setembro 16, 2023

"COBRIR O TEMPLO" - Marco Antonio Perottoni


Vez por outra nos deparamos com termos no desenvolvimento dos trabalhos em Loja, que nos colocam a pensar de onde foram trazidos.

Encontramos em nossos Rituais de Aprendiz e Companheiro do Rito dos Maçons Livres Antigos e Aceitos - MLAA, no momento da transformação do grau da sessão, quando o Venerável Mestre determina que, Aprendizes ou Companheiros, se preparem para "cobrir temporariamente o templo, e assim determina para o Mestre de Cerimônias proceder. O mesmo acontece quando um Irmão solicita para se retirar e diz "peço permissão para cobrir o templo".

Este procedimento, até onde pude verificar consta dos rituais editados em 1945 e 1966.

O Dicionário Aurélio, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, traz 26 definições para "cobrir", dentre elas a que no momento nos interessa a de número 20, que define o vocábulo como "proteger, resguarda, defender". Em nenhuma das definições coloca como possível uma conceituação de "sair" de algum lugar, no nosso caso "sair do Templo".

No Dicionário de Maçonaria, de Joaquim Gervásio de Figueiredo temos duas definições, uma de "Cobertura do Templo", como sendo as precauções para preservar a Loja da intrusão de profanos, e "Cobrir o Templo", com quatro linhas: 1 – Fechar o Templo retirar-se da Loja em plena sessão; 2 – Manterem-se todos os oficiais ativos e vigilantes em seus postos; 3 - Sair da Loja; e 4 – Fazer um irmão cobrir o Templo: medida disciplinar.

Ainda encontramos em pesquisa na internet em Dicionário de Termos Maçônicos, cobrir o templo como expressão utilizada para: 1 - fechar o templo; e 2 - Para um maçom retirar-se da Loja em plena sessão, desde que por um motivo inadiável e grave.

Vemos que na língua pátria a definição se enquadra bem no que entendemos ser "cobrir", mas no "maçones" o significado tem dois sentidos, aplicados conforme a situação que utilizamos o vocábulo, ora como fechar o templo para preservá-lo das indiscrições profanas e ora como sair ou se retirar do templo.

Sempre ouvimos e acreditamos que o que fizemos em maçonaria são usos e costumes e se transmitem de boca a ouvido e esta forma de nos referir a retirada de um Irmão do templo como "cobrir o templo".

Sempre fui um conservador quanto à ritualística, mas, desta vez, me dobro ao posicionamento do Irmão José Castellani, já o Oriente Eterno, quando coloca, em resposta a um questionamento sobre saudação às Luzes: Em primeiro lugar, o Irmão não cobre o templo, mas, sim, tem o templo coberto. E quem cobre o templo a todos, por ordem do Venerável Mestre, é, evidentemente, o Cobridor. Ao ter o templo coberto, o obreiro se levanta, caminha para a porta do templo e, chegando a ela, volta-se para o Or.: e faz a saudação ao V.: M.:, complementando-a com a saudação aos VVig.:. Acenos de cabeça e curvaturas, são simples invenções de quem não tem o que fazer: templo maçônico não é tatami de judô.

No meu entendimento é coerente este posicionamento, pois ter o templo "a coberto" é estando fora do mesmo que estará "coberto" pelo Cobridor Externo e Interno, ou como, acredito, a maioria das Lojas usam, pelo Cobridor Interno.

Portanto sou de opinião que devemos distinguir em nossa ritualística "cobrir o templo" e "ter o templo coberto".

"Cobrir o templo" é fechar, o mesmo para protegê-lo das indiscrições do mundo profano; e "ter o templo coberto" é solicitar para se retirar ou retira-se por determinação do Venerável Mestre.

Portanto para nos retirarmos do templo a solicitação ao Vigilante da respectiva coluna seria, o deveria ser, "peço permissão para ter o templo coberto" a que o Vigilante transmite ao Venerável Mestre nos mesmos termos.

Não tenho a intenção de esgotar o tema, mas é um bom ponto para uma fraterna discussão.

2 comentários:

  1. Uma boa aula do Mestre PEROTTONI ..
    Grato por compartilhar

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  2. ilustre Ir. Perottoni. Muito agradecido pela sua analogia e explicações, algumas Ritualisticas (Potencia/Rito) ja estão atualizando, "durante a saída do Templo a saudação às Luzes somente será feita se a retirada for definitiva" e "não se faz inclinação com o corpo e nem meneios com a cabeça".

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