue, brada forte;

Eu aqui não mais governo 

Melhor tornar ao sono eterno...

Com independência ou morte !



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